Em um intervalo de duas décadas, o Siouxsie and the Banshees foi de uma banda montada de última hora para tocar em um festival organizado por Malcolm McLaren, empresário dos Sex Pistols, para um dos projetos mais influentes da história da música. Inicialmente atrelado à cena punk de Londres, o grupo encabeçado por Siouxsie Sioux e Steven Severin aos poucos ampliou seus horizontes, combinando diferentes estilos que vão do gótico à produção eletrônica, do rock alternativo ao pop de forma sempre vanguardista. Inspiração para artistas como The Smiths, The Cure, Depeche Mode, Radiohead, PJ Harvey e tantos outros nomes que viriam posteriormente, a banda teve cada um de seus trabalhos de estúdio organizados do pior para o melhor lançamento em mais uma edição do Cozinhando Discografias.
#11. Through the Looking Glass
(1987, Polydor)
Desde o início da carreira, o Siouxsie and the Banshees sempre investiu em boas releituras para a obra de outros artistas, como Helter Skelter, dos Beatles, logo no introdutório The Scream (1978). Não por acaso, após o exaustivo processo de gravação de Tinderbox (1986), que levou mais de um ano até ser finalizado, o grupo decidiu deixar as próprias composições de lado para investir em um álbum inteiro de versões, Through the Looking Glass (1987). Musicalmente próximo do registro que o antecede, o trabalho até chama a atenção por conta de interpretações inusitadas para artistas como Kraftwerk, John Cale e Television, entretanto, é na radiofônica The Passenger, de Iggy Pop, e This Wheel’s on Fire, de Bob Dylan, que o grupo realmente brilha. Um precioso exercício de criação que revela algumas das principais influências da banda.
#10. The Rapture
(1995, Polydor / Geffen)
The Rapture (1995) pode até parecer uma obra deslocada quando pensamos no cenário musical dos anos 1990, entretanto, está longe de parecer um álbum ruim. Último trabalho de inéditas Siouxsie and the Banshees, o registro que contou com coprodução de John Cale aponta para várias direções, como uma tentativa da banda, na época já bastante desgastada criativamente, em se reencontrar em estúdio. Ainda que o material fosse insuficiente para garantir a continuidade do grupo que encerraria suas atividades no ano seguinte, boas composições estão presentes durante toda a execução do registro. Do rock empoeirado de Sick Child, passando pelo pop atmosférico de Forever, sobram momentos em que a banda faz o que sabe de melhor, pontuando com esmero um dos grandes projetos da cena inglesa.
#9. The Scream
(1978, Polydor)
Siouxsie Sioux e Steven Severin não poderiam ter pensado em um título melhor para o primeiro álbum de estúdio do Siouxsie and the Banshees. Verdadeiro grito de libertação criativa, The Scream (1978) parecia distanciar a banda londrina de outros nomes da cena punk do mesmo período e ainda evidenciava a busca do grupo, na época completo com John McKay e Kenny Morris, por um universo de novas possibilidades. São dez composições, incluindo uma insana releitura de Helter Skelter, dos Beatles, que destaca a força do quarteto em estúdio. Canções como Metal Postcard (Mittageisen) e Jigsaw Feeling que seguem a trilha de veteranos como The Velvet Underground, mas em nenhum momento ocultam a identidade da banda que, a partir desse ponto, viria a influenciar uma infinidade de novos artistas.
#8. Join Hands
(1979, Polydor)
Quando pensamos em algumas das obras mais sombrias da cena inglesa, é muito fácil lembrar dos álbuns de Joy Division, The Cure, Bauhaus e outros nomes do gênero, entretanto, sobrevive nas canções de Join Hands (1979), segundo álbum de estúdio do Siouxsie and the Banshees, a passagem para um dos registros mais sufocantes do período. Ainda que o tema da Primeira Guerra Mundial sirva de base para grande parte das faixas, Siouxsie Sioux encontrou no cenário político da época e na revolução iraniana de 1979 o estímulo para o material. O resultado desse processo está na entrega de um repertório lírico e musicalmente claustrofóbico, proposta que orienta a experiência do ouvinte até os momentos finais, na extensa releitura de The Lord’s Prayer, com mais de 14 minutos de guitarras carregadas de efeitos e vozes fortes.
#7. Hyæna
(1984, Polydor / Geffen)
Desde o início da carreira, Siouxsie Sioux e Steven Severin mantiveram uma boa relação com Robert Smith, do The Cure, contando com o suporte do músico em algumas das apresentações ao vivo e até em uma bem sucedida versão para Dear Prudence, dos Beatles, lançada em setembro 1983. Não por acaso, quando a dupla decidiu demitir o guitarrista John McGeoch, que vinha enfrentando problemas com álcool, Smith foi recrutado para trabalhar no sexto álbum de estúdio da banda, Hyæna (1984). Seguindo de onde o grupo havia parado em A Kiss in the Dreamhouse (1982), o registro destaca a busca por uma sonoridade cada vez mais abrangente, porém, intimamente conectada ao pop, conceito que se reflete em algumas das principais faixas do disco, como Swimming Horses e a introdutória Dazzle.
