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Críticas

The National

: "Sleep Well Beast"

Ano: 2017

Selo: 4AD

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: The War on Drugs e Interpol

Ouça: The System Only Dreams... e Guilty Party

8.6
8.6

Resenha: “Sleep Well Beast”, The National

Ano: 2017

Selo: 4AD

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: The War on Drugs e Interpol

Ouça: The System Only Dreams... e Guilty Party

/ Por: Cleber Facchi 11/09/2017

Quatro anos separam doloroso Trouble Will Find Me (2013), do recém-lançado Sleep Well Beast (2017, 4AD), sétimo registro de inéditas do The National. De lá pra cá, cada integrante do grupo original de Cincinnati, Ohio, esteve envolvido em uma sequência de trabalhos paralelos de forte relevância para a cena alternativa dos Estados Unidos. Do encontro entre Matt Berninger e Brent Knopf (Menomena) no EL VY, ao experimento de Bryce Dessner no recente Planetarium (2017), parceria com Sufjan Stevens, ou mesmo o colaborativo Day of the Dead (2016), extensa coletânea em homenagem ao Grateful Dead que contou com a curadoria dos irmãos Bryce e Aaron Dessner, sobram registros que comprovam a força criativa do quinteto norte-americano mesmo longo do território que caracteriza o principal projeto do grupo.

Interessante perceber nas composições do presente álbum um parcial resgate dessas experiências, como se todos os projetos que contaram com a presença de cada integrante do The National nos últimos anos fossem sutilmente adaptados no decorrer da obra. São ambientações eletrônicas que crescem em momentos estratégicos do disco (Born To Beg, Empire Line), experimentos contidos (Guilty Party) ou mesmo guitarras que distanciam o ouvinte de uma possível atmosfera sufocante (Day I Die), indicando um novo capítulo na longa trajetória do quinteto.

Embora contido quando observado em proximidade aos dois últimos registros que o antecedem, principalmente High Violet, de 2010, Sleep Well Beast traz de volta o mesmo conceito detalhista que marca o excelente Boxer, de 2007. Trata-se de uma obra montada a partir de pequenos fragmentos instrumentais. Pinceladas eletroacústicas que servem de complemento ao canto embriagado de Berninger. Colagens, ruídos e sobreposições estéticas que se refletem de maneira expressiva na sequência formada por Dark Side of The Gym e a derradeira faixa-título do disco. Canções montadas a partir de arranjos orquestrais, programações e entalhes eletrônicos que se revelam aos poucos, em pequenas doses, lembrando o trabalho do Radiohead em A Moon Shaped Pool (2016).

Dentro desse território acolhedor e claustrofóbico na mesma proporção, Sleep Well Beast soluciona a base instrumental para a poesia dolorosa e intimista de Berninger. Versos que refletem a melancolia e completa descrença do eu lírico, vide Walk It Back (“Esqueça, nada que eu mude consegue mudar alguma coisa“); se aprofundam na construção de personagens, como em Carin at the Liquor Store (“Carin da loja de bebidas, não posso esperar para te ver“), e ainda olham com saudade para um passado recente, caso da romântica Dark Side of the Gym (“Mas eu vou te manter apaixonada por um tempo / Eu vou te manter apaixonada por mim“). Nada que se compare ao canto raivoso que dialoga de forma necessária com o atual período político dos Estados Unidos.

Claramente influenciado pelas recentes eleições presidenciais que elegeram o republicando Donald Trump, Sleep Well Beast explode lírica e musicalmente em diversos momentos. Um bom exemplo disso está na crueza de Turtleneck (“Este deve ser o gênio que aguardamos durante anos, oh não!“), faixa que observa com ironia o presente cenário político e ainda resgata a mesma crueza instrumental de obras como Sad Songs For Dirty Lovers (2003) e Alligator (2005). Uma poesia afiada, também explícita no soul-rock de The System Only Dreams in Total Darkness, música que joga de forma metafórica com a composição dos versos, detalhando o distanciamento de um casal ao mesmo tempo em que pinta um retrato conturbado da nossa sociedade.

Entre canções de amor e versos que dialogam com o presente, Sleep Well Beast sobrevive como uma obra atual e necessária, detalhando a força criativa e profunda relevância do The National mesmo próximo de completar duas décadas de atuação. A julgar pela manta eletrônica que cobre toda a superfície do registro, trazendo novidade à obra, evidente é o esforço do quinteto em romper parcialmente com o universo ampliado em Trouble Will Find Me. A mesma poesia amargurada e sonoridade que apresentou o trabalho da banda no início dos anos 2000, porém, explorada a partir de uma nova perspectiva.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.