Lower Heaven
Shoegaze/Psychedelic/Post-Punk
http://www.myspace.com/lowerheaven0
O ano era 1991. Kevin Shields e seu My Bloody Valentine acabavam de lançar Loveless o inspirado álbum que havia levado mais de dois anos para ser concluído. Contudo a grandiosidade do disco não estava apenas em seu orçamento (aproximadamente 250 mil libras) ou na quantidade de estúdios em que fora gravado (dezenove no total), mas na forma detalhada como Shields havia trabalhado ao álbum, que mesmo passados duas décadas de seu lançamento ainda influenciaria um número absurdo de bandas, dentre eles os californianos do Lower Heavens.
A estreia do grupo com Today Is All We Have (2011) não poderia ocorrer de maneira melhor. Com oito faixas, o álbum demonstra maturidade e a habilidade da banda em compor faixas climáticas mergulhadas em distorções de guitarras e texturas sonoras que se sobrepõem. Composto por Marcos Chloca, Christina Parks, Stephan Swesey e Tommy Danbury o grupo vai atrás de influências para além da banda de Kevin Shields. O próprio nome do grupo é derivado de uma faixa homônima do Echo & the Bunnymen, banda de post-punk dos anos 80 que assim como outras do gênero marcam presença na sonoridade do grupo.
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O quarteto também corre atrás dos “criadores” do shoegaze rock, o The Jesus and Mary Chains, embora aqui as faixas não venham construídas de maneira suja como nos trabalhos dos irmãos Reid. As canções do Lower Heavens vêm transformadas dentro de um formato mais estéreo, bem próximas do rock psicodélico.
Com uma média de quatro minutos, cada faixa consegue de maneira harmoniosa transportar o ouvinte para dentro de suas enormes paredes de guitarras, overdubs e vocais que ecoam quase de maneira fantasmagórica. Today Is All We Have que abre o disco, já prende o ouvinte logo de cara, mergulhando-o em um banho de texturas e sofisticadas nuances de guitarra que vão lentamente construindo a imagem e o som da banda. O mesmo efeito se repete com Before You Turn To Dust, embora nessa faixa o grupo não dê tanta vazão a uma instrumentação viajada e se mantenha presa constantemente ao chão.
Na sequência o grupo intercala faixas que se apoiam em viagens psicodélicas de guitarras e outras em que demonstram maior agilidade e firmeza em seus instrumentos. Em Firearms, por exemplo, é a bateria seca o que comanda a canção, embora os vocais em eco ainda marquem presença. Já Wilderness é a faixa mais pop do grupo (embora não comercial). Com pouco mais de três minutos o grupo destila bons acordes em uma canção típica do rock alternativo dos anos 90.
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Porém é quando o grupo se volta às composições mais longas e rodeadas por inúmeras camadas de som que eles encontram o verdadeiro acerto. É o caso de Done Nothing Wrong, marcada por uma guitarra excessivamente pesada se comparada ao resto do álbum, e Fallen Angel. Essa segunda com sete minutos de duração aproxima momentaneamente o álbum de uma sonoridade voltada ao Post-Rock de grupos como Mogwai e Explosions In The Sky em vista da quantidade de detalhes e do arranjo delicado que compõem a faixa.
Embora seja um trabalho profundamente complexo Today Is All We Have se apresenta como um exercício de treinamento para o quarteto Lower Heaven, como se a banda ainda não tivesse encontrado um ponto central em sua instrumentação. Entretanto através da beleza das composições fica mais do que claro que a estreia do grupo flui de maneira natural e dá indícios de que uma grande banda vem aí.
Today Is All We Have (2011)
Nota: 8.1
Para quem gosta de: My Bloody Valentine, Black Rebel Motorcycle Club e The Silversun Pickups
Ouça: Today Is All We Have
Por: Cleber Facchi
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.