Perfect Pussy
Punk/Noise/Indie Rock
http://prrfectpussy.bandcamp.com/
Por: Cleber Facchi
Pouco mais de 23 minutos de duração, este é o tempo necessário para que o grupo norte-americano Perfect Pussy possa dar vazão aos sons caóticos que imperam em Say Yes To Love (2014, Captured Tracks). Abraçando o Punk “Alternativo” do Hüsker Dü, na década de 1980, mas sem fugir das melodias que guiaram o Sleater-Kinney e outros grupos próximos até o começo dos anos 2000, o quinteto de Syracuse, Nova York tranca o ouvinte em uma sequência de riffs crus e vozes essencialmente berradas. Um ambiente de desordem, mas que serve como ferramenta básica para o universo em plena desconstrução do grupo.
Com a desesperada Meredith Graves à frente dos vocais, Ray McAndrew (guitarra), Garrett Koloski (bateria), Greg Ambler (baixo) e Shaun Sutkus (sintetizadores) promovem um registro em que tudo parece fugir ao controle do espectador (e deles próprios). Vozes que batem desgovernadas nos acordes sujos, sintetizadores que edificam verdadeiros monumentos do noise pop e toda uma sequência de músicas que apostam na urgência sem qualquer chance de equilíbrio. A ordem aqui é perturbar, e qualquer tentativa de conforto é soterrada por avalanches anárquicas de distorção.
Caseiro, Say Yes To Love logo assume na inaugural Driver um senso de direção para o trabalho – pelo menos até a primeira metade do projeto. São acordes emergenciais, distorções guiadas pela voz intensa de Graves e uma colagem de gêneros que aos poucos firmam um curioso senso estético para a banda. Espécie de resposta ao que o Punk europeu trouxe com Iceage, Eagulls e, em menor escala, com as garotas do Savages, o disco implica na crueza íntima do hardcore e no distanciamento do Pós-Punk um ponto de originalidade. Diálogos com a cena californiana dos anos 1980, um explícito teor Lo-Fi (típico do Indie Rock de 1990) e todo um catálogo de pequenas esquizofrenias. Décadas de ruídos traduzidas em minutos.
Mesmo a imposição demasiado suja do trabalho, em nenhum momento serve como um possível bloqueio para o ouvinte médio. Pelo contrário, bastam os acordes nostálgicos de Big Stars ou a leveza emergencial de Dig para perceber como o quinteto aos poucos hipnotiza o ouvinte passageiro. Dentro do cenário claustrofóbico que cresce com a primeira faixa, acordes melódicos e vozes íntimas do espectador promovem um inevitável senso de aceitação. Uma furtividade que pula a calmaria de qualquer obra tradicional da (presente) cena alternativa e logo surpreende o público por meio da inquietação.
Enquadrado como um registro ao vivo, a estreia do Perfect Pussy é um trabalho que se esquiva de quaisquer detalhes, afinal precisa apenas existir. Enquanto a metade inicial do disco – Driver, Bells, Big Stars e Work – se materializa como um bloco único de experiências, intercalando batidas velozes com guitarras urgentes, a partir de Interference Fits, o “cuidado” e o experimento ditam as regras para o grupo. São instantes brandos de leveza, mas que logo abraçam pequenas overdoses de distorção. Um salto para o esforço do Sonic Youth na década de 1980, sem necessariamente fugir das imposições emergenciais do quinteto.
Na contramão de uma sequência de projetos recentes, grande parte deles interessados em revisitar o rock dos anos 1990, Say Yes To Love é um trabalho que busca apenas pelo experimento, sem ordem, gênero ou tendência aparente. Bastam os minutos de “silêncio” em Advance Upon the Real, ou a completa mudança de rumo na curtinha Bells, para perceber como funciona o alinhamento excêntrico do grupo. Um registro que está longe de estabelecer conforto e busca apenas perturbar o espectador durante todo o tempo.
Say Yes To Love (2014, Captured Tracks)
Nota: 8.5
Para quem gosta de: Parquet Courts, METZ e Iceage,
Ouça: Bells, Big Stars e Interference Fits
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.