Resenha: “Lado Turvo, Lugares Inquietos”, maquinas

/ Por: Cleber Facchi 03/06/2016

Artista: maquinas
Gênero: Alternative, Experimental, Post-Rock
Acesse: https://maquinas.bandcamp.com/

Fotos: Taís Monteiro / Breno Baptista / Flavio Benevides

Lado Turvo, Lugares Inquietos. Não é difícil se perder no interior das canções produzidas pelo grupo cearense maquinas. Dos versos descritivos, lamúrias e histórias que movimentam a obra, passando pela densa base atmosférica que se espalha do primeiro ao último ato de cada composição, todos os elementos que abastecem o obscuro registro parecem pensados de forma cercar e sufocar o ouvinte. Um cenário melancólico, essencialmente caótico e sujo como o próprio título do álbum parece indicar.

A TV sempre ligada / Minha cama desfeita / E eu me sinto bem / No mundo que eu criei“, confessa a voz arrastada da inaugural Quarto Mudo enquanto uma rica tapeçaria instrumental cresce lenta e delicadamente. São pouco mais de 10 minutos de ruídos, sobreposições etéreas e distorções que preparam o terreno para o restante da obra. Um acervo econômico, propositadamente restrito, porém, atrativo pela forma como cada composição revela ao público um mundo de detalhes e fórmulas instáveis.

Aos comandos de Allan Dias (voz/baixo), Roberto Borges (voz/guitarras), Samuel Carvalho (voz/guitarras/samples) e Ricardo Guilherme Lins (bateria), Lado Turvo, Lugares Inquietos se revela como uma extensão segura do trabalho produzido pela banda no homônimo EP de 2014. Trata-se de uma obra que precisa ser explorada com atenção. Ao fundo de cada música, um mundo de texturas ruidosas, diálogos e vozes que dialogam com a lenta base instrumental produzida pelo quarteto.

Um bom exemplo disso está na versátil manipulação dos arranjos em Zolpidem. Velha conhecida do público fiel da banda, a canção originalmente apresentada em junho do último ano se parte em diferentes atos e variações rítmicas, crescendo e encolhendo durante pouco mais de nove minutos. Enquanto os versos surgem de forma declamada – “E a luz começava a cair de novo / Mas não era dia nem era noite” –, uma chuva de guitarras cobre todo o fundo da canção, mergulhando no mesmo som climático de artistas como Mogwai e Explosions In The Sky.

Música mais extensa do disco, Drive By é outra que encanta pela composição instável dos arranjos. Enquanto a primeira metade da faixa revela ao público um som quase “ensolarado”, acessível, como uma fuga do material cinzento que preenche a obra, em instantes, uma avalanche de ruídos muda completamente a estrutura da canção. Uma passagem para um cenário completamente experimental, sujo, conceito que muito se aproxima de gigantes como Sonic Youth e My Bloody Valentine, mas que em nenhum momento se distancia do som originalmente proposto pelo grupo de Fortaleza.

A mesma estrutura não linear dos arranjos acaba conduzindo de forma assertiva a construção de grande parte dos versos ao longo do trabalho. Como um mosaico de ideias e recordações, cada uma das seis composições do disco se fragmentam entre sussurros declamados, diálogos imaginários e cenas descritivas, ampliando o labirinto de ideias e emoções que se espalha sem pressa até a chegada da derradeira Heitor.

 

Lado Turvo, Lugares Inquietos (2016, Bichano Records)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Nvblado, E a Terra Nunca me Pareceu Tão Distante e Jonathan Tadeu
Ouça: Quarto Mudo, Zolpidem e Heitor

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.