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Crítica

Hand Habits

: "Fun House"

Ano: 2021

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie Folk

Para quem gosta de: Big Thief e Angel Olsen

Ouça: Aquamarine e No Difference

7.8
7.8

Hand Habits: “Fun House”

Ano: 2021

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie Folk

Para quem gosta de: Big Thief e Angel Olsen

Ouça: Aquamarine e No Difference

/ Por: Cleber Facchi 26/01/2022

Meg Duffy, a exemplo de Angel Olsen, Adrianne Lenker, Faye Webster e outros nomes importantes que surgiram na última década, encontrou no uso de ambientações acústicas um importante ponto de partida para a própria obra, porém, em nenhum momento fez disso o estímulo para um repertório marcado pelo conforto. E isso fica bastante evidente na pluralidade de ideias que abastecem o delicado Placeholder (2019), segundo álbum de estúdio como Hand Habits, mas que ganha ainda mais destaque no rico acervo de Fun House (2021, Saddle Creek), precioso exercício de amadurecimento lírico, instrumental e estético.

Entregue ao público após um longo período de experimentação que resultou na montagem de Dirt EP (2021) e do colaborativo yes/and (2021), parceria com Joel Ford, Fun House, diferente do repertório homogêneo entregue no registro que o antecede, faz de cada composição um exercício isolado. E isso fica bastante evidente na sequência de abertura do material. Pouco mais de oito minutos em que Duffy parte do som empoeirado de More Than Love, música que evoca as criações do The War On Drugs, para mergulhar na eletrônica minimalista de Aquamarine, faixa que parece saída de algum trabalho de Arthur Russell.

Parte desse evidente dinamismo no processo de construção do repertório vem justamente da decisão de Duffy em trazer Sasami Ashworth como produtora do disco. Conhecida pela riqueza de ideias que abastece o primeiro álbum de estúdio, a cantora, compositora e multi-instrumentista transporta parte desses conceitos para dentro do fino território criativo de Hand Habits, bagunçando as estruturas do som incorporado no antecessor Placeholder. Perfeita representação desse resultado acontece na crescente Concrete & Feathers, música que se espalha em meio a guitarras carregadas de efeitos e batidas fortes.

É como se essas diferentes abordagens rítmicas e instrumentais fossem pensadas de forma alavancar a construção das letras que Duffy detalha longo do registro. “Ela passa a noite sozinha / Você encontra seu próprio caminho de volta para casa / Você está tão desassociado“, canta na já citada Concrete & Feathers, musica que sintetiza parte dos tormentos, medos e intensa melancolia que consome o trabalho. O mesmo resultado acontece minutos à frente, na dolorosa Gold/Rust, composição que encolhe e cresce a todo instante, sempre de maneira imprevisível, jogando com a dualidade impressa na formação dos versos.

Embora pontuado por momentos de maior grandeza e criativa convergência de ideias, Fun House em nenhum momento se distancia da produção de faixas reducionistas, ainda íntimas dos antigos trabalhos de Hand Habits. É o caso de No Difference, composição que parece saída do material apresentado em Placeholder, porém, completa pelo uso de sintetizadores cósmicos e momentos de maior transformação. Nada que prejudique a formação da econômica Graves, logo em sequência, e The Answer, música que ganha forma em meio a orquestrações sublimes, melodias e vozes que parecem envolver o ouvinte.

O resultado desse processo está na entrega de um repertório que potencializa tudo aquilo que Hand Habits tem produzido desde o introdutório Wildly Idle (Humble Before the Void) (2017), mas que a todo momento aporta em novos territórios, ritmos e possibilidades. Um misto de conforto e permanente agitação criativa, direcionamento que vai do maior comprometimento lírico na formação dos versos ao diálogo com novos colaboradores, como Perfume Genius, em Just to Hear You. Instantes em que Duffy resgata uma série de elementos incorporados nos antigos trabalhos, porém, apontando a direção para os futuros lançamentos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.