Ano: 2024
Selo: Rimas
Gênero: Pop, Reggaeton, Salsa
Para quem gosta de: Rauw Alejandro e Tainy
Ouça: Dtmf, Baile Inolvidable e El Clúb
Ano: 2024
Selo: Rimas
Gênero: Pop, Reggaeton, Salsa
Para quem gosta de: Rauw Alejandro e Tainy
Ouça: Dtmf, Baile Inolvidable e El Clúb
Na contramão dos principais nomes do pop latino, sempre inclinados a moldar o próprio repertório para atender aos interesses da indústria estadunidense, Bad Bunny segue cada vez mais imerso na música, nos ritmos e na cultura porto-riquenha. Sexto e mais recente álbum de estúdio do artista em carreira solo, Debí Tirar Más Fotos (2025, Rimas) funciona como uma clara representação desse resultado. São canções que deixam o reggaeton em segundo plano para incorporar elementos de jíbaro, salsa e outros gêneros locais.
Terceira canção do disco, Baile Inolvidable talvez seja a composição que melhor sintetiza essa mudança de rumo que teve início durante o lançamento de Un Verano Sin Ti (2022), mas alcança melhor resultado com o presente álbum. São pouco mais de seis minutos em que o artista, acompanhado pelos alunos da Escola de Música Livre Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, Porto Rico, se declara à mulher amada e confessa seus sentimentos mais profundo em meio a metais e elementos percussivos cuidadosamente encaixados.
De fato, poucas vezes antes o porto-riquenho pareceu tão meticuloso e musicalmente detalhista quanto em Debí Tirar Más Fotos. Do momento em que tem início, na crescente Nuevayol, cada nova canção destaca a construção dos arranjos e vozes que, mesmo maquiadas pelo auto-tune, se projetam de forma a capturar a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição do disco. Os próprios convidados, como a conterrânea RaiNao, em Perfumito Nuevo, assumem uma posição de destaque, engrandecendo o repertório do álbum.
Claro que esse capricho todo na elaboração do registro não interfere na entrega de faixas mais imediatas e ainda íntimas dos antigos trabalhos do cantor. Exemplo disso pode ser percebido em El Clúb. Dividida em duas metades, a canção parte de uma abordagem dançante, como se pronta para as pistas, porém, logo cai em um R&B dolorosíssimo que dialoga diretamente com a letra da composição, marcada em essência pelo constante atravessamento de informações e memórias de um passado ainda recente, fresco e avassalador.
É como se, em um esforço natural de complementar a fina tapeçaria instrumental que cobre o álbum, Bad Bunny revelasse ao público alguns de seus versos mais dolorosos e confessionais. “Você se esqueceu de mim, você seguiu normalmente”, desaba em Ketu Tecré, música que potencializa o uso melancólico dos sintetizadores, reforçando a intensa carga sentimental que consome o trabalho. Um doloroso exercício de exposição emocional que ganha ainda mais destaque em Dtmf, uma das principais faixas do disco. “Devia ter tirado mais fotos de quando tinha você / Devia ter te dado mais beijos e abraços quando pude”, reflete.
Tamanha vulnerabilidade e entrega do artista durante toda a execução do material faz de Debí Tirar Más Fotos o registro mais pessoal do porto-riquenho desde YHLQMDLG (2020). Dessa forma, mesmo o volume excessivo de canções, problema recorrente nos trabalhos mais recentes do artista, acaba passando quase despercebido, efeito direto do lirismo entristecido que dialoga de maneira bastante sensível com o ouvinte, como se os tormentos sentimentais detalhados por Bad Bunny a cada nova faixa fossem também os nossos.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.