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Crítica

Cold Cave

: "Fate In Seven Lessons"

Ano: 2021

Selo: Heartworm Press

Gênero: Synthpop, Darkwave

Para quem gosta de: The Soft Moon e Light Asylum

Ouça: Love Is All e Night Light

6.5
6.5

Cold Cave: “Fate In Seven Lessons”

Ano: 2021

Selo: Heartworm Press

Gênero: Synthpop, Darkwave

Para quem gosta de: The Soft Moon e Light Asylum

Ouça: Love Is All e Night Light

/ Por: Cleber Facchi 25/06/2021

Você não precisa ir além da natureza morta que estampa a imagem de capa de Fate In Seven Lessons (2021, Heartworm Press), novo álbum de estúdio do Cold Cave, para entender de onde vem parte das referências que abastecem o som do grupo californiano. Claramente inspirado pelo cultuado Power, Corruption & Lies (1983), grande obra do New Order, o registro de sete faixas encontra na relação com o passado o estímulo para o fino repertório que orienta a experiência do ouvinte até os últimos minutos. Instantes em que Wesley Eisold parece mergulhar em um oceano de sintetizadores, batidas e ambientações sujas, como uma interpretação ainda mais soturna de tudo aquilo que o artista tem incorporado desde os introdutórios Love Comes Close (2009) e Cherish The Light Years (2011).

Sequência ao material entregue pela banda na coletânea Full Cold Moon (2014), Fate In Seven Lessons se mostra como o trabalho mais acessível já produzido pelo Cold Cave. São incontáveis camadas de sintetizadores, versos feitos para grudar na cabeça do ouvinte e batidas que alternam entre momentos de fúria e recolhimjento. Não por acaso, o músico inaugura o disco com Prayer From Nowhere. Uma das primeiras composições do álbum a serem apresentadas ao público, e faixa de vozes submersas e guitarras ocasionais não apenas emula, como resgata de forma expressiva a mesma atmosfera explorada pelo Depeche Mode em Music for the Masses (1987) e Violator (1990). Um misto de passado e presente, nostalgia e reinterpretação que assume diferentes formatações.

E isso fica ainda mais evidente na canção seguinte, Night Light. Inaugurada em meio a ambientações contidas, a faixa rapidamente explode em uma sequência de sintetizadores, guitarras e batidas eletrônicas que ora apontam para Just Can’t Get Enough, ora fazem lembrar de Blue Monday. É somente com a chegada da música seguinte, Psalm 23, que Eisold e seus parceiros de banda se permitem provar de novas possibilidades dentro de estúdio. É como se o artista deixasse de lado a relação com os primeiros anos da década de 1980 para mirar no fechamento do período. O resultado desse processo está na entrega de uma faixa que esbarra nos temas urbanos e momentos de maior experimentação que apresentaram o Nine Inch Nails, em Pretty Hate Machine (1989).

É dentro desse mesmo espaço de tempo, porém, partindo de outra abordagem criativa, que Eisold apresenta ao público a quarta faixa do disco, Love Is All. Enquanto os versos da canção refletem o lado mais contemplativas da obra, sintetizadores etéreos e vozes carregadas de efeitos parecem apontar para o material entregue em Desintegration (1989), um dos principais trabalhos do The Cure. Pena que esse novo envelopamento dura pouco. Com a chegada de Happy Birthday Dark Star, o músico californiano mais uma vez aponta para o mesmo som referencial que tem sido produzido pela banda desde a estreia com Love Comes Close. Da base instrumental ao uso das vozes, tudo soa como uma previsível reciclagem de ideias e tendências empoeiradas que pouco avançam criativamente.

Com a chegada de Honey Flower, Eisold mantém firme o olhar para o passado, porém, consegue se desvencilhar de uma abordagem caricatural. Assim como em Cherish The Light Years, o músico investe em um repertório sombrio e atmosférico, distanciando o ouvinte de possíveis comparações imediatas. A própria ausência de pressa e uso reduzido das batidas proporciona uma audição diferente em relação ao restante da obra, como se o músico detalhasse um universo de novas possibilidades e texturas sintéticas dentro desse território há muito desvendado por diferentes artistas. São chuvas de sintetizadores e melodias enevoadas que parecem envolver o público, como uma parcial fuga do repertório entregue em toda a sequência de músicas que inauguram o disco.

Para o fechamento do álbum, com Promised Land, Cold Cave continua a revistar o passado. A diferença está no uso das referências incorporadas pelo norte-americano. Partindo de uma base de pianos e sintetizadores que buscam emular um coro de vozes infantis, o artista aponta para as trilhas sonoras do sempre aterrorizante John Carpenter. Entretanto, oposto ao resgate atmosférico e também referencial incorporado por outros nomes recentes, como o Chromatics, em Closer to Grey (2019), Eisold investe em uma estrutura dançante. São batidas e encaixes certeiros que rompem com qualquer traço de morosidade, proposta que dialoga de maneira autoindulgente com outras composições ao longo do disco, porém, serve de reforço aos temas apontados em Prayer From Nowhere.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.