Resenha: “Fio da Memória”, Luísa Maita

/ Por: Cleber Facchi 24/11/2016

Artista: Luísa Maita
Gênero: Eletrônica, Samba, Alternativa
Acesse: http://www.luisamaita.com.br/

 

A imprevisibilidade talvez seja o principal traço do trabalho de Luísa Maita em Fio da Memória (2016, Cumbancha). Produzido em parceria com o músico Zé Nigro, o sucessor do elogiado Lero-Lero (2010), obra que apresentou a cantora e compositora paulistana ao grande público, reforça a essência experimental e naturalmente inventiva da artista. Uma quebra brusca em relação ao samba melódico e a voz limpa que orienta as canções do trabalho entregue há seis anos.

Com uma “gestação prolongada”, como resume o texto de apresentação do disco, o novo álbum precisou de quase meia década até ser finalizado. Em produção desde 2012, Fio da Memória nasce como uma extensão torta do material entregue por Maita no primeiro álbum de inéditas. Entre ruídos e bases eletrônicas, crônicas musicadas que dialogam com o samba, incorporam elementos tribais e diferentes gêneros musicais, como o jazz e o rock.

A julgar pelo preciosismo que orienta Ela, sétima canção do disco, é fácil perceber porquê o novo álbum de Maita levou tanto tempo até ser finalizado. Perceba como sintetizadores se espalham sem pressa ao fundo da canção, hipnóticos. Um jogo de batidas e vozes que se completam lentamente, resultando em uma canção que sussurra detalhes na cabeça do ouvinte. O mesmo cuidado acaba se refletindo em outros instantes do disco, seja na euforia de Porão ou no sopro tímido da derradeira Jump.

Composição escolhida para inaugurar o disco, a eletrônica Na Asa é apenas a ponta do imenso iceberg criativo que caracteriza o trabalho. A voz chiada, batidas cíclicas, entalhes econômicos. Longe da exposição imediata dos elementos, Maita e o parceiro de produção, Tejo Damasceno, uma das metades do Instituto, parecem jogar com o minimalismo dos arranjos. Minúcias, segredos e pequenas sobreposições que se espalham de forma a completar a voz firme da cantora.

Também responsável por outras duas faixas do disco, Jump e Volta, Damasceno talvez seja o principal responsável pelo forte diálogo de Fio da Memória com o Hip-Hop. Perceba como os versos lançados em músicas como Volta e Porão chegam até o ouvinte em porções, falseando rimas e textos semi-declamados. Mesmo a tapeçaria eletrônica do registro se aproveita da mesma estética urbana do gênero, detalhando beats e loops cirúrgicos do primeiro ao último instante do trabalho

Dividido entre pequenos turbilhões instrumentais, caso da intensa Olé, e faixas essencialmente econômicas, como Sutil e Around You, Fio da Memória encanta pela diversidade. Samba, jazz, eletrônica, rock, pop. Diferentes estilos e conceitos musicais que se curvam de forma a atender o canto versátil de Maita durante toda a construção do álbum. Curvas, quebras e pequenas fugas rítmicas, como uma lenta desconstrução de tudo aquilo que a cantora havia originalmente testado no antecessor Lero-Lero.  

 

Fio da Memória (2016, Cumbancha)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Céu, Mariana Aydar e Roberta Sá
Ouça: Olé, Volta e Ela

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.