Os 50 Melhores Discos Nacionais de 2013 [30-21]

/ Por: Cleber Facchi 18/12/2013

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[30-21]

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Baleia

#30. Baleia
Quebra Azul (Independente)

Parece difícil estabelecer com exatidão a proposta que orienta a obra do coletivo Baleia. Se há pouco menos de um ano a relação entre o Pop e o Jazz parecia guiar as canções/versões assinadas pelo grupo carioca, ao passear pelas melodias estranhas de Quebra Azul, nada disso parece ter “sobrevivido”. Brincando com os experimentos de forma controlada, cada faixa do álbum parece observar os arranjos e vozes de forma específica, trazendo na inexatidão das fórmulas um natural movimento para o disco. Ora Dirty Projectors, ora The Decemberists, mas sempre íntimo da cultura nacional, o álbum abre espaço para que faixas aos moldes de Motim e Breu se espalhem com leveza pelo registro. Assim como o versátil coro de vozes que acompanha o trabalho, amplo é o catálogo de instrumentos que recheiam as faixas, estímulo para que Casa, na abertura do disco, e Despertar, no encerramento, dancem em um universo doce de pequenas especificidades. De brilho cênico e tratamento pop que se esquiva do óbvio, Quebra Azul é um passeio seguro por um caminho que muda de direção a todo o instante. [+]

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Boogarins

#29. Boogarins
As Plantas Que Curam (Other Music)

Há tempos um registro nacional não causava tamanha comoção quanto As Plantas Que Curam, estreia do Boogarins. O brilho despretensioso dos versos e a completa desarticulação dos exageros psicodélicos, típicos de obras do gênero, garantiram ao duo Fernando Almeida e Benke Ferraz um lugar de destaque na cena nacional. Lançado inicialmente como um EP e depois acrescido de um conjunto experimental de composições, o bem recebido debut da banda goiana é apenas um rascunho perto da complexidade que define Lucifernandes e Erre na primeira metade do trabalho. A irregularidade, entretanto, não afeta o comprometimento do disco, que talvez pelos excessos de outros álbuns ou a ausência de algum registro maior se mantém (muito) acima da média. Com versos em português e a necessidade de brincar com a obra de veteranos (Os Mutantes) e novatos (Tame Impala) do rock psicodélico, o trabalho se revela como uma completa entrega de seus criadores. Por enquanto, um típico disco de aquecimento e uma obra que mesmo torta, reforça a certeza de que algo ainda maior está por vir. [+]

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Don L

#28. Don L
Caro Vapor – Vida e Veneno de Don L (Vice)

Champanhe, festas e uma dose considerável de ostentação. Trilhando um percurso quase isolado dentro do Rap Nacional, Don L assume na construção da mixtape Caro Vapor uma obra em que as vitórias sobrepõem de forma inteligente qualquer derrota. Com ares de registro estrangeiro, o álbum pode até esbarrar em aspectos típicos da estética norte-americana, sem necessariamente tropeçar na banalidade típica do Bling Bling. As bases dissolvidas na leveza do R&B e a produção atenta em cada música, longe da simplicidade de outros registros próximos, fazem de Sangue é Champagne, Rolê dos Lokos e Depois das Três canções de forte interação com o grande público. São composições que circundam o cotidiano do rapper, trazendo no teor noturno das bases e rimas uma ambientação exótica. Acompanhado de um time extenso de colaboradores – entre eles Flora de Matos, Terra Preta e Rael da Rima -, L sustenta uma obra de caráter abrangente, como se da noite que o disco extrai suas bases, diferentes personagens fossem cuidadosamente apresentados. [+]

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Momo

#27. Momo
Cadafalso (Independente)

