Resenha: “Near to the Wild Heart of Life”, Japandroids

/ Por: Cleber Facchi 27/01/2017

Artista: Japandroids
Gênero: Rock, Alternativo, Indie Rock
Acesse: http://japandroids.com/

 

Celebration Rock (2012) garantiu ao duo canadense Japandroids a possibilidade de amadurecer em estúdio. Entre guitarras ensurdecedoras e versos pegajosos, vide faixas como Fire’s Highway e The House That Heaven Built, o segundo registro de inéditas da dupla formada por Brian King e David Prowse passeia por diferentes fases do rock norte-americano, costurando ruídos, batidas e vozes sempre intensas, proposta que custa a se repetir em Near to the Wild Heart of Life (2017, ANTI-).

Terceiro e mais recente álbum de estúdio da dupla de Vancouver, o registro abastecido por oito canções inéditas — uma tradição dentro da discografia do Japandroids —, se apresenta ao público de forma explosiva logo nos primeiros minutos, fazendo da autointitulada música de abertura um estímulo para o restante da obra. A mesma energia e jovialidade explícita no trabalho lançado há cinco anos, mas que acaba se perdendo à medida que o duo avança pelo disco.

Caminhando em sentido oposto ao registro de 2012, em que parte expressiva das canções pareciam se completar, cada composição do novo disco se projeta como um ato isolado, independente. Instantes em que o duo canadense mergulha no noise-rock, como em I’m Sorry (For Not Finding You Sooner), para logo em seguida flertar com temas eletrônicos e sintetizadores, marca da extensa Arc Of Bar, com pouco mais de sete minutos de duração. Uma colagem de ideias e referências que torna a audição do registro confusa em diversos momentos.

Trabalho mais “experimental” de toda a curta discografia do Japandroids, Near to the Wild Heart of Life parece costurar diferentes sonoridades de forma propositadamente instável, bagunçando a essência da dupla canadense. Um bom exemplo disso está em North East South West, música que soa como algum clássico de Bruce Springsteen no começo dos anos 1980 ou mesmo True Love And A Free Life Of Free Will, composição que quebra parte expressiva do som incorporado pela banda durante o lançamento de Celebration Rock.

Interessante perceber na construção dos versos uma forte coerência e profundo lirismo. São canções que detalham o natural isolamento dos indivíduos (Near to the Wild Heart of Life), confessam paixões (True Love and a Free Life of Free Will) e ainda refletem as angústias de um mesmo personagem (No Known Drink or Drug). Versos intimistas e citações diretas ao trabalho de escritores como James Joyce e, principalmente, a brasileira Clarice Lispector, cujo livro Perto do Coração Selvagem (1943) serviu de inspiração para parte expressiva das letras.

Instável, mas nem por isso menos interessante, o trabalho mostra o esforço da dupla em escapar de uma possível zona de conforto. O mesmo desejo de mudança explícito em outras obras recentes, como Local Business (2012) do Titus Andronicus e Glass Boys (2014) do Fucked Up. Entre composições que respeitam o som acessível (e intenso) produzido pela banda no último álbum, vide No Known Drink Or Drug, a passagem para um novo e ainda incerto mundo de possibilidades.

 

Near to the Wild Heart of Life (2017, ANTI-)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Cloud Nothings, Male Bonding e Titus Andronicus
Ouça: Near to the Wild Heart of Life e No Known Drink or Drug

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.