Resenha: “A Shadow In Time”, William Basinski

/ Por: Cleber Facchi 25/01/2017

Artista: William Basinski
Gênero: Experimental, Ambient, Drone
Acesse: https://williambasinski.bandcamp.com/

 

Mesmo sem dizer uma só palavra, os trabalhos de William Basinski sempre foram marcados pela emoção e força dos sentimentos. Basta uma rápida passagem pela série The Disintegration Loops (2003) ou mesmo obras recentes, caso de Cascade / The Deluge (2015), para perceber como os ruídos e ambientações assinadas pelo músico nova-iorquino se dobram de forma a reproduzir um som melancólico, tocante. Experimentos capazes de exaltar o que há de mais amargo no universo de qualquer indivíduo.

Em A Shadow In Time (2017, Temporary Residence), mais recente invento autoral de Basinski, cada fragmento, ruído ou mínima distorção assinada pelo produtor norte-americano se projeta como uma delicada homenagem ao músico britânico David Bowie (1947 – 2016). Em produção desde o começo do último ano, semanas após a morte do camaleão do rock, o álbum de apenas duas faixas encanta pela ambientação melancólica que sutilmente arrasta o ouvinte para dentro do registro.

Composição de abertura do trabalho, a extensa For David Robert Jones mostra a capacidade de Basinski em manter a atenção do ouvinte em alta durante mais de 20 minutos de duração. Orquestrada com sutileza, a faixa ocupa grande parte dos cinco minutos iniciais com a lenta sobreposição de ruídos e sintetizadores em loop, como se o nova-iorquino provasse da mesma temática experimental de artistas como Keith Fullerton Whitman e outros veteranos da música ambiental.

Sem pressa, Basinski detalha pequenas quebras, interferências angustiadas e ambientações que tocam de leve na obra do canadense Tim Hecker. Como um sinal, a partir de 6:05, uma espécie de sirene atravessa a massa de sons atmosféricos criados pelo músico. Instantes de breve ruptura, como se o artista provasse da mesma quebra conceitual assumida por Bowie durante o período criativo que resultou na famigerada “Era Berlim” – Low (1977), “Heroes” (1977) e Lodger (1979).

Segunda canção do disco, a faixa que dá título à obra mostra o esforço de Basinski em provar de um som complexo e acolhedor na mesma medida. Enquanto os primeiros minutos da composição parecem saídos de algum trabalho de Brian Eno no final dos anos 1970, em poucos segundos, o produtor norte-americano convida o ouvinte a provar de um curioso acervo de melodias minimalistas, colagens atmosféricas e temas eletrônicos que parecem planejados de forma a hipnotizar o público.

Claramente pensado para as apresentações ao vivo de Basinski, A Shadow In Time mostra a força do artista nova-iorquino, capaz de atrair o ouvinte para dentro de um ambiente marcado pela incerteza dos arranjos e temas instrumentais. São pouco mais de 40 minutos de duração, tempo suficiente para que William Basinski prove de diferentes sonoridades, ruídos e temas instrumentais de forma instável, fazendo de A Shadow In Time um novo e precioso registro dentro da extensa discografia do músico.

 

A Shadow In Time (2017, Temporary Residence)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Tim Hecker, Jefre Cantu-Ledesma e Stars of the Lid
Ouça: For David Robert Jones

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.