Os 50 Melhores Discos Internacionais de 2015 [20-11]

/ Por: Cleber Facchi 17/12/2015

[20-11]

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#20. Majical Cloudz
Are You Alone? (2015, Matador)

Dois anos após o lançamento de Impersonator (2013), obra que apresentou oficialmente o Majical Cloudz a toda uma nova parcela de ouvintes, Devon Welsh e o parceiro Matthew Otto mais uma vez se encontram para produzir uma obra tecida pelo sofrimento. Entre casos de amor não resolvidos, confissões e dramas típicos de qualquer romântico, a dupla canadense define a base melancólica para o recém-lançado Are You Alone? (2015, Matador), terceiro registro de inéditas e obra mais acessível da banda. Livre das pinceladas existencialistas que definem o trabalho entregue em 2013, cada faixa do presente álbum se projeta como um conto sofredor do personagem real vivido por Welsh. São composições que detalham o medo de se apaixonar (Heavy), abraçam a temática da morte (Silver Car Crash) ou simplesmente confessam os sentimentos mais honestos do compositor (Downtown). Um resumo dramático de todos os pensamentos, cenas e tormentos que invadem a mente de qualquer indivíduo que já tenha se apaixonado pelo menos uma vez na vida. []

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#19. Carly Rae Jepsen
E•MO•TION (2015, Interscope)

Quem se deixou guiar apenas por Call Me Maybe ou, pelo mesmo motivo, torceu o nariz para o segundo álbum solo de Carly Rae Jepsen, talvez tenha deixado passar um dos grandes exemplares da música pop recente. Por trás do romantismo plástico de Kiss (2012), um time seleto de produtores e a confessa necessidade da artista em brincar com o gênero, adaptando referências espalhadas por toda a década de 1980. Exagero em torno de uma “simples cantora pop”? Então como explicar a coleção de acertos e composições também radiantes de Emotion? Terceiro registro em estúdio da artista canadense, o novo trabalho segue a cartilha de um típico registro pop: um arrasa quarteirão para as pistas de dança (I Really Like You), uma dobradinha de composições capazes de estender a permanência da jovem nas paradas de sucesso (Gimmie Love, Your Type), além, claro, de uma melancólica balada romântica (All That). Faixas de natureza radiofônica, comerciais, porém, alicerçadas em cima de um abrangente catálogo de referências. []

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#18. Father John Misty
I Love You, Honeybear (2015, Sub Pop)

Em uma explícita curva conceitual, dentro até da própria carreira, Joshua Tillman assina um trabalho muito maior do que a previsível seleção de ” contos” imaginada desde último álbum do músico, o debut Fear Fun (2012). Mesmo sob o título de Father John Misty, cada verso deriva de fragmentos pinçados do cotidiano do cantor. Uma obra ainda irônica e carregada humor – vide o relato em I Went to the Store One Day ou o anti-hino de Bored in the USA -, mas ao mesmo tempo sensível, centrada no convívio, amor e conflitos ao lado da esposa do cantor, a diretora Emma Elizabeth Tillman. Esquivo de versos açucarados, típicos em obras “apaixonadas”, Tillman deturpa toda a fantasia do amor nos primeiros instantes do disco, logo que a faixa-título se apresenta ao ouvinte. Em meio ao coro de arranjos e vozes suavizadas – “Honeybear, honeybear, honeybear” -, o contrastado encaixe de palavras “sujas” – “rímel, sangue, cinzas e esperma“-; um relato cru, real, de qualquer casal depois do sexo. Entre recortes intimistas e versos de fácil transposição, o mesmo lirismo honesto aos poucos invade todo o registro. Uma obra quase invasiva, salva pelo humor flexível do artista. []

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#17. Natalie Prass
Natalie Prass (2014, Spacebomb)

Do momento em que tem início My Baby Don’t Understand Me, até o movimento final de It Is You, a sensação de fragilidade que preenche a obra de Natalie Prass é clara, perturbadora e ainda capaz de acolher o ouvinte. Protagonista da própria obra, a cantora e compositora estadunidense transforma o autointitulado primeiro registro de estúdio em um mundo aberto para confissões amarguradas e lamentos tão íntimos, que até parecem moldados para o ouvinte. Ativa em diferentes núcleos da cena norte-americana, Prass atravessou a última década em meio a parcerias com notáveis da produção alternativa, caso de Jenny Lewis e Matthew E. White, posteriormente fixando residência na cidade de Nashville – o epicentro da música country. Com naturalidade, todo esse catálogo de “referências” se faz visível em cada ato do recente trabalho da cantora, tão próxima dos primeiros registros da “ex-Rilo Kiley” – principalmente no debut Rabbit Fur Coat (2006) -, como do recente trabalho de White – Big Inner (2012) -, parceiro desde a adolescência e produtor do álbum ao lado de Trey Pollard. De natureza melancólica, como um sussurro alcoólico em uma noite de abandono, cada uma das nove composições do disco borbulham os sentimentos mais dolorosos (e confessionais) de Prass. []

