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Ano: 2018

Selo: Good Music / Def Jam

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Kid Cudi e Pusha-T

Ouça: Ghost Town e No Mistakes

8.0
8.0

Resenha: “Ye”, Kanye West

Ano: 2018

Selo: Good Music / Def Jam

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Kid Cudi e Pusha-T

Ouça: Ghost Town e No Mistakes

/ Por: Cleber Facchi 11/06/2018

Oitavo álbum de inéditas na carreira de Kanye West, Ye (2018, Good Music / Def Jam) talvez seja o primeiro registro em que a suposta “genialidade” do rapper norte-americano seja posta à prova. Concebido em um período de forte instabilidade emocional, delírios e declarações polêmicas – como o apoio ao governo de Donald Trump e a afirmação imbecil de que a escravidão teria sido uma “escolha”, vide a entrevista dada ao TMZ –, o trabalho de apenas sete faixas talvez sufoque em virtude do posicionamento instável de seu realizador, entretanto, está longe de parecer uma obra menor.

Segundo registro da sequência de cinco álbuns anunciados por West para 2018 – além do presente disco, o artista se comprometeu a produzir os trabalhos de Pusha-T (Daytona), Kid Cudi (Kids See Ghosts), Nas e Teyana Taylor –, Ye se divide entre a propositada instabilidade de Life of Pablo (2016) e o comprometimento artístico detalhado em obras como Graduation (2007) e My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010). Um som torto e essencialmente caótico, como um convite a se perder pela mente insana do artista.

Hoje, pensei seriamente em matar você / Eu contemplei um assassinato premeditado / E eu penso em me matar / E eu me amo mais do que amo você, então … / Hoje, pensei em matar você, homicídio premeditado / Você só se importaria o suficiente para matar alguém que você ama“, rima na inaugural I Thought About Killing You. Pouco mais de quatro minutos em que West se volta para a própria mente, confessando o fascínio pelo suicídio e a necessidade em lidar com diferentes tormentos particulares. Versos sobrepostos que sintetizam a angústia evidente durante toda a execução do álbum.

Para longe dos temas políticos e debates raciais alavancados por Kendrick Lamar, Childish Gambino e tantos outros representantes do Hip-Hop norte-americano, West continua a mergulhar em dilemas pessoais de forma sempre contemplativa. Uma obra egóica, mas não menos interessante, vide a rima crua que atravessa All Mine, colaboração com Francis and the Lights em que discute infidelidade, ou mesmo o som melódico de Wouldn’t Leave, parceria com PARTYNEXTDOOR e Jeremih em que acaba confessando os próprios sentimentos à esposa, Kim Kardashian.

O ápice do disco se revelana sequência formada por No Mistakes e Ghost Town. De um lado, uma canção em que mais uma vez West detalha pequenas angústias e temas pessoais, sufocando em meio a versos delirantes e melancólicos, oposto do material que invade a canção seguinte. “E nada dói mais, me sinto livre / Nós ainda somos as crianças que costumávamos ser, sim, sim / Eu coloco minha mão no fogo, para ver se ainda sangro / E nada dói mais, me sinto meio livre“, rima em uma solução de batidas e melodias libertadoras, lembrando a boa fase em Graduation.

Produzido em um intervalo de apenas um mês e tendo parte expressiva das faixas finalizadas horas antes do lançamento oficial do disco, Ye talvez seja o trabalho em que a mente/alma atormentada de Kanye West se projeta com maior naturalidade. Trata-se de uma obra incompleta e caótica, porém, essencialmente inventiva, como se do universo delirante apresentado pelo artista em My Beautiful Dark Twisted Fantasy West fosse além, transformando diferentes conflitos em música.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.