Depois do lago de emanações acolhedoras em Serenade For a Sailor (2011), Marcelo Frota resolveu se aventurar em um oceano de desilusões com Cadafalso. Tratado em um encalusuramento sombrio que vai da capa aos versos, o quarto álbum solo do músico carioca talvez seja sua obra mais honesta e desesperadora. São acordes tímidos de violão que batem de frente com as confissões amargas do músico, personagem da própria obra. Sem brechas para os mesmos acordes épicos instalados em Buscador (2008), Momo encontra no movimento sutil dos arranjos e vozes um estado de acolhimento e desconstrução. Cantando sobre a solidão e a morte, o músico apresenta ao ouvinte um catálogo de faixas essencialmente metafóricas, posicionadas em um cenário particular de passado recente, mas de íntima aproximação com o espectador. Com ares de despedida, cada música do trabalho parece fluir como um passo em direção à forca, efeito que, curiosamente, não distancia a obra de um perturbador estágio de libertação. [+]

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São Paulo Underground

#26. São Paulo Underground
Beija Flors Velho E Sujo (Cuneiform)

A cada trabalho lançado pelo trio São Paulo Underground, a interação entre Guilherme Granado, Mauricio Takara e Rob Mazurek amplia significativamente o campo de renovação do projeto. Enquanto Três Cabeças Loucuras, álbum de 2011, parecia aproximar a banda de um cenário ainda mais abstrato e subjetivo, com a chegada de Beija Flors Velho E Sujo os rumos passam a ser outros. Em um exercício ponderado de aproximação com o ouvinte, o álbum de dez faixas estabelece na construção de pequenos recortes coloridos uma obra de caráter “acessível”. São ambientações tropicais, passeios específicos pela música brasileira e uma interpretação suingada do Jazz estadunidense. Sobra até para Ivete Sangalo ser “homenageada” no axé torto de Evetch. Todavia, a aparente leveza que ocupa o disco de forma alguma priva a banda de brincar com o entendimento do espectador. Basta um passeio pelas climatizações de Arnus Nusar ou o fluxo instável de Six-Handed Casio para perceber o quanto o grupo permanece tão provocativo quanto em começo de carreira. [+]

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Mahmundi

#25. Mahmundi
Setembro EP (Independente)

Contraste. Em um sentido oposto ao que Efeito das Cores trouxe com alegria no último ano, Setembro, segundo lançamento de Marcela Vale pelo Mahmundi, parece buscar pela tristeza. A relação com a Chillwave e os ritmos oitentistas, visível em Calor do Amor, agora vai de encontro à sobriedade acumulada pelo R&B dos anos 1990. Assinado em quase totalidade pela multi-instrumentista, o registro limita as articulações eletrônicas do parceiro Lucas de Paiva, estabelecendo uma obra pertencente apenas à sua criadora. “Então eu pego o trem e atravesso a cidade/ Pontes da Zona Norte a Zona Sul de mim”, entrega Vale nos versos de Arpoador, faixa que carrega todo o isolamento da artista e o transfere ao ouvinte, quase como um pedido de socorro. A fluidez soturna, entretanto, de forma alguma distancia a cantora do brilho pop assumido no projeto anterior. Basta passear pela tapeçaria de Vem ou os versos libertadores de Leve para perceber toda a transformação que envolve o trabalho e reafirma a carioca como uma das vozes mais importantes do música nacional. O Setembro de Marcela Vale é triste, mas não menos encantador. [+]

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Gru

#24. Gru
Welcome Sucker to Candyland (Loop Discos)

Do título aos versos, das guitarras ao uso das vozes, Welcome Sucker to Candyland é uma verdadeira sucessão de acertos. Segundo registro em estúdio da cantora Gabi Lima à frente do Gru, o disco cresce em meio ao uso adequado de boas melodias e versos que parecem feitos para grudar nos ouvidos do espectador – sem qualquer dificuldade. Menos tímido que o rascunho testado no quase esquecido Kitchen Door (2009), o álbum traz na produção de John Ulhoa (Pato Fu) um verdadeiro catálogo de hits e faixas sempre decididas a brilhar. São canções que abraçam o Power Pop, aterrissam no rock alternativo da década de 1990, até serem temperadas pelas letras agridoces da cantora. Em um fluxo distinto ao que define a construção de outros projetos relacionados – aqui ou no exterior -, Lima mantém a fluidez da obra sempre em alta, o que faz de Sidecar, na abertura do disco, ou Not Done, no encerramento do trabalho, músicas tão intensas, que escapar do álbum antes do último acorde é praticamente impossível. [+]

