Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 12/01/2012

Sleater-Kinney
Indie Rock/Punk/Alternative
1994 – 2006

Por: Cleber Facchi

Ao final de 2005 muito provavelmente o movimento riot grrrl já não fosse mais do que um mero resquício de todas as intervenções e experiências estabelecidas ao longo da década de 1990. Com os ideais feministas praticamente difundidos (embora vagamente compreendidos) e uma vasta geração de ouvintes desprovidos dos mesmos pensamentos contestador de outrora, fazer rock utilizando as lutas de gêneros como principal engrenagem para as composições talvez já não fosse algo natural para qualquer grupo musical daquele momento. Entretanto, ainda era necessário um último suspiro ou grito para que isso fosse finalizado.

Lançado em maio de 2005, The Woods, sétimo álbum da banda de Sleater-Kinney, talvez seja o último e mais fiel tratado musical relacionado ao gênero, feito que a tríade de integrantes justificam por meio do uso de guitarras marcadas pela distorção, aspirações à música punk e letras integralmente politizadas. Primeiro trabalho do grupo com o selo Sub Pop (parte dos álbuns anteriores foram lançados pela Kill Rock Stars), o álbum se evidenciaria não apenas como a última grande obra do movimento a que estava atrelado, mas também como último disco da carreira da banda.

Formada no começo da década de 1990 na cidade de Olympia, Washington, a banda não apenas parecia absorver as experiências propostas por Kathleen Hanna através do Bikini Kill (uma das bandas precursoras do movimento Riot), mas encontrava na explosão do movimento grunge e de toda a expansão do rock alternativo na região noroeste dos Estados Unidos uma fonte inesgotável de referências. Dessa forma, é possível observarmos diferentes referências musicais ao passarmos pela discografia da banda, que se alimenta tanto de Sonic Youth, como de outros grandes grupos que atravessaram as décadas de 80 e 90.

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Cru e marcado pela inclusão constante de solos ruidosos, o sétimo registro do Sleater-Kinney parece explorar melhor o uso de melodias acessíveis e composições abertas aos demais públicos, algo facilmente compreendido nos minutos iniciais de The Fox, canção de abertura do trabalho. Mesmo que a sujeira esteja por todos os cantos do registro, o uso de letras fortes e facilmente assimiláveis ao lado de guitarras “pegajosas” abre espaço para que a banda possa circular por entre públicos não específicos, algo também observado no trabalho de artistas como Pixies e Pavement, que parecem deixar suas marcas no interior do álbum.

Mesmo que The Woods e as melodias sujas que dele brotam ainda funcione como um trabalho essencial, três anos antes ao lançamento do memorável disco a banda já havia alcançado uma incontestável maturidade ao apresentar o também ruidoso One Beat (2002). Mais distinto registro da carreira da banda até então e álbum que abriu os versos propostos no registro para além do foco feminista, o disco de 12 faixas estabelecia um novo mundo de possibilidades ao grupo encabeçado por Carrie Brownstein (atualmente uma das vocalistas do Wild Flag), que provavelmente seguiria uma carreira sólida se não fosse o hiato estabelecido ao final de 2006.

Se a partir deste disco a cena Riot perderia o brilho revoltoso de outrora (mesmo Kathleen Hanna já não era dona do mesmo espírito de outras épocas), por outro lado o álbum – e o restante da discografia da banda – serviria como base para toda uma vertente de grupos que nasceriam em alguns anos. Bandas como o Vivian Girls, Dum Dum Girls e toda uma vertente de projetos compostos apenas por garotas e que mesmo não dotadas do mesmo tom reacionário presente no Sleater-Kinney, ainda carregariam um fino resquício em suas produções.

The Woods (2005, Sub Pop)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Wild Flag, Cadellaca e Bikini Kill
Ouça: Let’s Call It Love e Entertain
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.