Radiohead
British/Alternative/Electronic
http://radiohead.com/
Por: Cleber Facchi
As batidas sinéticas e guitarras robóticas anunciam: O Radiohead veio com a revolução. Mais uma vez. Exatamente uma década depois de dar vida ao clássico OK Computer (1997) e passadas as experimentações que consolidaram Kid A (2000), In Rainbows (2007, Independente) mergulharia novamente o grupo britânico em um cenário instável e de transformações contínuas. A diferença não está no completo desapego de sons comerciais, na instrumentalização da voz de Thom Yorke ou nas tramas ambientais que discutiam amor, política e outros temas existenciais, mas na forma como o registro seria lançado e entregue ao público.
“Quanto você quer pagar pelo disco?”, essa foi a pergunta estabelecida pelo quinteto para a comercialização do novo álbum – sétimo registro em estúdio da banda, e o primeiro trabalho desde Pablo Honey (1993) que não foi lançado pelo selo Parlophone, braço da EMI. Construído em cima de um sistema em que o ouvinte decidiria quanto pagar pelo disco – poderia ser nada ou variações de preço que resultariam até em versões físicas da obra -, ao se livrar de uma gravadora a banda não apenas garantiria um lucro (quase) integral em cima do disco, como apresentava uma solução segura (pelo menos para o Radiohead) de como sobreviver em meio a queda da Industria fonográfica e o completo descontrole da pirataria.
Ainda que os números e o resultado das vendas seja de conhecimento apenas do grupo e seus empresários, os próprios membros já revelaram que In Rainbows foi o trabalho “mais lucrativo da carreira do grupo”. Mais do que uma tática de comercialização bem sucedida, o álbum serviu para alavancar a carreira dos britânicos, apresentando a banda a toda uma variedade de novos ouvintes. Além da bem sucedida turnê que levou a banda a quase todos os continentes, o registro contou com um efeito curioso quando lançado em formato físico: alcançou o primeiro lugar das vendas na Inglaterra, isso sem contar com a venda de mais de 100 mil cópias do box especial com músicas extras.
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Se a estratégia de venda do álbum deu certo, parte do sucesso vem do grupo em planejar um trabalho musicalmente coeso e transformador – mesmo dentro da rica discografia do quinteto. Construído ao longo de dois anos, o álbum traz na parceria com o produtor Nigel Godrich um exercício extremamente detalhista. Enquanto os vocais de Yorke surgem límpidos e audíveis (completo oposto ao que fora testado nos três álbuns anteriores), a instrumentação escapa do cenário abstrato que o grupo vinha produzindo desde o ápice com Kid A. Das batidas de 15 Step, passando pelas guitarras rasgadas de Bodysnatchers até o clima crescente de Jigsaw Falling Into Place, In Rainbows se sustenta como um regresso às marcas do rock alternativo na década de 1990, principalmente no que flutua no universo de The Bends (1995).
Apostando em letras essencialmente confessionais e em diversos instantes mergulhadas em uma atmosfera intimista, Yorke faz de músicas como All I Need, Faust Arp e Videotape exemplares sublimes da delicadeza que se expande pela obra. São faixas consumidas pela mesma amargura que apresentou o grupo com Fake Plastic Trees ou No Surprises, sobrepondo instrumentos de forma delicada e sempre emocional. Dentro dessa lógica o disco passeia entre composições ora raivosas (Bodysnatchers), ora acolhedoras (Nude), costurando tudo com uma camada de efeitos eletrônicos muito similares ao que fora testado quatro anos antes com Hail to the Thief (2003) e posteriormente expandidos em The King Of Limbs (2011).
Distante do que a banda parecia inclinada a seguir, o disco se sustenta em cima de conceitos e experiências musicais próprias. Mesmo que o álbum reviva uma série de elementos previamente testados pelos britânicos, a forma como tudo é orquestrado revela um percurso de ineditismos que se estendem de 15 Step até o fechamento doloroso de Videotape. Seja na forma como foi apresentado, na maneira como foi construído ao vivo, ou simplesmente no espaço de 42 minutos da versão de estúdio, In Rainbows é um ponto claro de transformação, não apenas na carreira do Radiohead, mas da cena musical recente como um todo.
In Rainbows (2007, Independente)
Nota: 9.5
Para quem gosta de: Thom Yorke, Atoms For Peace e Ultraísta
Ouça: O disco todo.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.