Resenha: “Under The Sun”, Mark Pritchard

/ Por: Cleber Facchi 18/05/2016

Artista: Mark Pritchard
Gênero: Electronic, Ambient, Experimental
Acesse: http://markprtchrd.com/

 

Harmonic 33, Africa Hitech, Troubleman, Link, Global Communication e todo um catálogo de remixes produzidos para nomes como Amy Winehouse, Aphex Twin, Radiohead e Depeche Mode. Em mais de duas décadas de atuação, esses são alguns dos projetos assumidos pelo produtor inglês Mark Pritchard. Dono de uma sequência de obras assinadas em parceria com diferentes produtores da cena britânica, Pritchard encontra no recém-lançado Under The Sun (2016, Warp), novo álbum em carreira solo, uma delicada extensão do mesmo acervo de obras colaborativas.

Fruto dos experimentos e temas atmosféricos de Pritchard, cada composição do presente disco busca conforto em um material essencialmente detalhista, tímido, como se todos os elementos – vozes, batidas, harmonias e samples – fossem apresentados ao público em pequenas doses. Uma completa fuga do conceito dançante, por vezes eufórico, explorado nos últimos cinco anos pelo produtor – em geral, responsável por trabalhos voltados ao Hip-Hop, grime e pós-dubstep.

Atento e sem pressa, Pritchard desenvolve cada composição de forma isolada, minuciosa. Basta observar a forma como os sintetizadores são lentamente sobrepostos na inaugural ?, música que flutua entre os temas cinematográficos de Brian Eno e as guitarras do austríaco Fennesz. São quase 70 minutos de duração, tempo suficiente para que Pritchard se aprofunde em criações alongadas, como Ems, e ainda desenvolva faixas mais curtas, caso da efêmera Hi Red.

Mesmo encarado como um produto do isolamento criativo de Pritchard, em diversos momentos do trabalho, diferentes vozes e interferências surgem para ocupar as paisagens instrumentais criadas pelo produtor. São artistas como Beans na declamada The Blind Cage, o conterrâneo Bibio em Give It Your Choir e a cantora Linda Perhacs na acústica You Wash My Soul. Nada que se compare ao trabalho gerado em parceria com Thom Yorke em Beautiful People.

Quinta composição do álbum, a faixa dominada pelo uso de arranjos etéreos, íntimos da música ambiental da década de 1970, não apenas dialoga com o restante da obra de Pritchard, como ainda incorpora elementos testados pelo vocalista do Radiohead em carreira solo. Difícil ouvir a canção e não lembrar de parte do material apresentado no álbum The Eraser, de 2006.

Como indicado na imagem de capa e encarte do disco – trabalho que conta com a assinatura do artista gráfico Jonathan Zawada –, Under The Sun nasce como a trilha sonora de um cenário fictício, mágico. Uma paisagem marcada pelo uso das cores, surrealista, tão delicada quanto as melodias que sutilmente esculpem cada uma das composições que se espalham pelo interior da obra. Do primeiro ao último instante, um registro que parece feito para ser desvendado pelo público.

 

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Under The Sun (2016, Warp)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Thom Yorke, Fennesz e Tim Hecker
Ouça: Beautiful People, Under The Sun e Ems

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.