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#16. Panda Bear
Panda Bear Meets the Grim Reaper (2015, Domino)

Vozes submersas em um lago de efeitos psicodélicos, colagens instrumentais e arranjos essencialmente excêntricos. Quem Noah Lennox está tentando enganar? Mesmo que fórmulas complexas e temas pouco “usuais” dentro dos padrões da música comercial sirvam de base para o trabalho do músico norte-americano, ao esbarrar no acervo colorido de Panda Bear Meets the Grim Reaper (2015, Domino), quinto álbum do também integrante do Animal Collective como Panda Bear, todos os esforços do artista residente em Portugal se concentram no explícito diálogo com melodias típicas do pop. Seja no refrão ascendente de Mr. Noah – a faixa mais enérgica de Lennox em carreira solo – ou pela leveza mágica de Latin Boys, cada instante do presente registro confirma a imagem de um compositor livre, acessível, ainda que experimental em essência. A julgar pela overdose de efeitos eletrônicos e projeções instrumentais inspiradas no Hip-Hop da década de 1990 – principalmente Q-Tip e A Tribe Called Quest -, este talvez seja o trabalho que o público do Animal Collective tanto esperou depois do ápice criativo alcançado em Merriweather Post Pavilion (2009). []

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#15. Björk
Vulnuicura (2015, One Little Indian)

O sofrimento sempre esteve diluído em cada novo registro de Björk. Seja de forma maquiada, dentro dos limites anárquicos do KUKL, ou de maneira explícita, na melancolia confessional deUnravel e All Is Full Of Love, mergulhar nos trabalhos da artista islandesa é o mesmo que sufocar em meio a tormentos sentimentais tão centrados na vida da compositora, como íntimos do próprio ouvinte. Todavia, mesmo a completa previsibilidade dos atos e emoções parece corrompida ao esbarrar nos versos amargos de Vulnicura (2014, One Little Indian). Uma peça ainda marcada pelo mesmo caráter conceitual/temático dos grandes álbuns de Björk, porém, tão honesta e liricamente explícita, que mais parece uma curva isolada dentro da trajetória da cantora. Como um espinho doloroso, incômodo e que precisa ser arrancado, o nono álbum de estúdio de Björk foi posto para fora em pouquíssimos meses. Do anúncio (não oficial), em setembro de 2014, até o lançamento da obra, em janeiro de 2015 – forçado pelo vazamento precoce do trabalho na internet -, foram pouco mais de quatro meses, um prazo curto dentro dos padrões da cantora – em extensa turnê desde o álbum Biophilia, em 2011. O motivo de tamanha urgência? A separação de Björk e Matthew Barney, parceiro da cantora na última década e o principal tempero para a matéria-prima que explode em soluços angustiados por todo o registro. []

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#14. Beach House
Depression Cherry / Thank You Lucky Stars (2015, Sub Pop)

De um lado, o delicado tecido de sintetizadores, guitarras etéreas e vozes límpidas que sustentam as canções de Depression Cherry. No outro, a ambientação Lo-Fi, versos quase sussurrados e temas sombrios de Thank You Lucky Stars. Uma sequência de versos melancólicos, essencialmente românticos e intimistas, fruto da coesa relação entre os parceiros Victoria Legrand e Alex Scally dentro da rica discografia do Beach House. Fórmulas, adaptações e pequenos encaixes instrumentais que visitam a obra de gigantes do como My Bloody Valentine (Sparks) e Galaxie 500 (One Thing), mas que em nenhum momento se distanciam do caminho inaugurado pela dupla de Baltimore, Maryland ainda nos primeiros registros de inéditas. Do jogo melódico que abastece faixas como Space Song e Common Girl, passando pela montagem crescente de Wildflower e Levitation, Legrand e Scally finalizam uma coleção de faixas parecem reformular delicadamente a essência de clássicos recentes da banda como Teen Dream (2010) e Bloom (2012). [] []

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#13. Oneohtrix Point Never
Garden of Delete (2015, Warp)

