Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 08/06/2011

Arnaldo Antunes
Brazilian/Alternative/Rock
http://www.arnaldoantunes.com.br/new/

 

Por: Cleber Facchi

Durante anos Arnaldo Antunes era um quase sinônimo do que havia de mais estranho na música brasileira. Unindo poesia, artes visuais e algo que soava como uma anti-música, o cantor e poeta paulistano (ex-integrante dos Titãs) levou boa parte dos ouvintes em território nacional a experimentarem novas fórmulas e sensações dentro do meio musical. Porém, este não é o mesmo Antunes que em 2009 apresentou seu nono e mais acessível disco já projetado em sua carreira, deixando de lado o experimentalismo de outras épocas e partindo em busca do bom e velho Rock ‘n’ Roll.

Parecia improvável que o responsável por trabalhos tão singulares como Nome (1993) – álbum lançado em CD e VHS, basicamente composto de poemas visuais – O Silêncio (1996) ou Um Som (1998) pudesse se voltar a produzir algo genuinamente radiofônico. Entretanto é justamente isso que o músico faz em Iê Iê Iê (2009), abandonando parcialmente sua excentricidade e desenvolvendo um álbum fácil, claramente inspirado pela Jovem Guarda e toda a gama de sons originários dos anos 60.

Entretanto, observar o nono álbum de Antunes como um disco separado de sua discografia torna-se um estrondoso erro. Muito do que é revelado dentro do disco vem de um longo processo de aproximação entre o compositor e seu lado pop, esquecido desde os tempos gloriosos do Titãs. Logo após a parceria com Marisa Monte e Carlinhos Brown através do Tribalistas em 2002, que o músico pode reviver um tipo de som menos denso que aquele explorado em suas primeiras aventuras em carreira solo, tanto que em seus discos seguintes, Saiba (2004) e Qualquer (2006), os sons e as temáticas abordadas eram completamente outras.

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As canções antes tomadas por tema existenciais, filosóficos ou que apresentavam aos ouvintes uma nova forma de se deparar com o amor, agora chegam carregadas de uma linguagem muito mais fácil, esbanjando temas cotidianos. O cruzamento de versos soa de forma bem mais agradável, em um espaço em que Antunes não brilha individualmente, mas abre espaço para que uma série de convidados o auxiliem na construção das composições. Os antigos parceiros do Titãs e do Tribalistas, o produtor e compositor Liminha e até a nova safra de compositores representada por Marcelo Jeneci se fazem presentes através dos versos abordados no álbum.

Além das bem resolvidas composições, Iê Iê Iê é um trabalho que se destaca por sua instrumentação. Tal resultado vem especificamente pelo conjunto de músicos que dão vida às formas instrumentais do álbum, concentrando Curumin na bateria, Edgar Scandurra nas guitarras e violões, Betão Aguiar assumindo o baixo, enquanto Jeneci se divide entre os órgãos, teclados e bateria.

Mesmo o variado corpo de instrumentistas e os hábeis versos desenvolvidos ao longo do álbum não fluiriam coerentemente sem o auxilio de Fernando Catatau (Cidadão Instigado) na produção do trabalho, que vem para amarrar todas essas referências, além de dar ao registro certo toque de rock antigo e empoeirado. Gravado entre os meses de agosto e outubro de 2008 no Totem Estúdio em São Paulo,  Iê Iê Iê obteve boa repercussão dentro da imprensa nacional, resultando no ano seguinte ao seu lançamento um DVD Ao Vivo concentrando boa parte do repertório do álbum.

Iê Iê Iê (2009)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Marcelo Jeneci, Cidadão Instigado e Otto
Ouça: Envelhecer

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.