#6. Kaleidoscope
(1980, Polydor)
Primeiro álbum do Siouxsie and the Banshees após a saída de John McKay e Kenny Morris, Kaleidoscope (1980) é, como o próprio título aponta, uma colorida combinação de estilos, ritmos e novas possibilidades. Com a chegada de Budgie na bateria e John McGeoch nas guitarras, Siouxsie Sioux e Steven Severin decidiram ampliar os próprios horizontes, investindo em canções que flertam com a produção eletrônica, pop e música psicodélica. Exemplo disso fica mais do que evidente em músicas como Christine, Red Light, Happy House e demais composições que não apenas garantiram ao grupo uma posição de destaque nas paradas de sucesso inglesas, como viriam a servir de inspiração para nomes como Primal Scream, The Cure, Radiohead e tantos outros nomes que surgiriam nos próximos anos.
#5. Superstition
(1991, Polydor / Geffen)
Depois de uma década de grandes obras, os integrantes do Siouxsie and the Banshees entravam nos anos 1990 em grande estilo com Superstition (1991). produzido por Stephen Hague (New Order, Pet Shop Boys), o trabalho destaca o acabamento eletrônico das canções, levando o som da banda para outros territórios. São faixas como Fear (of the Unknown), Shadowtime e o sucesso Kiss Them for Me, que não apenas serviram para apresentar o grupo a uma nova parcela do público, como garantiram a Siouxsie Sioux e seus parceiros uma posição de destaque na Billboard 200. Adorado por nomes como St. Vincent, Dave Sitek (TV On The Radio) e Fever Ray, Superstition seria redescoberto ao longo dos anos, se transformando em um dos projetos mais queridos e cultuados da banda inglesa.
#4. A Kiss in the Dreamhouse
(1982, Polydor / Geffen)
Inspirada pela obra de Gustav Klimt, a colorida imagem de capa de A Kiss in the Dreamhouse (1982), quinto álbum de estúdio do Siouxsie and the Banshees, ajuda a entender parte da riqueza de ideias que orientava o grupo britânico durante o período em que foi concebido. Marcado pela inserção de cordas, flautas, sinos e outros instrumentos pouco convencionais, o registro de nove faixas destaca o lado psicodélico e a busca da banda por diferentes direções criativas. São canções como Slowdive, Cascade e Obsession que ofereceram ao quarteto a possibilidade de se desafiar criativamente em estúdio, mudando de percurso a todo instante. Apesar do intrincado cruzamento de estilos, A Kiss in the Dreamhouse cairia nas graças do público, garantindo ao quarteto mais uma posição de destaque nas paradas inglesas.
#3. Tinderbox
(1986, Polydor / Wonderland)
Em 1985, quando os membros do Siouxsie and the Banshees entraram em estúdio para produzir um novo disco de inéditas, o objetivo da banda era criar um trabalho que fosse tocado na íntegra em cima dos palcos, da primeira à última composição. Partindo dessa abordagem, veio em abril do ano seguinte o consistente Tinderbox (1986). Primeiro álbum em companhia do novo guitarrista, John Valentine Carruthers, o material destaca o amadurecimento e domínio criativo do quarteto que revelou algumas de suas principais canções, como o clássico Cities in Dust, 92º e Candyman. Apontado como um dos marcos do rock alternativo na década de 1980, o registro ainda abriria passagem para uma série de outras obras, inaugurando uma nova fase na carreira do grupo encabeçado por Siouxsie Sioux e Steven Severin.
#2. Peepshow
(1988, Polydor / Geffen)
Se em 1987, durante a produção de Through the Looking Glass, havia uma sensação de cansaço envolvendo o Siouxsie and the Banshees, com a chegada de Peepshow (1988), no ano seguinte, a banda inglesa mais uma vez evidenciava toda sua potência criativa. Agora acrescido pelo multi-instrumentista Martin McCarrick e o guitarrista Jon Klein, o grupo passou a investir em um repertório onde cada faixa leva o ouvinte para um território completamente novo. Do flerte com o reggae, em The Killing Jar, passando pela delirante combinação de estilos que marca a introdutória Peek-a-Boo ao som atmosférico de The Last Beat of My Heart, sobram momentos em que o quinteto parece testar os próprios limites em estúdio, proposta que pontua o trabalho da banda na década de 1980 com excelência.
#1. Juju
(1981, Polydor)
Com o lançamento de Kaleidoscope (1980), parecia bastante claro o interesse do Siouxsie and the Banshees por uma sonoridade cada vez mais acessível e íntima da música pop. Entretanto, ao regressar com Juju (1981), logo no ano seguinte, Siouxsie Sioux e seus parceiros de banda davam um passo atrás, regressando ao mesmo território soturno dos dois primeiros trabalhos de estúdio. Do momento em que tem início, com Spellbound, passando por canções como Halloween e Voodoo Dolly, evidente é o esforço do quarteto em provar de temas e conceitos soturnos, rompendo com a ambientação colorida do álbum que o antecede. Não por acaso, o registro viria a se transformar em um dos exemplares mais cultuados do movimento gótico, abrindo passagem para uma sequência de outros registros do grupo ainda mais complexos e musicalmente desafiadores. Era apenas o princípio da melhor fase da banda.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.