CocoRosie
Expertimental/Electronic/Freak Folk
https://www.facebook.com/pages/CocoRosie/
Por: Cleber Facchi
A necessidade de experimentar sempre foi a maior ferramente de impulsão para o trabalho da dupla CocoRosie. Encabeçado pelas irmãs Bianca Leilani Casady (Coco) e Sierra Rosie Casady (Rosie), o projeto inicialmente concebido dentro da cena Freak Folk (que ocupou parte da música norte-americana e europeia no começo da década passada) sempre utilizou das transformações lírico-instrumentais como uma engrenagem para a construção de discos naturalmente inventivos. Trabalhos como os bem recebidos La Maison de Mon Reve (2004) e The Adventures of Ghosthorse and Stillborn (2007), registros capazes de acolher e ao mesmo tempo instigar o ouvinte graças ao uso intencionalmente exagerado de distintas texturas instrumentais.
Por se tratar de um projeto inteiramente alicerçado sob bases complexas, nada mais natural do que esperar que a dupla se mantivesse sempre dentro da mesma proposta aventureira, resultado parcialmente rompido durante o lançamento do inexpressivo Grey Oceans (2010). Quarto registro da carreira da dupla francesa, o álbum não apenas parece afastar as irmãs Casady da proposta assumida desde o primeiro álbum, como posiciona o duo em um cenário de exaltações convencionais, quase insossas. Um álbum tão fraco em relação aos projetos anteriores, que ao lançar o recente Tales Of A Grass Widow (2013, City Slang), a dupla parece confirmar o desprezo sobre a própria obra e deixar tudo para trás.
Como se continuassem exatamente de onde haviam parado em The Adventures of Ghosthorse and Stillborn, o novo disco deixa os elementos da música folk em um segundo plano, utilizando da eletrônica como a principal força que alimenta e orienta a formatação obra. Com as batidas em alta, resta às irmãs valorizarem o uso dos vocais e letras sempre metafóricas, resultando em uma composição contrastada e provavelmente o material mais radiofônico já alcançado pela dupla em mais de uma década de carreira. Doses pontuais de sintetizadores, uso assertivo de Beatbox e letras que se relacionam cuidadosamente com tudo o que a dupla já produziu definem os rumos daquela que talvez seja a maior obra da banda desde o lançamento do primeiro disco.
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De maneira segura, as influências e os direcionamentos que comandam o álbum permanecem os mesmos dos lançamentos passados. Por todos os lados vozes carregadas pelo drama identificam uma interpretação curiosa da boa fase de Kate Bush em Hounds Of Love (1985). Como um complemento natural, cruzamentos eletrônicos e semi-tribais brincam de forma criativa com a herança de Björk – principalmente o que foi acumulado a partir do álbum Post, de 1995. Referências agora acrescidas por uma dose de ineditismo capaz de lidar com a boa estrutura da nova música canadense, tornando o CocoRosie inevitavelmente próximo do que orienta o trabalho de Grimes, Purity Ring e outros interessados pelo frescor do pop etéreo.
Flutuando entre marcas específicas do passado e acertos acolhedores do presente, as irmãs trazem de volta o velho parceiro Antony Hegarty para dar vida a uma das melhores composições já lançadas em toda a carreira da banda: Tears For Animals. Colaborador no clássico Beautiful Boyz (do álbum Noah’s Ark, 2005), o líder do Antony and The Johnsons ainda surge na quase continuação Poison, servindo como um contraponto (necessário) para os vocais açucarados da dupla. Entretanto, é necessário perceber que a grandiosidade do disco vai além da parceria, marca bem instalada em Roots Of My Hair, na calmaria de Far Away ou nas batidas tropicais de End Of Time.
Mesmo que a complexidade dos sons direcione cada instante do novo álbum, Tales Of A Grass Widow é um registro que em nenhum momento peca pelo exagero, mantendo sempre o autocontrole. São canções que lidam com a experimentação (lírica e instrumental) de forma pacata, como se o universo construído pela dupla estivesse a ponto de desmanchar. Talvez em relação ao que atualmente predomina na música norte-americana recente o disco se manifeste “atrasado”, o que de forma alguma inviabiliza alguns bons momentos dentro da nuvem de sons confortáveis que a dupla assume como poucos.
Tales Of A Grass Widow (2013, City Slang)
Nota: 7.0
Para quem gosta de: Björk, Kate Bush e Antony and the Johnsons
Ouça: Tearz For Animals e Roots Of My Hair
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.