Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 11/02/2011

Lucas Santtana
Brazilian/Experimental/Alternative
http://www.myspace.com/santtana

Por: Cleber Facchi

Como gravar um disco inteiro se valendo apenas de voz e violão sem soar enfadonho ou acabar caindo na fórmula pronta da bossa nova? Existem maneiras de fugir do famigerado “banquinho e violão”? A resposta para esse e outros problemas estão em Sem Nostalgia (2009), quarto trabalho de estúdio de Lucas Santtana que prova o quanto o básico pode ser invertido e transformado em um projeto criativo e de qualidades imensuráveis.

Antes de tudo entenda que esse disco foi inteiramente gravado apenas com o uso de voz e violão. Calma, mas e as batidas, a percussão e todos os outros efeitos? Tudo feito no violão. Entretanto, isso não quer dizer que o uso adequado de pedais, microfones diferentes, softwares, técnicas e efeitos de gravação não pudessem ser utilizados. Samplers de sons de insetos, pássaros, elementos da natureza e demais ruídos adicionais também foram empregados, porém todos os componentes restantes se resumem à presença única de vocais e violão, seja lá de que maneira sejam utilizados.

Para dar vida ao disco, Santtana se rodeou de um número bem expressivo de músicos e produtores, responsáveis por dar forma às pequenas composições. Super Violão Mashup que abre o álbum foi inteiramente construída com recortes de músicas de Gilberto Gil, Tom Zé, Jorge Bem Jor, Novos Baianos, Baden Powell e demais nomes da música brasileira, o mesmo acontece com O Violão de Mario Bros, mais para o fim do disco. Enquanto a primeira teve produção de Lucas Martins e Gustavo Lenza, a segunda contou com João Brasil.

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Who can say which way ao lado dos cariocas da Do Amor faz parecer que o instrumento único se desdobra em caráter de banda, feito que se repete em I can’t live far from my music com Régis Damasceno (Cidadão Instigado) tocando violão de 12 cordas e Kabo Duca transformando o instrumento em mecanismo de percussão. Para as excelentes Cira, Regina e Nana e Amor em Jacumã, Curumin se faz de responsável pelo arranjo de percussão, uso de samplers e efeitos dessas composições, que também conta com a presença de Buguinha Dub, para deixar sua marca. Surge ainda Rica Amábis (Insituto e 3 Na Massa) em Recado para Pio Lobato.

Embora LS se desdobre na produção do trabalho é Berna Cerpas quem assume o comando das climáticas Hold me in e Natureza #1 em Mi Maior, essa tendo o violão apenas como plano de fundo, acabando numa orquestra de grilos e cigarras. O trabalho conta ainda com Chico Neves produzindo Who can say which way e Ripple of the water, sendo essa segunda gravada dentro do Jardim Botânico no Rio de Janeiro.

Sem Nostalgia é um trabalho que como o próprio nome deixa dito, desprende-se de qualquer fórmula ou padronização feita no passado em prol de uma linguagem nova e contemporânea. Lucas Santtana não apenas desce do banquinho e abandona o dedilhar do violão, como converte o mesmo banquinho em instrumento musical e fragmenta o violão de uma maneira que se transforme em tudo. A bossa nova surge realmente “nova” e vem cheia de frescor, um disco que não interessa apenas aos “iniciados” nesse som, mas um caminho (mais fácil) para quem pretende se entregar a esse “gênero” da música popular brasileira.

Sem Nostalgia (2009)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Curumin, Rômulo Fróes e Cidadão Instigado
Ouça:  Who can say which way

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.