Image
Crítica

Jup do Bairro

: "Juízo Final"

Ano: 2025

Selo: Meia-Noite FM

Gênero: Experimental, Spoken Word

Para quem gosta de: Linn da Quebrada e Urias

Ouça: E Se Não Fosse o Sonho e Vaso Ruim

7.7
7.7

Jup do Bairro: “Juízo Final”

Ano: 2025

Selo: Meia-Noite FM

Gênero: Experimental, Spoken Word

Para quem gosta de: Linn da Quebrada e Urias

Ouça: E Se Não Fosse o Sonho e Vaso Ruim

/ Por: Cleber Facchi 27/10/2025

Com um ritmo regular de canções, remixes e colaborações com diferentes artistas, além, claro, da entrega de EPs como Corpo Sem Juízo (2020) e o ainda recente In.corpo.ração (2024), difícil pensar em Juízo Final (2025) como sendo apenas o primeiro álbum de estúdio de Jup do Bairro. Dona de uma longa trajetória, a paulistana faz sua estreia definitiva com disco que potencializa suas virtudes, mas revela alguns tropeços.

De alcance vocal reduzido, a multiartista até se arrisca a cantar em algumas canções maquiadas pelo uso excessivo do auto-tune e outras ferramentas de edição, como em Brilho do Breu e na sorumbática , mas é quando se aprofunda na construção das rimas que o registro cresce. É o caso de E Se Não Fosse O Sonho, faixa que, precedida de uma introdução matadora da ativista transgênero Indianarae Siqueira, escancara as potencialidades, lirismo afiado e, principalmente, a força política que caracteriza o repertório de Jup.

Claro que isso está longe de parecer uma novidade para quem há tempos acompanha o trabalho e temas explorados pela paulistana. Do lirismo existencial que invade a atmosférica A Gente Vive Menos Que Uma Sacola Plástica, passando pela pressão social que marca os versos de Escolha Uma Vida, tudo soa como uma extensão do repertório detalhado por Jup desde que foi oficialmente revelada com Corpo Sem Juízo.

Não por acaso, prevalece nos momentos de maior vulnerabilidade a passagem para algumas das melhores faixas do disco. É o caso de Vaso Ruim, composição em que divide os versos com Bruno, caçula da própria família, e uma celebração às conquistas da artista sem mascarar os momentos de dor. O mesmo acontece em Dói Demais, canção que tinge com melancolia o funk-industrial de Fuso, principal produtor do álbum.

Dentro desse espaço marcado pelas possibilidades, surgem ainda colaborações inusitadas, como Rockstar, um rock denso que se completa pela participação da banda mineira Black Pantera. Quem também dá as caras é o músico maranhense Negro Leo, aproximando Jup do erotismo de Rela (2024). São momentos de experimentação que, vez ou outra, esbarram em faixas deslocadas, como Tremeterra, canção que detalha o estranho envolvimento da artista com os ritmos nortistas, rompendo com a fluidez do restante do material.

Ainda que irregular, toda essa combinação de estilos, temas e diferentes parceiros criativos, como a dupla CyberKills, Apeles e o músico Thiago Klein, ajuda a estabelecer exatamente quem é Jup do Bairro. Cria de um mundo torto e dona de um corpo sem juízo, a multiartista continua a se desafiar criativamente em uma obra que encontra nesse processo de desconstrução sonora, emocional e estética seu principal atributo.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.