Os 50 Melhores Discos Nacionais de 2013 [40-31]

/ Por: Cleber Facchi 17/12/2013

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Jennifer Souza

#40. Jennifer Souza
Impossível Breve (Independente)

A tristeza se comporta de forma peculiar nos arranjos e vozes de Jennifer Souza. Primeiro álbum solo da também integrante do grupo mineiro Transmissor, Impossível Breve se escora nos sentimentos mais dolorosos de qualquer indivíduo, sem necessariamente desabar em lágrimas ou dramas desnecessários. Esculpido com uma sobriedade constante, o disco vai da faixa de abertura (Sorte Ou Azar) aos versos de encerramento (Cuida de Si) em um tratamento que brinca com as recordações de qualquer ouvinte. Embalada pelas mesmas experiências instrumentais que regem a obra de sua antiga banda, a cantora vai do jazz (Vouloir) aos lamentos de Milton Nascimento (Esparadrapo) em um enquadramento que jamais se esquiva das próprias imposições autorais. Matéria-prima da própria obra, Souza arrasta o ouvinte para o ambiente inevitável, típico do que se encontra em pós-relacionamentos. Um estágio constante em que seguir em frente e regressar ao passado (ainda recente) faz da mente do espectador um melancólico turbilhão. [+]

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O Mais Feliz Da Vida

#39. A Banda Mais Bonita da Cidade
O Mais Feliz Da Vida (Independente)

Existe uma distância imensa entre o álbum de estreia d’A Banda Mais Bonita da Cidade e presente O Mais Feliz Da Vida. Enquanto o autointitulado debut, apresentado em 2011, parecia ter nascido da euforia em cima do hit Oração, o segundo álbum do coletivo paranaense entrega ao público uma banda madura, ciente das próprias possibilidades em estúdio e dona de um catálogo de faixas construídas sob forte intimidade. Com referências que esbarram em Fiona Apple e Bon Iver, além de um visível aprofundamento na construção das próprias melodias, o disco segue até a última faixa em um delineamento épico. São composições que forçam a limpidez dos vocais de Uyara Torrente, bem como o manuseio autêntico dos arranjos – expressos de forma inteligente logo na canção de abertura da obra. Sem espaço para canções possivelmente “tolas”, o grupo afirma a própria sobriedade, convertendo músicas como Maré Alta, Olhos da Cara e A Balada Da Contramão em uma passagem direta para um ambiente consumido pela dor e o isolamento do indivíduo. [+]

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#38. Marcelo D2
Nada Pode Me Parar (EMI)

Dez anos depois de apresentar ao público o disco que o consolidou em carreira solo, A Procura da Batida Perfeita (2003), Marcelo D2 reforça a própria posição dentro do rap nacional em um álbum que absorve traços de sua obra-prima. Rimando de forma honesta sobre as vitórias e conquistas ao longo dos anos, Nada Pode Me Parar traz o ex-Planet Hemp em um cenário marcado pelo uso de versos acessíveis aos mais diferentes públicos. Ao lado do velho colaborador Mário Caldato Jr, com quem vem trabalhando desde 2003, D2 se organiza para a construção de músicas plásticas – caso de Vou Por Aí e Você diz que o amor não doi – sem necessariamente esbarrar nos mesmos exageros dos trabalhos anteriores. A forte aproximação com a cena estrangeira, evidente na projeção das bases melódicas e samples em inglês, garantem ao rapper um trabalho essencialmente versátil, capaz de fluir em um cenário de forte detalhamento pop e sempre aberto aos diferentes convidados. Em um terreno dominado por Criolo e Emicida, D2 precisa somente de algumas faixas para reforçar o próprio domínio e aprisionar o ouvinte em um ambiente radiofônico desbravado em totalidade apenas por ele. [+]

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Bruno SOuto

#37. Bruno Souto
Estado de Nuvem (Independente)

