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Crítica

BK

: "Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer"

Ano: 2025

Selo: Gigantes

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Baco Exu do Blues e Djonga

Ouça: Só Quero Ver e Abaixo das Nuvens

8.6
8.6

BK: “Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer”

Ano: 2025

Selo: Gigantes

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Baco Exu do Blues e Djonga

Ouça: Só Quero Ver e Abaixo das Nuvens

/ Por: Cleber Facchi 05/02/2025

Não existe maneira melhor de medir o sucesso de um rapper do que o volume de samples autorizados em seus trabalhos. Entretanto, para além de um exercício de autoafirmação financeira, como se dissesse a todo momento “eu posso”, satisfatório perceber em Diamantes, lágrimas e rostos para esquecer (2025, Gigantes), mais recente álbum de estúdio do rapper carioca BK, um registro que não somente utiliza desse opulento pano de fundo instrumental como símbolo de status, mas para potencializar ainda mais a força dos versos.

Sequência ao material entregue em Icarus (2022), trabalho em que se permitiu estreitar laços com o pop, Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer segue de onde o rapper parou há três anos, porém, em uma abordagem ainda mais complexa e musicalmente bem elaborada. São canções que partem de um olhar atento para a música brasileira, resgatando fragmentos de diferentes épocas como forma de estreitar laços com o ouvinte e dar novo sentido à vulnerabilidade que há tempos embala o repertório do artista carioca.

Exemplo disso fica mais do que evidente em Só Eu Sei, segunda música do trabalho. Enquanto BK combina passado e presente para celebrar com sobriedade as próprias conquistas (“Lembra de nós sem a chuteira? / Só a vontade de jogar, só a vontade de ganhar / Então, até o fundo do poço era lugar pra treinar”), trechos de Esquinas, sucesso de Djavan no começo da década de 1980, acrescentam um fino toque de melancolia e maior profundidade à composição. E ela está longe de ser a única faixa marcada pelo mesmo refinamento.

Em Só Quero Ver, por exemplo, são fragmentos de Só Quero, música originalmente lançada por Evinha em 1971, mas que ganha novo significado ao ser incorporada às desilusões românticas detalhadas pelo rapper. Surgem ainda preciosidades como Da Madrugada, com trechos da obra do Fat Family, e Quem Não Volta, em que resgata o trabalho de Luciana Mello. A própria composição de abertura, Você Pode Ir Além, com samples do grupo psicodélico Karma, funciona como um delicioso preparativo para o restante do álbum.

Nada que pareça diminuir o impacto de canções que trilham o próprio caminho, independente do suporte de algum sample conceituado. É o caso de Medo de Mim, música em que destaca a potência dos versos e estreita laços com Jenni Rocha. É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais intensa em Abaixo das Nuvens, faixa embalada pelos vocais de Luedji Luna, mas que cresce na força descomunal das rimas disparadas por Borges. Um potente atravessamento de informações, diferentes ritmos e vozes.

O mais fascinante talvez seja perceber como todos esses elementos, muitos deles dissonantes, encontram em Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer um espaço de consonância. Das vozes de Melly e Milton Nascimento à produção do Deekapz, dos arranjos de Pretinho da Serrinha ao criativo resgate de samples empoeirados da música brasileira, poucas vezes antes um trabalho entregue por BK pareceu tão coeso. Mesmo as canções que mais se distanciam do restante da obra, como Amém, Amém e Mandamentos, em nenhum momento prejudicam a fluidez do registro que mantém sua consistência até os minutos finais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.