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Crítica

Kaytranada

: "Ain’t No Damn Way"

Ano: 2025

Selo: RCA

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Channel Tres e NxWorries

Ouça: Space Invaders e Don't Worry Babe / I Got U Babe

7.2
7.2

Kaytranada: “Ain’t No Damn Way”

Ano: 2025

Selo: RCA

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Channel Tres e NxWorries

Ouça: Space Invaders e Don't Worry Babe / I Got U Babe

/ Por: Cleber Facchi 08/09/2025

Ain’t No Damn Way (2025, RCA) é um trabalho diferente de tudo aquilo que Kaytranada já havia revelado anteriormente. Sequência ao material entregue no ainda recente Timeless (2024), o registro deixa de lado a relação com o R&B e o número excessivo de colaboradores do álbum anterior para destacar a construção das batidas e produção que, mesmo minimalista, potencializa as criações do haitiano radicado canadense.

A própria escolha de Space Invader como música de abertura do álbum torna isso bastante explícito. São pouco mais de quatro minutos em que Kaytranada parte de um sample de My Life, parceria entre Latrelle e Kelis, que ainda contou com produção da dupla The Neptunes, para explorar uma abordagem ainda mais curiosa, incorporando sintetizadores e batidas que parecem apontar diretamente para os década de 1980.

É como se Kaytranada confessasse algumas de suas principais inspirações, proposta que vai da eletrônica seminal de veteranos como 808 State ao som incorporado por J Dilla nos anos 2000. Exemplo disso pode ser percebido em Home, música que alcança um equilíbrio entre a nostalgia e o estilo de produção atual, estrutura que ainda se completa pelo balanço e atmosfera quente que há tempos orienta a obra do artista.

Embora parta de um novo direcionamento criativo, o artista estabelece alguns elementos de conexão com os antigos trabalhos de estúdio. É o caso de Don’t Worry Babe / I Got U Babe, composição que potencializa a inserção das vozes e o uso calculado das batidas que evocam obras como 99.9% (2016) e Bubba (2019). O mesmo pode ser percebido em Championship, com seus sintetizadores, batidas e bases sempre detalhistas.

Interessante notar que tamanha pluralidade de elementos venha justamente do álbum em que Kaytranada mais se distancia de possíveis colaboradores. Com exceção da música Do It (Again!), em que credita o TLC como participação pelo sample de Let’s Do It Again, tudo gira em torno das experiências individuais do produtor. Claro que essa mudança em nenhum momento faz de Ain’t No Damn Way uma obra impecável.

Da mesma maneira que em Timeless, Kaytranada se articula a partir de um repertório bastante simplista, tendendo ao conforto. Falta ao trabalho a mesma riqueza de ideias, amplo catálogo de samples e camadas percebidas nos primeiros registros. Ainda assim, Ain’t No Damn Way encontra força na sobriedade dos temas, revelando um artista que, mesmo em modo econômico, continua a expandir a própria linguagem.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.