Não há quem já não tenha resgatado as mais sombrias e confessionais emanações de um coração partido. Contudo, em um cenário onde muito já foi feito e transformado em música, curioso observar como o cantor e compositor Bruno Souto encontrou uma brecha criativa para a condução da própria obra. Imerso no mesmo cenário nostálgico que define as composições da Volver, sua outra banda, o artista faz de Estado de Nuvem um registro que observa as angústias de um pós-relacionamento, sem perder a leveza e o brilho pop. Manipulado pelo uso de vocalizações melódicas e um instrumental que passeia por diferentes gêneros, o álbum praticamente transforma a tristeza em um produto a ser consumido, aberto aos diferentes públicos. Entretanto, a arquitetura “comercial” de faixas como Cansaço de forma alguma inviabilizam a construção de músicas consumidas de forma honesta pela melancolia. Do exagero de Se Você Quiser, no melhor estilo Odair José, ao dueto soturno em Por quê?, cada faixa representa um diferente comportamento do indivíduo. Um quebra-cabeça tragicômico que reflete com acerto um estágio de alegria e desespero, comportamento típico de um indivíduo que bate de frente com a solidão. [+]

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#36. Pierrot Lunar
Passagem Secreta (Independente)

A leveza do samba se confunde com o teor soturno do Pós-Punk em Passagem Secreta. Álbum de estreia do quarteto brasiliense Pierrot Lunar, o registro vai de encontro a tudo o que os grandes representantes da cena britânica conquistaram há três décadas – sem necessariamente se afastar da produção nacional. São transições líricas de forte apego melancólico, faixas que misturam álcool e abandono em um tratamento que mesmo confessional, jamais tende ao exagero. De um lado as ambientações soturnas de grupos como The Fall e The Smiths, no outro oposto, a estranheza que marca a obra da veterana Fellini e até traços que alimentaram o trabalho do sambista Cartola. Dentro desse turbilhão sombrio de referências tão específicas, músicas como Torrencial e Depois observam o isolamento do indivíduo em um detalhamento próprio, como uma trilha sonora para a noite e seus personagens. Os arranjos, sempre orquestrados em um ambiente específico, contribuem para o natural enclausuramento do ouvinte, que aos poucos parece incorporado ao texto e aos arranjos sombrios que dfinem a totalidade do álbum. [+]

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Felipe Cordeiro

#35. Felipe Cordeiro
Se Apaixone pela Loucura do Seu Amor (YB)

Ao amenizar a relação com a música paraense e se entregar de vez ao Brega/Pop, Felipe Cordeiro parece ter encontrado um novo princípio para a própria obra. Com produção dividida entre Kassin e Carlos Eduardo Miranda, Se Apaixone pela Loucura do Seu Amor parece brincar com o reforço tropical expresso em Kitsch Pop Cult (2012), porém, garantindo ao músico uma simplicidade muito mais atraente. O romantismo detalhista, observado de forma melódica em Louco Desejo e Saudade de Você, aproxima o cantor de um cenário atento de possibilidades, movimentação que passa pelas guitarras versáteis, típicas do músico, sem jamais se esquecer das delicadeza das palavras. Sustentado pelas declarações de Cordeiro, o disco vai da tristeza (“Eu só queria dizer que hoje eu senti uma puta saudade/ Saudade de você”) à sedução (“Quando ela surge de lambuja dentro do salão/ Nem o doutor percebe tanta contra-indicação”) em um exercício muito mais instigante que no primeiro disco. A prova exata de que evolução nem sempre precisa ecoar complexidade. [+]

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Rio Shock

#34. Rio Shock
Rio Shock EP (Som Livre)

João Brasil é insano. Depois de passar a última década brincando com o Indie e o Funk Carioca no maior acervo de Mashups do país, chega a vez do produtor voltar os ouvidos para os anos 1990. Seguindo a direção da cena estrangeira, principalmente a britânica, Brasil e os parceiros Dannie, Junior Teixeira e MC Sabará assumem com o Rio Shock uma espécie de regresso aos bons anos do Funk Carioca – antes da explosão comercial nos anos 2000. Cruzando referências que vão do R&B aos recortes específicos da Eurodisco, o trabalho de apenas quatro faixas ecoa tão próximo de Haddaway, quanto da dupla inglesa Disclosure. Impulsionado pelo Hit Moleque Transante – faixa que concentra um dos melhores vídeos nacionais do ano -, o álbum assume no canto melódico da vocalista e nas rimas cafajestes do parceiro um tratamento que vai do cômico ao provocante, sem prováveis divisões. Da cama de motel (Sensualizar) ao chão da pista de dança (Quebrete), cada música exerce uma função específica no decorrer da obra, que mesmo desenvolvida de forma despretensiosa, anuncia os prováveis rumos da “nova” cena carioca. [+]

