Drake
Hip-Hop/Rap/R&B
http://www.drakeofficial.com/
Por: Cleber Facchi
Um passo firme em Thank Me Later (2010) e Drake chegaria ao topo sem grandes dificuldades – lado a lado com gigantes do Hip-Hop. Na contramão do que sobrevive de carreiras e talvez absorva décadas de experiência em prol de consolidação, nas mãos do canadense precisou de apenas meses para romper com o parcial desconhecimento do grande público até alcançar a ascensão evidente. Resultado potencializado pela escada dourada de Take Care (2011) e a coroa que flutua com nítido louvor desde a chegada do primeiro disco, o rapper sustenta com o terceiro registro solo, Nothing Was the Same (2013), um exercício de olhar para o passado, soterrar os próprios erros e contabilizar os acertos – sejam eles em cifras ou em maturidade.
Assumidamente distante do R&B volumoso que se estabeleceu com presença no último disco, Drake foge das melodias e tramas comerciais (como as de Headlines e Make Me Proud) para desenvolver uma obra econômica, apenas dele e quase inacessível. Com um time menor de produtores e convidados, o canadense finaliza todas as canções da obra dentro de um cenário de composição reclusa, como se todas rimas, versos e até mesmo emanações sonoras do álbum fossem apontadas apenas para ele. Se Take Care era uma obra motivada pela manifestação cega de seu criador em chegar ao topo, ampliando batidas, versos melódicos e sons em teor de grandeza, com o novo disco o rapper troca os exageros pela calmaria e certa dose de reflexão – mesmo que seja sobre si próprio.
“Os caras contam histórias sobre mim/ Dizem que eu nunca lutei, nunca passei fome, eu duvido/ Eu posso transformar seu garoto em um homem“, entrega o rapper em Started From The Bottom, uma das muitas faixas que tentam aproximar a presente figura soberana de um personagem quase desfavorecido. Em uma tentativa visível de recriar um passado humilde, um dos eixos principais da recente obra, Drake inicia um processo de potencialização de um vencedor, alguém que saiu das periferias e hoje está no topo. Motivacional, ou não, a proposta, longe de possíveis redundâncias ou do teor de auto-ajuda que esse tipo de registro manifesta, assertivamente distancia o rapper do lado kanyewestiano exposto no álbum passado para embarcar na verve política/empática de Jay-Z. Drake, ao contrário dos dois primeiros discos, realmente parece ter algo a dizer.
Focado inteiramente na construção das rimas, Nothing Was the Same é um trabalho que praticamente se esquiva do canto falseado de outrora, cortando as overdoses de autotune dos dois primeiros discos para revelar a figura de Drake em totalidade. O distanciamento das melodias talvez assuste quem busca por um novo arrasa-quarteirões tal qual Take Care parece alicerçado. Com exceção de Hold On, We’re Going Home e Furthest Thing, poucas canções do álbum parecem realmente marcadas pelo teor “comercial”, o que, pela primeira vez, ameniza o rapper em um cardápio magro, livre de excessos e acertos garantidos. São “apenas” 13 canções (o último disco carregava 18 faixas), músicas ambientadas de forma coesa em um território homogêneo, como se a cada canção Drake construísse o cenário exato para a chegada das faixas seguintes.
Em um sentido visível de enclausuramento, mesmo as bases musicais que recheiam a obra parecem desenvolvidas em um efeito de controle constante. Fabricado quase inteiramente em estúdio, aos comandos de um time fechado de produtores, o disco foge do apelo claro dos samples – são raros -, para que todo o álbum seja apresentado em uma massa unica de sons. A medida potencializa o caráter de unidade que se esparrama pelos versos, evitando que o rapper tropece nos mesmos excessos que prejudicam sua obra desde a chegada de Thank Me Later. Embora o efeito amenize o registro em um mesmo cenário lírico-musical, não é difícil pescar canções tratadas com leveza e melodias plásticas. É o caso de Too Much, música que praticamente transforma o britânico Sampha em um sample orgânico, ou mesmo Furthest Thing, música assumida individualmente por Drake e que se manifesta como uma extensão menos óbvia do R&B/Rap do primeiro álbum.
De natureza específica, Nothing Was The Same praticamente exclui a presença dos (poucos) convidados instalados pela obra. Tanto a cantora Jhené Aiko, em From Time, quanto Jay-Z, em Pound Cake/Paris Morton Music 2, parecem passar despercebidos. Trata-se de uma obra inteiramente sobre Drake e sobre como as coisas se comportam em volta dele. Curioso que ao brindar o ouvinte com uma obra tão particular, pessoal em essência, o canadense tenha conquistado um registro de alcance amplo, como se do topo onde hoje está sentado, o rapper tivesse uma visão privilegiada sobre o todo.
Nothing Was The Same (2013, Cash Money/Young Money/Universal Republic)
Nota: 8.5
Para quem gosta de: Kanye West, Jay-Z e Kendrick Lammar
Ouça: Furthest Thing, Started From The Bottom e Too Much
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.