Disco: “Worship”, A Place To Bury Strangers

/ Por: Cleber Facchi 15/06/2012

A Place To Bury Strangers
Noise Rock/Shoegaze/Indie Rock
https://www.facebook.com/aplacetoburystrangers

Por: Fernanda Blammer

A limpidez das formas sonoras nunca foi uma proposta clara aos grupos de rock nova-iorquinos. Desde o surgimento do The Velvet Underground na década de 1960, que as guitarras soam de maneira estridente por lá, agregando camadas de distorção bem como ruídos entalhados de forma a encantar (ou instigar) o espectador. Com o trio A Place To Bury Strangers, que nasceu na região do Brooklyn em princípios da década passada, essa mesma proposta se torna ainda mais evidente. Confessos interessados pelas formas distorcidas e sujas, a banda mantém no terceiro disco a mesma ruidosa estratégia testada há quase dez anos, proposta que define cada uma das novas composições apresentadas pelo grupo.

Donos de uma sonoridade cada vez mais “plástica” – postura assumida dentro do disco Exploding Head, de 2009 – a tríade formada por Oliver Ackermann, Dion Lunadon e Jason “Jay Space” Weilmeister faz do recente Worship (2012, Dead Oceans) uma espécie de exata continuação do que fora testado há três anos. Mesmo imersos na construção e deformação constante das formas sonoras, a banda acaba por transformar o novo álbum em um registro comercialmente acessível, proposta já testada, mas que se intensifica ativamente com o passar do presente registro.

Ao mesmo tempo em que se abre para a aproximação com novos públicos, a banda parece esquecer da boa forma assumida há alguns anos, não lembrando, inclusive, que muitas das canções e propostas testadas no atual registro já foram amplamente executadas, principalmente no homônimo disco de estreia em 2007. Como resultado os nova-iorquinos estabelecem um disco que até agrada em alguns momentos, mas nada que consiga superar o bom desempenho e a inventividade de outrora. Até quando as guitarras surgem urgentes e sujas em músicas como Leaving Tomorrow o resultado pouco satisfaz, como se a banda propusesse um álbum em que o foco está em desmotivar o ouvinte.

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Essa incapacidade da banda em apresentar uma proposta renovada e se entregar às exaltações sonoras vindas de outras fontes já estava bastante visível durante a execução do álbum anterior. É como se o APTBS, ao buscar por um som mais sério e conceitual – postura assumida em 2009 com Exploding Head – deixasse de lado o brilho e a crueza jovial do registro de estreia. Mesmo que algumas faixas como You Are The One e Why I Can’t Cry Anymore até consigam cativar e arrastar o ouvinte para o mesmo universo de distorções proclamadas em 2007, aos poucos Worship se transforma em um disco cansativo e extremamente pleonástico, com o trio batendo na mesma tecla – ou nos mesmos sujos acordes – do princípio ao fim do disco.

Mesmo donos de uma sonoridade particular e marcante, a banda utiliza do presente lançamento para anunciar algumas de suas maiores inspirações. De velhas referências vindas do The Jesus And Mary Chain, Sonic Youth e do Joy Division (da fase Closer), uma das grandes diferenças da banda em seu novo lançamento é a conexão com artistas mais recentes. Dos experimentos testados pelos conterrâneos do Liars na última década, passando pelas distorções matemáticas do HEALTH até os compostos climáticos do Deerhunter, em diversos momentos é possível estabelecer uma forte aproximação com o que “jovens” artistas vêm desenvolvendo, resultado que engrandece o valor do disco, mas impede a banda de alcançar um som tomado pela distinção e novidade.

Assim como aconteceu com o mais novo disco do Crocodiles, em Worship os nova-iorquinos abandonam qualquer possível controle e concisão vinda dos ensinamentos de algum produtor para que eles próprios assumam todas as direções do trabalho. Livres, os integrantes se perdem logo na abertura do registro, um descontrole que eles até tentam solucionar em alguns momentos do disco, mas acabam se perdendo ainda mais.  Ao final do trabalho permanece apenas a pergunta: O que aconteceu com o trio que tanto nos impressionou há cinco anos?

Woship (2012, Dead Oceans)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Skywave, The Soft Moon e Crystal Stilts
Ouça: You Are The One e Leaving Tomorrow

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.