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Herod

#33. Herod
Umbra (Sinewave)

O caos predomina no ambiente em branco e preto que orquestra a obra da paulistana Herod. Seguindo exatamente de onde Absentia havia estacionado em meados de 2010, Umbra assume na provocação das vozes e arranjos a abertura para um cenário ocupado em totalidade pelas trevas. Representação instrumental da mente perturbada de qualquer indivíduo, o registro coleciona na relação entre o Pós-Rock e as experimentações ambientais um fluxo naturalmente particular – nunca estático e sempre desafiador. Capaz de romper com o hermetismo inevitável do disco que o antecede, quando a banda ainda se chamava Herod Layne, a presente obra encontra na chegada de um seleto time de visitantes um natural complemento para os sons e versos que o definem. Seja nos ruídos ocasionais de Cadu Tenório (Sobre A Máquina/Ceticências) ou na voz desgastada de Jair Naves (posicionada de forma exata nos versos desesperadores de Limbo), cada instante do registro parece expandir os domínios da banda, consciente de todas as possibilidades e capaz de se esquivar das possíveis limitações com uma maturidade rara. [+]

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Garotas Suecas

#32. Garotas Suecas
Feras Míticas (Independente)

Desacelerar e observar com atenção as próprias melodias. Essa parece ser a estratégia encontrada pelo Garotas Suecas para o segundo registro em estúdio da banda, Feras Míticas. Construído em uma atmosfera de forte distanciamento do resultado exposto em Escaldante Banda (2010), o novo disco pode até diminuir o teor eufórico das primeiras canções do grupo, mas parece ter revelado um novo jogo de possibilidades para o grupo – e também para o ouvinte. A relação com a década de 1970, antes impulsionada pela música nacional, agora aporta em território estrangeiro, trazendo na construção de faixas como L.A. Disco e Eu vou sorrir pra quem é gente boa uma forte relação com o Groove da música negra estadunidense. A própria melancolia, antes dosada por guitarras velozes e arranjos ensolarados, agora mergulha de forma sutil na amargura dos acordes, direção que abre espaço para a construção de músicas como Pode Acontecer. O novo fluxo garante ao registro um caráter de imprevisibilidade, sustentando a maturidade do álbum ao mesmo tempo em que um toque de recomeço trata de abastecer a estética da banda. Um disco que serve para dançar, mas a passos lentos. [+]

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Lucas Vasconcellos

#31. Lucas Vasconcellos
Falo De Coração (Agente Digital/Bolacha Discos)

Discutir relacionamentos ou apenas falar sobre amor nunca foi encarado de forma óbvia pelo cantor Lucas Vasconcellos. Enquanto ao lado da esposa, Letícia Novaes, o músico fez do Letuce uma desarticulação dos clichês encontrados em outros projetos do gênero, ao embarcar em carreira solo, Vasconcellos assume no enclausuramento lírico a base para um cenário raramente visitado por outros artistas. Distante de versos acessíveis ou arranjos que se aproximem de uma atmosfera convencional, o músico faz de cada faixa do sublime Falo De Coração um espaço aberto ao uso de experimentos controlados. Não há começo, fim ou possível ordem entre as músicas, efeito que expande o intencional desconforto instalado na abertura do álbum. São músicas como Eu Não vou chorar por fora, capaz de distorcer a Bossa Nova e fragmentar os exageros da MPB em um cenário doloroso, específico do disco. Mesmo a tristeza, provável mecanismo de relação entre as faixas, segue na contramão de outras obras próximas, ausente de versos práticos e sons acessíveis, mas que, curiosamente evitam a fuga do ouvinte. A dor é complexa, e Vasconcellos parece entender bem isso. [+]

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.