Disco: “Rise Again”, Lee “Scratch” Perry

/ Por: Cleber Facchi 14/05/2011

Lee “Scratch” Perry
Dub/Reggae/Rocksteady
http://www.myspace.com/leescratchperry

 

Por: Fernanda Blammer

Escondido em meio a frascos, pequenas chamas, símbolos fantásticos e produtos químicos sendo destilados, o alquimista do Dub Lee “Scratch” Perry está de volta, para mais uma aula sobre misticismo e resoluções mágicas voltadas à música. Com sua mais recente pedra filosofal, o grande sábio da música jamaicana revela os motivos de sua arte ser louvada e seguida por inúmeros ao redor do globo. Entre doses de reverberações, rocksteady e reggae, o músico cerca-se de grandes nomes da música atual como quem convida seus discípulos para uma execução de truques mágicos aos olhos do grande público.

Se o envelhecimento no meio musical em boa parte das vezes revela artistas senis e que em nada se assemelham ao que um dia foram no passado, o mesmo não vale para o bom e velho Perry. Com 75 anos de idade (e mais de 40 anos de carreira), o artista faz jus ao título de seu novo álbum – Rise Again (2011) – e ressurge como uma lenda viva de um estilo que ajudou a desenvolver. Em 11 faixas, Lee canta, toca e comanda com sapiência seus convidados – Entre eles Tunde Adebimpe do TV On The Radio, Gigi Shibabaw, Hawkman do Method Of Defiance e Bernie Worrell do Parliament e Funkadelic.

Quem pensa que os anos de vivência transformariam o sempre defensor da maconha em alguém “careta”, com o novo álbum o velho representante da causa se entrega ainda mais em suas sonoridades chapadas e repletas de sons densos, enfumaçados e carregados pela lisergia. Só para se ter uma ideia, a faixa de abertura chama-se “Higher Level”. Perry continua tão intenso quanto fora em meados dos anos 60, através de trabalhos como clássico The Upsetter (1969), mantendo as mesmas tonalidades do passado, e se aventurando na criação de novas frequências, como as que são encontradas na “futurística” E.T.

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Assim como o veterano Gil Scott-Heron deixou uma série de novatos comendo poeira em 2010, dessa vez é o músico jamaicano que vem com toda sua calma e simpatia ensinar aos jovens compositores o que é fazer boa música. A força do trabalho, entretanto, não fica apenas centrada nas mãos do velho mestre, que convida dois de seus melhores discípulos para que o ajudem em sua nova empreitada. Grande parte da responsabilidade de Rise Again fica por conta do músico e produtor Bill Laswell, que junto de Josh Werner (que já trabalhou com RZA, Wu-Tang Clan e Cocorosie) dão acabamento e assumem os arranjos do álbum.

Dessa forma, Perry consegue reproduzir um disco ao mesmo tempo viajado, porém conciso. As fortes linhas de baixo, os naipes de metal e os teclados caricatos estão espalhados por todo o registro, assim como os vocais repletos de delay que pontuam cada uma das faixas, a diferença está na forma centrada com que o álbum é desenvolvido. É como se o tempo todo o disco ficasse entre o chão e o céu, sempre o musico começa a flutuar demais, a dupla de produtores o traz de volta, evitando que experimentações desnecessárias ou trechos excessivamente prolongados sejam encontrados, ampliando a funcionalidade do trabalho.

Embora seja um trabalho mais “preso”, Rise Again ainda conta com boas doses de viagens quase etéreas, típicas das que só o sábio Perry sabe proporcionar. Basta mergulhar em pérolas como Butterfly (de longe a mais viajada do disco) e Higher Level só para entender do que se trata o novo disco. Talvez o maior destaque dentro do recente álbum do jamaicano esteja já criação de um som mais universalizado, como se o disco pudesse ser apreciado pelos mais diferentes grupos de apreciadores, soando totalmente inespecífico ou limitados aos nichos. Apenas mais uma prova de que a magia do alquimista, quando bem aplicada, sabe ser estendida a todos os meios.

Rise Again (2011)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: The Upsetters, Mad Professor e Buguinha Dub
Ouça: Scratch Message

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.