Image
Críticas

Cupcakke

: "Ephorize"

Ano: 2018

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Charli XCX e Kamaiyah

Ouça: Cryons e Cartoons

8.0
8.0

Resenha: “Ephorize”, Cupcakke

Ano: 2018

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Charli XCX e Kamaiyah

Ouça: Cryons e Cartoons

/ Por: Cleber Facchi 11/01/2018

Elizabeth Eden Harris, ou como vem se apresentando, Cupcakke, está longe de parecer uma novata dentro da presente cena do Hip-Hop norte-americano. Ainda que as recentes colaborações com a britânica Charli XCX, em Number 1 Angel e Pop 2, tenham servido para alavancar a carreira da rapper original de Chicago, Illinois, sobram registros autorais, boas composições e rimas afiadas que sustentam o trabalho da artista norte-americana de forma sempre provocativa, independente de possíveis conexões ou projetos com outros representantes do gênero.

Prova disso está na produção do terceiro e mais recente álbum de inéditas da rapper, Ephorize (2018, Independente). Vindo em sequência a dois ótimos registros, Audacious (2016) e Queen Elizabitch (2017), além, claro, de mixtapes como Cum Cake e S.T.D (Shelters to Deltas), ambas de 2016, o trabalho de 15 faixas e pouco menos de 50 minutos de duração reflete não apenas o amadurecimento da artista, como entrega ao público um bem-servido cardápio de versos. Canções marcadas pela forte sexualidade e fina exposição de Harris, postura reforçada desde os primeiros registros em estúdio.

Perfeita síntese da obra, Duck Duck Goose sustenta na erótica construção dos versos a base para o restante do trabalho. Entre gemidos e batidas, Cupcakke rima: “Olhe para o seu pau e diga que não vou decepcioná-lo … Posso fazer seu pau se levantar (você está pronto?) / Como a Estátua da Liberdade, uma vez que nós fodemos (tão forte)”. A mesma rima suja volta a se repetir na explícita Spoiled Milk Titties: “Vamos foder no chão, isso é real sujo (sujo) / Estou lendo seu corpo, seu nerd (nerd) / Este gato teve nove vidas, então conseguimos nove rodadas / Até que esta buceta seja enterrada (enterrada)“.

Mesmo dentro desse universo de profunda exposição, Cupcakke aproveita para reforçar um dos principais temas dentro da própria discografia: o diálogo com a comunidade LGBT. Composição que melhor representa esse conceito, Cryons — referência direta às cores da bandeira arco-íris do movimento —, mantém a carga erótica do restante da obra, porém, reforça a todo instante a luta contra o preconceito — “O amor é amor, e quem se importa? (e quem se importa?) / Menina com menina, eles dizem ‘sim’ / Mas quando é homem no homem, eles gostam ‘nojo’“.

Em Cartoons, segunda faixa do disco, um curioso (e naturalmente cômico) ponto de conexão entre grande parte das ideias e temas que abastecem o trabalho. Ao mesmo tempo em que passeia pelo universo LGBT, mergulha no cotidiano caótico de qualquer centro urbano e discute a própria sexualidade, Cupcakke aproveita para brincar com uma série de referências da infância, distorcendo personagens como Bob Esponja, Scooby Doo, Johnny Bravo e, principalmente, os Smurfs — “Dê-lhes um pau de Smurf, com bolas azuis“.

Tão provocativo quanto o material que vem sendo produzido pela rapper desde os singles Vagina e Deepthroat, Ephorize chega até o público como o trabalho mais complexo e maduro da curta discografia da rapper. Assim como nas canções apresentadas em Queen Elizabitch, Cupcakke decidiu seguir com um time limitado de colaboradores, assumindo individualmente a construção dos versos, sem participações especiais, e entregando toda a base do disco para a dupla formada por Def Starz e Turreekk. O resultado não poderia ser outro: uma obra marcada pela homogeneidade das batidas, porém, completamente caótica na forma como Harris continua a brincar com os versos.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.