Disco: “Um Futuro Inteiro”, Bonifrate

/ Por: Cleber Facchi 08/06/2011

Bonifrate
Brazilian/Psychedelic/Folk
http://www.myspace.com/bonifrate

Por: Cleber Facchi

Aproveitando as férias de sua banda oficial, o Supercordas, o músico carioca Pedro Bonifrate mostra que os quase cinco anos que o afastam de seu antigo registro solo trouxeram amplas melhorias ao seu trabalho. O aspecto totalmente caseiro de Os anões da Villa do Magma (2007) ainda se mantém presente em Um Futuro Inteiro (2011), dessa vez com o músico reproduzindo um tipo de som ainda mais místico, viajado e de fortes tendências ao rock rural da década de 1970. Sejam bem vindos a um mundo de sonhos, cidades nas nuvens, amores, demônios e viagens intergaláticas. Bem vindos ao mundo mágico do Bonifrate.

Um jardim, este parecia ser o limite encontrado pelo músico para dar vida às histórias fantásticas em seu primeiro disco. Anões, o coaxar dos sapos, seres mágicos, folhas caídas, espaços esverdeados, cogumelos, insetos e toda uma aura reducionista se abatia no álbum de 2007. O concentrado de pequenos seres e experiências era o que dava vida a faixas como Estudo Rural em Ré Maior, Minha Casa Orgânica ou a “trilogia” dos anões, algo bem diferente do que é revelado no recente álbum, com Bonifrate dizendo adeus ao seu limitado território e rumando para novas e ainda maiores experiências.

Havia em Os anões da Villa do Magma o que soava como uma continuação do trabalho do carioca no Supercordas. O efeito causado pelo álbum Seres Verdes ao Redor de 2006 (um dos mais incríveis registros da história recente do rock nacional) transparecia suas fortes marcas na carreira solo do músico, que ainda se mantinha confortavelmente instalado na climatização bucólica e orgânica de sua banda, o que de forma alguma se revela como um problema, já que os dois álbuns se completam. Porém, dessa vez os rumos são outros, com o músico caindo no mundo, buscando por novas viagens e novas possibilidades de fazer música.

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O reduzido espaço em miniatura agora dá lugar a um universo de proporções grandiosas, embora Bonifrate ainda se mantenha reduzido, observando tudo de longe, como se a cada nova constatação desse mundo novo outras composições brotassem em suas mãos. A jornada tem início de forma bem específica, com o músico pegando carona em Esse Trem Não Improvisa, reafirmando essa busca por novos ares através de trechos como “Um par de pés sempre me levou pr’onde for/ Agora bem serviria um artefato voador”.

Dos ritmos oriundos de seu pequeno jardim, a sonoridade expressa vinha através do parco uso de violões, algumas guitarras, efeitos e um toque quase intimista, algo totalmente distante em sua nova fase. A grandiosidade chega representada em canções como A farsa do Futuro enquanto Agora, com o cantor afundado em teclados, bateria, um pequeno naipe de metais e todo um leque de múltiplas opções. Se antes a psicodelia vinha em doses, agora ela vem em cargas, sempre esvoaçadas, carregando sons flutuantes, que circundam o ouvinte e o transportam para terrenos distantes, tão distantes quanto aqueles explorados dentro das composições do disco.

Após o retorno da alagoana Mopho com seu terceiro (e ótimo) trabalho de estúdio, o lançamento de  Um Futuro inteiro com suas reverberações suaves e lisérgicas vem como um verdadeiro presente aos amantes do rock psicodélico. Entretanto, inverso a temática madura do grupo de Maceió, o novo trabalho solo de Bonifrate nos guia por entre seu universo fantasioso, repleto de formas retorcidas, místicas e até bem reais em alguns momentos. Um álbum que nos permite se desligar do mundo, mesmo que momentaneamente.

Um Futuro Inteiro (2011)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Supercordas, Mopho e Cérebro Eletrônico
Ouça: A Farsa do Futuro Enquanto Agora

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.