Poucas vezes antes um trabalho de Daniel Lopatin pareceu tão raivoso quanto Garden of Delete(2015, Warp). Oitavo registro de inéditas do produtor estadunidense, o álbum que segue a boa fase iniciada em Returnal, de 2010, talvez seja o projeto mais ambicioso e ainda assim honesto de toda a carreira do artista. Trata-se de um reflexo da própria adolescência do Lopatin e toda a influência de clássicos do Grunge e Heavy Metal na educação musical do artista. Convidado a excursionar ao lado de Nine Inch Nails e Soundgarden em 2014, ocupando a vaga do temporariamente extinto coletivo Death Grips, Lopatin transporta para dentro do presente registro o mesmo som instável apresentado ao lado dos veteranos do rock alternativo no último ano. Um meio termo entre o rico catálogo de bases experimentais testados desde o fim da década passada e toda a massa de sons robóticos aplicados pelo produtor nas apresentações da última turnê. Ao mesmo tempo em que a essência climática do clássico Replica (2011) parece preservada em boa parte do registro, durante toda a produção da obra, Lopatin se concentra em bagunçar o esboço anteriormente apresentado em R Plus Seven (2013). De forma acelerada, crescente, faixas como I Bite Through It e Mutant Standard replicam com naturalidade o mesmo conjunto de elementos incorporados no disco lançado há dois anos. A diferença está nas constantes quebras e curvas bruscas assumidas pelos sintetizadores de Lopatin. []

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#12. Joanna Newsom
Divers (2015, Drag City)

Se você procurar por Joanna Newsom no Google, dificilmente encontrará um site oficial atualizado ou mesmo contas em diferentes redes sociais. Músicas no Spotify? Somente raras parcerias assinadas ao lado de outros artistas – caso de Right On, do coletivo The Roots. Em entrevistas recentes, a cantora reforçou o completo desprezo pela plataforma e outros serviços de streaming. Salve a seção no site do selo Drag Music, também responsável pela publicação dos vídeos da artista no Youtube, Newsom parece viver isolada, distante da tecnologia, temas e tendências que movimentam o cenário atual. Prova explícita desse “distanciamento” ecoa no peculiar jogo de palavras que cresce em cada novo trabalho da cantora. Termos arcaicos, não convencionais, como “hydrocephilitic”, “antediluvian” e “Tulgeywood” que acabaram se transformando em objeto de análise (ou piada) em diferentes publicações. Longe da rima fácil, do canto comercial e descomplicado, Newsom parece acomodada em um ambiente próprio, detalhando faixas que ultrapassam os 10 minutos de duração em uma montagem quase textual. Curioso perceber que mesmo isolada, habitante de um universo tão intimista, poucos artistas atuais exercem um fascínio tão grande no público quanto Joanna Newsom. Basta perceber a infinidade de artigos, publicações e especiais lançados em diferentes veículos nos últimos meses. Se faltam caminhos “oficiais” para chegar até o trabalho da artista, sobram publicações no Reddit e vídeos(ao vivo) compartilhados pelos próprios ouvintes da cantora. Uma euforia coletiva que se sustenta na coesa execução de Divers. []

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#11. Neon Indian
VEGA INTL. Night School (2015, Transgressive / Mom & Pop)

O globo espelhado gira lentamente. Nas paredes, tiras de neon se espalham por todos as partes como setas, guiando o espectador por um caminho marcado pelo uso excessivo de drogas, passos descompassados de dança, vestidos de lantejoulas e declarações de amor que seguem até o letreiro colorido que ilumina a pista: VEGA INTL. Night School. Quatro anos após o último álbum, Era Extraña (2011), o músico norte-americano Alan Palomo ultrapassa os limites de uma simples obra de estúdio, transformando o terceiro registro de inéditas do Neon Indian em uma verdadeira de discoteca conceitual. Em um exercício nostálgico que se estende desde a estreia com Psychic Chasms, de 2009, cada faixa do trabalho, mais do que um produto referencial, abraça os costumes, exageros e elementos típicos dos clubes de dança que explodiram entre o final dos anos 1980 e início da década de 1990. Kitsch, retrô, vintage ou mera cópia, não importa, do momento em que o som empoeirado de Hit Parade tem início, todo o colorido universo que marca a boa fase da New Wave/Italodisco é minuciosamente resgatado pelo produtor. Escolhida para apresentar o trabalho, Annie, sintetiza com naturalidade o lado “pop” de todo o registro. São mais de quatro minutos em que vozes, guitarras e sintetizadores lançados pelo músico circulam em um cenário essencialmente radiofônico, perfumado pela essência tropical de artistas como Mr. President, Inner Circle e DJ Bobo. Sobram ainda pequenas doses da Disco Music e farelos de R&B, conceito que serve de estímulo para a formação de faixas como Smut!The Glitzy Hive, representantes da obra de Michael Jackson e outros veteranos do período. []

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[30-21] [10-01]

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.