Disco: “Shulamith”, Poliça

/ Por: Cleber Facchi 31/10/2013

Poliça
Indie/R&B/Electronic
http://thisispolica.com/

Por: Fernanda Blammer

Poliça

A julgar pelo manuseio tímido das harmonias em Give You the Ghost (2012), talvez o futuro mais “exato” para a banda norte-americana Poliça fosse o uso de sons cada vez mais leves e íntimos do R&B. O cuidado em relação aos vocais de Channy Leaneagh, o uso cada vez mais atmosférico dos sintetizadores e o efeito climático iniciado em todo o debut davam a entender que os rumos da banda de Minneapolis, Minnesota apontavam para um cenário de natureza sombria. Um encaminhamento cada vez mais recluso como Wandering Star e outras faixas do eixo final do disco deram conta de assumir. Ledo engano.

Ainda que o uso dos efeitos eletrônicos e a presença cada vez mais detalhada das vozes seja um propósito explícito na estética do grupo, ao alcançar Shulamith (2013, Mom + Pop), segundo registro em estúdio, todos os esforços do coletivo apontam para uma nova direção. Passeio atento pelo pop da década de 1980, o disco funde as emanações típicas do Synthpop com traços de R&B, soul, rock e até uma dose leve de Trip Hop. Quem esperava por um possível estágio de conforto, vai ver que nas mãos do grupo a mudança brusca parece ser mais do que uma escolha, mas uma condição.

Inaugurado pelo fluxo crescente de Chain My Name, Shulamith faz de cada faixa uma continuação e ao mesmo tempo uma brusca quebra em relação ao primeiro disco. Cercada pelos sintetizadores, Leaneagh agora aparece em uma versão robótica de si própria, tendo os vocais encobertos em (quase) totalidade pelo uso de autotune e outros efeitos eletrônicos distribuídos sem qualquer parcimônia. É como se a mesma banda apresentada no último ano fosse conceitualmente reformulada, como se o mesmo jogo de canções expostas em Give You the Ghost fluíssem em um remix continuo, resultado da maior imposição de Ryan Olson como produtor do disco.

Dividido entre instantes de grandeza explícita e doses controladas de sons intimistas, o álbum, longe de observar cada faixa de maneira isolada, assume um fluxo bipolar em essência. Enquanto o debut apostava na linearidade e na composição homogênea de cada música, tão logo tem início o novo disco se perde em um ondulado seguro, indo do controle à expansão em instantes. Ainda que a faixa de abertura identifique isso com acerto, é a partir de Smug que o disco ganha reforço. São vozes e sons que sobem e se acomodam com naturalidade, resultado que ao alcançar Very Cruel e Tiff (parceria com Justin Vernon) revela a melhor forma do disco.

Por conta da manta eletrônica que se estende cuidadosa por todo o disco, Shulamith, mais do que o resultado exposto no debut, é um trabalho em que as pequenas nuances e detalhes parecem feitas para capturar o ouvinte. Basta observar a composição da melancólica Warrior Lord, música que espalha vozes e sons em uma arquitetura preguiçosa, como se o doses específicas de reverberações fossem aos poucos entregues. Até quando a banda aposta em um resultado mais “veloz”, caso de Trippin’ e Matty, a arquitetura dual de cada faixa obriga a completa fragmentação dos arranjos, seduzindo o ouvinte com parcimônia.

O vasto jogo de interferências que orientam o disco naturalmente garantem ao grupo a possibilidade de construir um catálogo enorme de hits. Em relação ao debut, cada música espalhada pela obra parece desenvolvida em um sentido explícito da grandeza melódica, como se mesmo nas faixas de encerramento da obra – caso de I Need $ e So Leave – houvesse a necessidade em manter o ouvinte atento, quase hipnotizado. Passo seguro para a carreira do Poliça, Shulamith flui em um efeito de surpresa, afinal, se em pouco menos de um ano o grupo conseguiu dar um salto significativo musicalmente, a expectativa para o que está por vir talvez seja ainda maior.

 

Shulamith

Shulamith (2013, Mom + Pop)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Austra, Volcano Choir e Glasser
Ouça: Tiff, Chain My Name e Warrior Lord

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.