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Críticas

Leon Vynehall

: "Nothing Is Still"

Ano: 2018

Selo: Ninja Tune

Gênero: Eletrônica, Deep House

Para quem gosta de: Kornél Kovács e John Talabot

Ouça: English Oak (Chapter VII) e Envelopes (Chapter VI)

8.0
8.0

Resenha: “Nothing Is Still”, Leon Vynehall

Ano: 2018

Selo: Ninja Tune

Gênero: Eletrônica, Deep House

Para quem gosta de: Kornél Kovács e John Talabot

Ouça: English Oak (Chapter VII) e Envelopes (Chapter VI)

/ Por: Cleber Facchi 27/06/2018

Uma obra guiada pelas emoções. Quem há tempos acompanha o trabalho de Leon Vynehall sabe do esforço do produtor inglês em transportar memórias da infância e adolescência para dentro dos próprios registros. Do sample de The Legend of Zelda: Ocarina of Time em Music for the Uninvited (2014) ao uso de captações de campo e registros caseiros no tropical Rojus (Designed To Dance) (2016), cada novo invento autoral funciona como uma passagem para a mente e experiências de seu realizador.

Curioso perceber nas canções de Nothing Is Still (2018, Ninja Tune), oficialmente o primeiro álbum de estúdio de Vynehall, um novo direcionamento dentro dessa mesma proposta. Como indicado no texto de apresentação do trabalho, trata-se de uma homenagem do produtor aos avós que, na década de 1960, deixaram o Reino Unido para viver em Nova York. Uma interpretação musical da jornada de sete dias pelo Oceano Atlântico que conecta Southampton à região do Brooklyn.

Concebido a partir de uma narrativa própria — são nove “capítulos” e algumas “notas de rodapés” —, Nothing Is Still ganha forma aos poucos, como se revelasse ao público uma composição instrumental de forte aspecto cênico. Não por acaso, Vynehall anunciou a produção de um romance e uma série de curta-metragens que servem de complemento visual à “trilha sonora” assinada pelo produtor. Frações de uma obra em contínuo processo de desenvolvimento.

Dentro dessa estrutura progressiva, cada composição serve de alicerce para a faixa seguinte. Dessa forma, todo o eixo inicial do disco, incluindo faixas como From the Sea / It Looms (Chapters I & II) e Movements (Chapter III), utiliza de ambientações jazzísticas, sempre serenas, como uma reinterpretação da música produzida no início dos anos 1960. Uma doce sobreposição de ideias que volta a se repetir em momentos estratégicos do álbum, como em Ice Cream (Chapter VIII), próximo ao encerramento da obra.

No restante do álbum, Vynehall aproveita para brincar com a desconstrução das batidas e temas eletrônicos, colidindo fórmulas instrumentais e samples de forma essencialmente inexata. São experimentos orquestrais, como em Envelopes (Chapter VI), faixas maquiadas por sintetizadores, caso de Trouble – Parts I, II, & III (Chapter V), além de músicas em que o artista britânico estreita a relação com as pistas, conceito reforçado na crescente English Oak (Chapter VII), uma das principais músicas do álbum.

Diferente de tudo aquilo que Vynehall vinha produzindo nos últimos anos, Nothing Is Still tanto reflete o amadurecimento criativo como a sensibilidade do artista inglês. Mesmo com o material de apoio produzido para o disco, não é difícil visualizar a delicada narrativa silenciosa apresentada pelo artista logo na abertura do álbum. Um misto de passado e presente, como se Vynehall transformasse memórias não vividas e relatos particulares em música.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.