Disco: “This Is All Yours”, Alt-J

/ Por: Cleber Facchi 16/09/2014

Alt-J
British/Indie/Alternative
http://www.altjband.com/

Por: Cleber Facchi

Em um sentido oposto ao da homogenia ressaltada no começo dos anos 2000, durante a expansão do Revival Pós-Punk, nítida é a transformação imposta por todo um novo cercado de artistas que ocupam a cena inglesa. Coletivos como Everything Everything, Egyptian Hip Hop e Django Django; grupos motivados pelo mesmo “pop complexo” assinado por Foals, Wild Beasts e outros responsáveis pela transição de conceitos ainda na segunda metade da última década, mas que parecem em busca de um som cada vez mais particular.

Fruto explícito desse novo “movimento”, o grupo de Leeds Alt-J talvez seja o mais querido do público dentro de toda a nova safra de artistas britânicos. Com uma massa de ouvintes fiéis (e em expansão) desde a chegada do debut An Awesome Wave (2012) – verdadeira coletânea pop embalada de forma “experimental” -, o (hoje) trio resume no lançamento do segundo álbum de estúdio uma obra centrada na autoafirmação e, ao mesmo tempo, carregada de novas experiências.

Esculpido de forma menos “comercial” que o antecessor, This Is All Yours (2014, Infectious) é um trabalho que pode até escapar de faixas imediatas, como Breezeblocks e Tessellate, mas que surpreende pela delicadeza de seus (extensos) atos. Exemplo expressivo disso está em Hunger of the Pine. Escolhida para apresentar o disco, a lenta composição cresce como um ressaltar harmônico das nuances do Art Rock – de grupos como These New Puritans -, mas sem deixar de flertar com desconstrução do pop recente – vide a inclusão de trechos da música 4X4 de Miley Cyrus, “I’m a Female Rebel“. Todavia, assim como o álbum de 2012, o grande erro do Alt-J não está no acumulo e uso amplo de referências, mas na forma como grande parte desses elementos são encaixados de maneira “inexata” ao longo da obra.

Por mais comovente que seja o material apresentado em Hunger Of The Pine, mesmo que a música de Left Hand Free pareça comercialmente viável ou que o som de The Gospel of John Hurt ecoe de forma curiosa, falta coerência ou uma possível linha temática capaz de amarrar o imenso material do disco. É nítida a tentativa do grupo em iniciar um planejamento conceitual com a “trilogia Nara” – Arrival in Nara, Nara e Leaving Nara -, entretanto, a hiperatividade sobrepõe o controle, levando o trio a tropeçar no mesmo catálogo de sons avulsos de An Awesome Wave. Ideias, colagens, referências que tornam a experiência de apreciar o álbum confusa – vide o corte brusco que separa Every Other Freckle de Left Hand Free, esta última, música que parece incluída apenas por pressão da gravadora.

Muito do que caracteriza o disco como um simples “agregado de ideias” está da forma como grande parte das canções foram concebidas: em turnê. Como o vocalista/tecladista Gus Unger-Hamilton já havia revelado em entrevista, a agenda repleta de shows e o curto tempo de atuação em estúdio forçou a banda a investir na criação de faixas durante os raros intervalos de shows. Se por um lado esse aspecto de “road album” serviu para que o grupo explorasse novos gêneros e cenários – como na homenagem à cidade japonesa de Nara -, por outro lado é evidente o cansaço que invade parte expressiva das canções, amortecidas pelo ziguezaguear penoso um mesmo tema instrumental – como em Choice Kingdom e Warm Foothills.

O desgaste é ainda maior quando comparamos o disco ao também recente Gist Is (2013), álbum de estreia da conterrânea Adult Jazz. Referências aproximadas, a mesma interpretação pop-experimental das melodias, além da comum necessidade em romper com a formação de um som óbvio, descartável. Todavia, enquanto o Alt-J ainda pena para amarrar toda a essência da banda em um mesmo bloco autoral, investindo em fragmentos, o grupo novato reflete maturidade, mantendo firme a relação entre cada recorte (torto ou aproximado) do disco.

Incontestável é a beleza (e coerência) que sobrevive no isolamento de determinadas faixas de This Is All Yours, principalmente nos atos mais lentos e minutos finais do trabalho – entre Bloodfood Pt. II e Leaving Nara -, porém, nada que justifique a construção de um álbum completo.

 

This Is All Yours (2014, Infectious)

Nota: 6.5
Para quem gosta de: Django Django, Adult Jazz e Bombay Bicycle Club
Ouça: Leaving Nara, Hunger Of The Pine e The Gospel of John Hurt

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.