Disco: “O Último Carnaval de Nossas Vidas”, A Espetacular Charanga do França

/ Por: Cleber Facchi 11/01/2016

A Espetacular Charanga do França
Nacional/Samba/Marchinha
http://thiagofrancaoficial.blogspot.com.br/

 

Foto: Daryan Dornelles

A lírica bem-humorada e o ritmo quente tomam conta de O Último Carnaval de Nossas Vidas (2016, Independente). Aos comandos do saxofonista Thiago França, um time de letristas, músicos e colaboradores da cena paulistana se organizam para puxar o bloco d’A Espetacular Charanga do França, um misto de coletivo e bloco carnavalesco orientado pelo músico a desfilar pelo bairro de Santa Cecília, região central de São Paulo.

No time de colaboradores responsáveis pelos arranjos da presente obra, nomes como Allan Abbadia (trombone), Amílcar Rodrigues (trompete e flugelhorn), Anderson Quevedo (sax barítono e flauta), Filipe Nader (tuba), Wellington Pimpa Moreira (bateria e agogô) e Samba Sam (surdo). Nos vocais, parceiros de longa data do saxofonista, caso de Juçara Marçal, Tulipa Ruiz, Romulo Fróes, Rodrigo Campos, Maria Beraldo Bastos, Samba Sam, Caê Rolfsen e Rafa Barreto.

Curva brusca em relação aos últimos trabalhos assinados por França – Sambanzo, Marginals, Metá Metá ou como “muso” do Passo Torto -, cada faixa do presente disco se orienta como um cômico retrato do cotidiano em qualquer centro urbano. Temas como gourmetização, o universo das academias, separação, boa forma, sexo e redes sociais. Um estímulo para o catálogo faixas que preenchem o interior da obra e atualizam o repertório de velhas marchinhas.

Seu sofá retrô de frente pra tevê / É costumizado / Faz um fitness irado, profissional / Localizado… Se vai pra cozinha, é moderninha / Gourmetizada / Prepara um limão detox, pinta o seu botox / E vai pra balada”, entrega o coletivo na satírica Gourmetizada, um retrato provocativo da elite-hipster-paulistana, mas que instantaneamente convida o ouvinte a dançar. Outras como Marchinha do pitbull (homo pitbullicus) e Cara do Apetite brincam com o mesmo conceito, incorporando referencias culturais, sociais e econômicos recentes em uma linguagem bem-humorada.

Mesmo dentro desse ambiente essencialmente festivo, França e o imenso time de convidados criam pequenas brechas sensíveis e curiosas no interior da obra. Faixas como O bom marido, uma típica canção de Rodrigo Campos, com seus personagens e histórias isoladas. Outro destaque é a delicada Adeus saudade. Aos comandos de Romulo Fróes, a canção de versos fortes – “Adeus saudade / Até mais tarde / Felicidade / Agora é quem vai mandar” – funciona como uma espécie de respiro no meio da avalanche de marchinhas que orientam o disco até os instantes finais.

Gravado em outubro de 2015 no Red Bull Station, em São Paulo, O Último Carnaval de Nossas Vidas se projeta como uma obra versátil. Um trabalho de composição nostálgica, íntimo do mesmo universo e conceitos também explorados nos registros do coletivo carioca Orquestra Imperial – Carnaval Só Ano Que Vem (2007) e Fazendo As Pazes Com o Swing (2012) -, mas que sustenta nos versos um assertivo diálogo com o presente.

 

O Último Carnaval de Nossas Vidas (2016, Independente)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Orquestra Imperial, Sambanzo e Metá Metá
Ouça: Gourmetizado, Adeus Saudade e Marchinha do pitbull (homo pitbullicus)

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.