Disco: “Nature Noir”, Crystal Stilts

/ Por: Cleber Facchi 09/08/2013

Crystal Stilts
Post-Punk/Garage Rock/Lo-Fi
http://www.crystalstilts.com/

 

Por: Cleber Facchi

Crystal Stilts

As trevas dançam pela obra do Crystal Stilts. Verdadeiros artesões no manuseio de vozes e sons consumidos pela sombra, a banda nova-iorquina chega ao terceiro registro da carreira em um exercício de plena compreensão sobre a própria obra. Continuação segura no que foi apresentado em Alight of Night (2008) e In Love With Oblivion (2011), em Nature Noir (2013, Slumberland) a banda comandada pelos vocais de Brad Hargett reforça a já clássica relação entre o Garage Rock e o Pós-Punk, estabelecendo em um cenário criativo de dez composições, um ponto de continuidade e ainda assim descoberta no que tange as próprias regras.

Visivelmente mais brando em relação aos inventos prévios da banda, o novo álbum assume na velha relação com o rock soturno um princípio de rumo para cada inédita composição. Como se orientado “em marcha lenta”, o trabalho desacelera os acordes velozes e a relação com o rock clássico que tanto impulsionou o disco passado para que o grupo se concentre nos detalhes. São composições como Star Crawl e Memory Room, que encontram em solos cuidadosos e bases ambientais quase límpidas, uma ponte para a novidade sobre o registro. Uma obra que até se concentra em resgatar referências clássicas da banda, mas que apontam para um novo resultado.

Lembrando uma versão menos esquizofrênica e até mais detalhista daquilo que Alex Zhang Hungtai alcançou com o novo álbum do Dirty Beaches, Drifters/Love Is The Devil (2013), Nature Noir cresce em uma medida de provocação e autocontrole. Como o título entrega, todas as canções do disco são naturalmente enquadradas em um universo em preto e branco, noturno, marca que acompanha a banda desde o primeiro álbum, mas parece melhor compreendida agora. Por conta dessa maior exposição sombria, não é difícil se encontrar com músicas consumidas pelo detalhamento atmosférico dos sons e vozes, exercício apresentado com atenção em canções como Phases Forever e Memory Room, possivelmente a faixa mais cuidadosa já feita pelo grupo.

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Ainda que o enquadramento dado ao registro seja outro, não é difícil passear pela obra e se deparar com faixas mais aceleradas, típicas dos dois primeiros discos. Enquanto músicas ao estilo de Future Folklore se relacionam diretamente com os sons tratados na década de 1960 – um misto de The Velvet Underground e Elvis -, outras como Sticks and Stones revelam o que parece ser o lado “pop” do grupo. Com Hargett longe da atmosfera sombria e arrastada das primeiras canções, a faixa cresce em um acerto melódico, princípio para o que se resolve em Worlds Gone Weird e na quase ensolarada Darken The Door.

Em meio a esse jogo de transições e buscas por novos horizontes, para o eixo final da obra a banda ainda revela algumas surpresas. É o caso de Electrons Rising, música que mesmo enquadrada dentro do ambiente sombrio do grupo, traz no manuseio das guitarras um curioso potencial psicodélico, efeito ampliado na voz flutuante do vocalista. Entretanto, é na faixa título e na canção de encerramento, Phases Forever, que a banda surpreende. Delicadas, as canções se derramam em sons acolhedores, próximos do Chamber Pop em determinados instantes, como um aviso do que pode vir a abastecer o trabalho dos nova-iorquinos em pouco tempo.

Completamente distante e naturalmente resolvido em relação aos sons propostos em Radiant Door EP (2011), Nature Noir traz de volta o trabalho do Crystal Stilts para dentro dos limites naturais da banda. Mesmo que o álbum pareça distante de qualquer transformação brusca ou possível curva evolutiva, há no jogo bem resolvido de sons e temas que preenchem o disco um equilíbrio e visível maturidade. Prova de que muitas vez basta saber como lidar com o básico para que floresça a novidade.

Crystal Stilts

Nature Noir (2013, Slumberland)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Dirty Beaches, Frankie Rose e Ty Segall
Ouça: Star Crawl, Sticks and Stones e Phases Forever

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.