Resenha: “Disco Demência”, Hierofante Púrpura

/ Por: Cleber Facchi 05/12/2016

Artista: Hierofante Púrpura
Gênero: Rock Alternativo, Psicodélico, Experimental
Acesse: https://hierofantepurpura.bandcamp.com/

Foto: Hendi DuCarmo

“Seremos a banda do ano?”, pontua o coro de vozes ensandecidas nos instantes finais de Cachorrada. Ainda que o questionamento seja apenas um fragmento complementar à cômica narrativa assinada por Danilo Sevali, difícil passear pelas canções de Disco Demência (2016, Balaclava Records), mais recente álbum da Hierofante Púrpura, e não perceber o registro como um dos trabalhos mais significativas da cena independente nos últimos meses.

Resultado da ativa interferência de cada integrante da banda – além de Sevali (voz, teclados, guitarra), completa com Helena Duarte (baixo, voz), Gabriel Lima (guitarra, voz) e Rodrigo Silva (bateria) –, o álbum construído a partir de cinco composições extensas reflete o que há de melhor no material produzido pelo grupo de Mogi das Cruzes: a loucura. Em um intervalo de apenas 40 minutos, cada canção se transforma em um experimento torto, insano.

Um bom exemplo disso está na curiosa montagem de Acalenta Lua, segunda faixa do disco. Inaugurada pelo canto arrastado dos integrantes, a canção de melodias inebriantes se espalha sem pressa, detalhando delírios típicos do trabalho de Arnaldo Baptista no clássico Lóki? (1974). No segundo ato da canção, uma quebra brusca. Pianos melancólicos que flutuam em meio ao som ruidoso que escapa das guitarras de Lima. Distorções, batidas e vozes que dançam em meio a pequenas curvas rítmicas.

Mesmo que a relação com o trabalho de gigantes da música psicodélica seja percebida durante toda a construção da obra, faixa após faixa, o quarteto paulista se concentra na formação de uma identidade musical própria. No interior de cada composições, diferentes blocos instrumentais, sempre complexos, ricos em detalhes e texturas. Uma constante sensação de que pequenos fragmentos vindos de diversas canções foram espalhados de forma aleatória no interior do trabalho.

Sucessor do mediano A Sutil Arte de Esculhambar Música Alheia (2014), Disco Demência traz de volta a mesma colagem de referências e temas originalmente testados pela banda no EP Transe Só, de 2011. Instantes em que o quarteto passeia entre o rock psicodélico da década de 1970 e a cena alternativa dos anos 1990, conceito explícito na delicada construção da dobradinha Colapso Colorido e O Óxido da Rotina. Dois atos extensos em que o ouvinte é transportado para diferentes cenários e ambientações.

Vozes declamadas, quase cênicas, em Baratas (elas continuam as mesmas), o ritmo crescente no interior de Cachorrada, guitarras minimalistas se espalham durante toda a construção de Colapso Colorido. Dividido com naturalidade entre a leveza e o caos, Disco Demência se projeta como o trabalho mais complexo de toda a discografia do grupo paulista. Uma perfeita síntese do extenso catálogo de ideias, referências e composições produzidas pela banda em mais de uma década de carreira.

 

Disco Demência (2016, Balaclava Records)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Carne Doce, Catavento e Séculos Apaixonados
Ouça: Colapso Colorido, Cachorrada e Acalenta Lua

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.