Austra
Electronic/Dark Wave/Female Vocalists
http://www.austramusic.com/
Lançado em setembro de 1985, Hounds of Love, quinto registro em estúdio da britânica Kate Bush contou com boa repercussão em seu lançamento, porém, sempre foi mantido como um objeto de entendimento para uma parcela da crítica e uma legião de músicos devotos. Facilmente um dos álbuns mais influentes de toda a década de 1980, o disco serve como base para aquilo que Björk, Fiona Apple e tantas outras artistas recentes como Julianna Barwick, Grimes e Florence Welsh vêm desenvolvendo em seus próprios trabalhos. É justamente dentro desse mesmo universo que cresce Olympia (2013, Domino), segundo registro em estúdio do Austra e uma extensão presente do mesmo propósito musical da veterana.
Apresentado como o sucessor do também sombrio Feel It Break (2011), o novo álbum rompe com a agitação hermética do registro de estreia para dançar pela Dark Wave com leveza. Tendo nos vocais da líder Katie Stelmanis o principal elemento de toda a obra, cada acerto instrumental e lírico do disco cresce de forma a circundar as vozes da artista. São composições volumosas, capazes de romper com o efeito simplista que alimentava Lose It, Spellwork e demais faixas do trabalho dentro de uma medida sombria e adulta. Em Olympia o Austra busca pela grandeza, e encontra.
De atuação ao vivo convincente – quem viu a passagem da banda pelo Sónar São Paulo em 2012 acabou surpreso -, o trio encontra no novo álbum uma medida exata entre a precisão das canções de estúdio e doses catárticas que funcionam bem no palco. Dessa forma, tanto os vocais de Stelmanis como a instrumentação mezzo eletrônica, mezzo orgânica crescem em uma fluidez eficacíssima. Construído em efeito crescente, o registro trata cada composição como um ato dramático, preparando o terreno com sobriedade, expandindo os elementos com controle, até que as vozes e sons cresçam de forma a envolver o espectador sem qualquer dificuldade.
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Ainda que o registro não concentre o mesmo cardápio de hits estabelecidos há dois anos, o detalhismo que abastece cada faixa surpreende em uma medida maior. Exemplo desse mesmo propósito é visto logo na abertura do álbum. Carregada por versos dolorosos – perfeitos para as vozes grandiosas de Stelmanis -, Forgive Me e Painful Like vão até o meio da década de 1980, resgatam elementos sombrios do Synthpop, efeitos dramáticos do pós-punk e até de arranjos operísticos para crescer em uma medida natural e atrativa. Até efeitos similares aos que foram propostos pelo Fever Ray em 2009 aparecem vez ou outra, ambientando o registro de forma involuntária no presente.
Entretanto, é a partir de Home que o disco realmente se revela. À medida que as vozes da cantora crescem em uma medida autêntica, a instrumentação acaba inevitavelmente fugindo do comum, logo, esbarrando em pequenos acertos experimentais. We Become, por exemplo, encontra na percussão não convencional uma evolução daquilo que fora sustentado em Feel It Break, abrindo espaço para que pequenos relances de música pop cresçam em Reconcile e Annie (Oh Muse, You). Até a pequena I Don’t Care (I’m A Man), com pouco mais de um minuto, parece essencial para o disco, favorecendo um respiro natural para o meio final da obra.
Embora grandioso, Olympia não esconde a timidez instrumental em alguns aspectos, o que naturalmente transforma o novo disco do Austra em uma obra “menor”. Ainda que o trio original – completo com Maya Postepski e Dorian Wolf – seja capaz de expandir o universo inicial da banda durante todo o registro, o alinhamento concentrado em sintetizadores e bateria eletrônica impossibilita que o disco se desenvolva além do básico. Faltam complementos e sons que parecem capazes de brotar a todo o instante, mas que nunca chegam. Contudo, ao fechar a obra com dinamismo e boas composições, mesmo as ausências passam despercebido, provando que crescer é um processo lento, porém criativo para a banda.
Olympia (2013, Domino)
Nota: 7.6
Para quem gosta de: Bat For Lashes, The Knife e Kate Bush
Ouça: Home e Painful Like
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.