Disco: “What Went Down”, Foals

/ Por: Cleber Facchi 01/09/2015

Foals
British/Alternative/Rock
http://www.foals.co.uk/

O caminho assumido pelos integrantes do Foals em Total Life Forever (2010) ainda está longe de ser abandonado pelo grupo. Cada vez mais distante do Math Rock incorporado no primeiro álbum de estúdio, Antidotes (2008), casa de músicas como Cassius e Olympic Airways, Yannis Philippakis, vocalista e líder da banda, encontra no peso das guitarras, sintetizadores e vozes carregadas de efeito um novo cenário a ser explorado com o dinâmico What Went Down (2015, Transgressive / Warner Bros.).

Quarto trabalho de inéditas do coletivo de Oxford, o álbum de 10 faixas e quase 50 minutos de duração talvez seja a obra mais coesa comercialmente dentro da curta trajetória do Foals. Na trilha do antecessor Holy Fire, de 2013, Philippakis e os parceiros de banda finalizam um disco marcado pela serenidade e constante explosão. Uma sequência de faixas ora agressivas e dominadas pela crueza das guitarras, ora brandas e musicalmente sombrias, naturalmente íntimas de diferentes referências do pós-punk britânico no começo dos anos 1980.

Logo na abertura do disco, dois golpes certeiros. O primeiro deles, a enérgica faixa-título. Pouco mais de cinco minutos em que vocais, instrumentos e batidas lançadas pela banda parecem crescer de forma descontrolada. A mesma energia expressa pelo grupo durante o lançamento de Inhaler, primeiro single do último disco, porém, em uma execução ainda mais insana. Na sequência, Mountain At My Gates. Típica composições do Foals, a faixa repleta de ondulações e arranjos “suingados” tropeça vez ou outra no clássico Blood Sugar Sex Magik (1991) do Red Hot Chili Peppers, confessa influência do grupo britânico e banda com quem o Foals vem excursionando desde o trabalho passado.

Em Birch Tree, Give It All, Albatross, Snake Oil e Night Swimmers, a clara interferência do produtor James Ford. Mais conhecido pelo trabalho com o Simian Mobile Disco, Ford, músico que já trabalhou com artistas como Florence and the Machine, Arctic Monkeys e Klaxons parece investir no minimalismo das batidas e arranjos eletrônicos, resgatando o mesmo encaixe robótico dos instrumentos e vozes criados por Dave Sitek (TV On The Radio, Yeah Yeah Yeahs) no primeiro álbum de estúdio do Foals. A própria  Night Swimmers é uma faixa que já parece ter nascido “remixada” pelo produtor.

Interessante perceber nessas mesmas faixas o resgate de um conceito talvez “esquecido” desde o lançamento de Total Life Forever: a busca por um som dançante. Ainda que Holy Fire seja marcado por composições prontas para as pistas – experimente tocar My Number -, parte expressiva do trabalho mergulha em arranjos complexos e versos marcados pela melancolia. Em What Went Down, a essência de veteranos como Gang Of Four mais uma vez define os rumos do trabalho. Difícil ficar parado com Albatross, Snake Oil e Night Swimmers. Mesmo a urgência de Mountain At My Gates parece tirar o ouvinte para dançar. Entretanto, a partir de London Thunder, a atmosfera do disco muda. Densas, faixas como Lonely Hunter e A Knife in the Ocean refletem a completa maturidade do grupo, abrindo espaço não apenas para a voz firme de Philippakis, como para o uso atmosférico dos instrumentos.

Tão versátil quanto em Total Life Forever, What Went Down mostra uma banda que mesmo capaz de dialogar com o grande público, íntima da sonoridade explorada desde o primeiro disco, mantém firme a necessidade de renovação. Um conjunto de faixas enérgicas (Mountains At My Gates), dançantes (Snake Oil ) ou mesmo introspectivas (A Knife in the Ocean) que, ao serem encaixadas dentro da mesma obra, refletem o trabalho do Foals em sua melhor forma.

What Went Down (2015, Transgressive / Warner Bros.)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: The Maccabees, Red Hot Chili Peppers e Bombay Bicycle Club
Ouça: Mountains At My Gates, A Knife in The Ocean e Lonely Hunter

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.