Disco: “Seasons of Your Day”, Mazzy Star

/ Por: Cleber Facchi 23/09/2013

Mazzy Star
Dream Pop/Indie/Alternative
https://www.facebook.com/MazzyStarOfficial

Por: Cleber Facchi

Mazzy Star

No começo da década de 1990, a expansão do Rock Alternativo e o posterior fenômeno iniciado pelo Nirvana levaram diversas gravadoras e selos independente à caça. Todos queriam ter seu próprio exemplar desse novo universo musical que estava nascendo, efeito que fez a britânica Rough Trade (gravadora que apresentou os Smiths) e a norte-americana Capitol a investirem pesado no trabalho da dupla californiana Mazzy Star. Vieram assim os adoráveis She Hangs Brightly (1990) e So Tonight That I Might See (1993), obras que mesmo sob baixa repercussão do público e da crítica serviram para alicerçar a proposta de Hope Sandoval e David Roback, eixo do Dream Pop que só viria a ser compreendido em totalidade anos mais tarde.

Passados 17 anos desde que o duo apresentou ao público o último grande exemplar em estúdio, Among My Swan, de 1996, Sandoval e Roback voltam a se encontrar, favorecendo não apenas uma sequência nostálgica dos registros previamente expostos, mas possivelmente a melhor obra do Mazzy Star até aqui. De onde a dupla parou há quase duas décadas nasce Seasons of Your Day (2013, Rhymes of An Hour), obra que revive com delicadeza sensações esquecidas dentro do cenário alternativo, ameniza com maturidade a lírica melancólica da dupla e conduz o espectador por mais um passeio sombrio, idêntico ao exercício iniciado pelo casal no fechamento da década de 1980.

Mais do que assumir a difícil tarefa de reposicionar o duo californiano no cenário atual, com o novo disco o Mazzy Star bate de frente com uma série de outros projetos nascidos da própria essência. Afinal, teria o casal a capacidade de confrontar o trabalho de “novos gigantes” à exemplo de Beach House, Cults e Lotus Plaza? Artistas visivelmente abastecidos pelos mesmos princípios do casal, mas que conseguiram ir além dos próprios limites da dupla de Santa Mônica? A julgar pelo posicionamento compacto dos arranjos, vozes e sons, o recolhimento, assim como em idos dos anos 1990, parece ser a principal aposta do casal, que ao estabelecer um reinado musical próprio e intencionalmente tímido não rivaliza e nem esbarra nas composições de ninguém.

Com ares de obra acústica, Seasons of Your Day é um trabalho que talvez passe despercebido para quem apreciar o álbum com pressa. Diluído em um efeito econômico, em que vozes e instrumentos fazem de tudo para se comportar ao longo da obra, o álbum não apenas exige tempo, como é a chave para entender a proposta que há mais de duas décadas orienta a estética do casal. Assim como So Tonight That I Might See levou anos até ser redescoberto e estabelecido como obra essencial, com o presente disco não é diferente. Produzido em uma medida de tempo que parece conhecida apenas pela dupla, o registro espalha vozes, sintetizadores e acordes tímidos de guitarra com suavidade preguiçosa. É como se o duo praticamente obrigasse ao ouvinte regressar inúmeras vezes ao trabalho, como se em cada audição um novo detalhe fosse apresentado.

Ainda que o tempo e a extensa execução do registro sejam a chave para compreender a proposta do casal, pela primeira vez em duas décadas a dupla parece construir um álbum que sustenta respostas ou que soa parcialmente acessível logo nas primeiras audições. Da leveza que se instala em In The Kingdom, na abertura do disco, ao florescer melancólico que passeia por Does Someone Have Your Baby Now e Common Burn, típicas composições dos anos 1990, parte substancial do registro favorece a construção de melodias harmônicas, íntimas do ouvinte, como se o cercado particular da dupla fornecesse diversas brechas.

Talvez “limitado” para a nova geração de ouvintes, fascinados pelas cores que adornam a obra de Youth Lagoon, Braids e demais projetos acima citados, Seasons of Your Day se apresenta como um tratado essencial para àqueles que se dizem interessados pelas emanações letárgicas do Dream Pop. Claro que para quem já está acostumado ao fenômeno de obras volumosas como Halcyon Digest (2010) e Bloom (2011) a simplicidade do Mazzy Star custa até formalizar qualquer interesse maior, entretanto, uma vez embriagado pelas guitarras lentas e vozes mágicas de Hope Sandoval, escapar dos domínios expostos pelo casal parece simplesmente impossível. Se a dupla pede do ouvinte um pouquinho mais de tempo, aceitar essa condição talvez se transforma em um ganho certo – principalmente para o ouvinte.

 

Mazzy Star

Seasons of Your Day (2013, Rhymes of An Hour)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Galaxi 500, Beach House e Hope Sandoval
Ouça: In The Kingdom, Common Burn e California

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.