Postiljonen
Swedish/Dream Pop/Indie
http://postiljonen.tumblr.com/
Por: Fernanda Blammer
Olhar para o passado sem necessariamente se fixar a ele, esta parece ser a premissa do trio sueco Postiljonen com o lançamento do primeiro registro em estúdio. Intitulado Skyer (2013, Hybris), o disco incorpora na construção de 10 faixas uma viagem assumida pela segunda metade década de 1980, trazendo no Dream Pop de bandas como Cocteau Twins e Kate Bush um princípio de novidade. Capaz de flertar com a eletrônica de forma atenta aos rumos experimentais que orientam a música recente, a banda firma no álbum uma estrutura coesa, delimitada com acerto da primeira até a última composição.
Com base em uma cartilha de sons particulares, o grupo brinca com as melodias de forma a transportar o ouvinte para um limite agradável entre o etéreo e o terreno. Rompendo de forma decidida com a estrutura de sintetizadores climáticos já desgastados dentro do gênero, o trio formado por Daniel Sjörs, Joel Nyström Holm e Mia Bøe encontra em uma fina tapeçaria eletrônica o mesmo teor de novidade que há mais de uma década alimenta as canções de M83. Uma aproximação visível, mas que da mesma forma que os sons conquistados nos anos 80, encontram identidade na música dos suecos.
Dividida entre variações instrumentais e encaixes límpidos, a voz de Mia Bøe parece trabalhada de forma a circundar os sons. Enquanto músicas como We Raise Our Hearts revelam uma porção minimalista dos vocais, como se tudo não passasse de um tímido acréscimo, em faixas como Help são eles que acabam guiando o trabalho do trio. Como se fosse um encontro entre a dupla canadense Purity Ring com as vocalizações firmadas pelo Cocteau Twins no clássico Heaven or Las Vegas (1990), a canção dá início ao bem aproveitado passeio pelo pelas melodias do pop, exercício que a banda desenvolve de forma ascendente pela obra.
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De esforço melancólico, o disco foge à regra no que orienta boa parte dos registros de mesmo gênero. Longe de soar como um novo Beach House ou um possível agrupado de bandas recentes que se entregam às lamúrias, o trio puxa pela instrumentação bem delineada um fio esperançoso. Exercício que mesmo nos instantes mais sombrios não tocam o fundo do poço. Exemplo disso está em Rivers e All That We Had Is Lost, músicas capazes de se entregar ao uso de versos esculpidos pela dor, mas que encontram na sonoridade um princípio de crescimento.
É justamente ao brincar com essa comunhão de sons melancólicos e dançantes que a banda reforça boa parte da segunda metade do disco. Lado mais expressivo do trio, o trabalho incorpora em músicas como Supreme uma relação de maior destaque com a eletrônica. Transformando os vocais de Bøe em uma nuvem tímida, a banda amplia a ordem dos sintetizadores e das batidas, encontrando na inclusão de um saxofone marcante um componente essencial, principalmente para a construção da faixa de encerramento, a ótima Atlantis.
Com postura de grupo veterano, o trio faz de cada instante em Skyer um ápice e ao mesmo tempo um princípio de novidade para qualquer invento que a banda possa apresentar futuramente. Utilizando de instrumentos, vozes e versos bem instalados em cada faixas, o disco parece encontrar um caminho oculto dentro do percurso quase tradicional do Dream Pop atual – em geral tingido por sons artesanais e de apelo Lo-Fi por grande parte das bandas iniciantes. Com identidade, o Postiljonen garante ao primeiro disco um processo linear e de percusso bem definido, resta saber o que vai guiar o grupo pelos próximos lançamentos.
Skyer (2013, Hybris)
Nota: 7.6
Para quem gosta de: M83, Cocteau Twins e Haerts
Ouça: Atlantis e We Raise Our Hearts
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.