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Tono

#23. Tono
Aquário (Independente)

Um universo inteiro vive no interior de Aquário. Centrado nas mesmas especificidades que orquestraram os inventos prévios da banda, ao alcançar o presente disco a carioca Tono parece lidar com uma obra muito mais atenta, acessível, mas não menos desafiadora. As tapeçarias instrumentais que costuram o disco ainda se dividem entre o Jazz e o Pós-Rock, bases que podem levar tempo até serem inteiramente absorvidas pelo ouvinte. Mesmo o teor atmosférico que preenche o disco, de forma alguma distancia a obra de composições possivelmente voláteis e “fáceis”. É o caso de Como Vês, com sua base suingada cômoda, ou quem sabe Leve, música que brinca com os clichês da MPB em uma linguagem própria. Feito para ser desvendado em doses, o disco encontra na presença de Arto Lindsay, como produtor do álbum, uma forte relação entre as faixas. A arquitetura específica faz de cada fragmento instrumental um mecanismo para a evidente compreensão do todo, alinhamento que apenas pontencializa o caráter sedutor em torno do disco e as faixas doces que o envolvem. [+]

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#22. Projota
Muita Luz (Independente)

A fé é um elemento fundamental para sobreviver no cenário obscuro que ocupa os versos de Muita Luz. Terceira mixtape de Projota, o registro assume um estágio de completa desarticulação do álbum anterior, Não Há Lugar Melhor no Mundo que o Nosso Lugar (2011), trazendo no peso das palavras um combustível para as canções. A luta do rapper, dentro e fora das periferias, contribui para o nascimento de faixas que mantém firme a esperança, mas tropeçam a todo o instante em um evidente estado de desgaste sentimental. Tratado em um acabamento melancólico, o disco assume a construção de uma atmosfera que mais parece sufocar o ouvinte. É desgastante o ambiente sustentado por músicas amargas como Mataram Um Amigo Meu e Silêncio, como se Projota e os inúmeros personagens que ele carrega quase sucumbissem. A fé, entretanto, tenta sobreviver, uma espécie de mecanismo de equilíbrio para o disco e para o nascimento das faixas de espírito forte, dissolvidas durante toda a construção do trabalho. Uma obra em que luz e trevas se esbarram constantemente, sem pausas ou um possível estágio de calmaria. [+]

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Do Amor

#21. Do Amor
Piracema (Disco Maravilha)

Para entender o ambiente próprio de Piracema, segundo registro em estúdio da banda Do Amor, é preciso antes de tudo se desligar do cenário ao redor. Nada óbvio em relação ao trabalho anterior, de 2010, o álbum de 18 faixas e extensa duração mais parece uma viagem para o cenário bucólico onde foi gravado, do que um registro musical em si. O isolamento, anunciado com candura na inaugural Ar, logo abre espaço para o mesmo conjunto de articulações tropicais que há tempos acompanham a banda. A relação com os ritmos paraenses (Eu Vou Pra Belém) e teor excêntrico dos versos (Minha Mente), tão típico do disco passado, ainda existe, apenas precisa de tempo até ser apreciado em totalidade. Uma vez dentro do cenário próprio do álbum, é difícil não se deixar seduzir pelo bom humor de El Cancionero ou o bucolismo de Pé Na Terra, músicas que replicam os mesmos elementos que apresentaram o quarteto. Em um estágio que encontra a revelação, os músicos assumem nos instantes finais a expansão do teor místico do trabalho, resultando em um caminho que até ecoa “espiritualidade”, mas que nada mais é do que um delicioso passeio lisérgico. [+]

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.