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Crítica

Kehlani

: "Blue Water Road"

Ano: 2022

Selo: TSNMI / Atlantic

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Tinashe e Jorja Smith

Ouça: Altar e Up At Night

7.8
7.8

Kehlani: “Blue Water Road”

Ano: 2022

Selo: TSNMI / Atlantic

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Tinashe e Jorja Smith

Ouça: Altar e Up At Night

/ Por: Cleber Facchi 13/05/2022

É bastante notável a transformação vivida por Kehlani ao longo de toda a última década. Se em início de carreira a cantora e compositora norte-americana parecia interessada em investir na produção de um repertório voltado ao pop, marca do introdutório SweetSexySavage (2017), com o passar dos anos, o som incorporado pela artista resultou em uma série de faixas regidas pelo caráter atmosférico e maior vulnerabilidade no processo de composição dos versos. Exemplo disso fica evidente It Was Good Until It Wasn’t (2020), trabalho em que se aprofunda na construção de músicas cada vez mais introspectivas.

Esse mesmo direcionamento criativo fica ainda mais evidente com a chegada de Blue Water Road (2022, TSNMI / Atlantic). Terceiro e mais recente trabalho de estúdio da artista estadunidense, o registro segue de onde Kehlani parou há dois anos, mergulhando na construção de faixas guiadas pela sutileza dos elementos, porém, pontudas por momentos de maior ruptura. São canções marcadas pelo sentimento de libertação, conceito reforçado na própria imagem de capa do material, como uma resposta da artista ao enclausuramento explícito na identidade visual explorada no antecessor It Was Good Until It Wasn’t.

Para mim, o álbum é como uma casa de vidro. É leve, transparente e o sol está brilhando através dele”, comentou Kehlani no texto de apresentação do trabalho. E isso fica bastante evidente durante toda a execução do registro. São composições que se revelam em uma medida própria de tempo, destacando a produção minuciosa, arranjos de cordas e marcações rítmicas que servem de complemento aos versos sutilmente lançados pela artista. Um delicado exercício de exposição sentimental que tem início logo na introdutória Little Story, já conhecida do público, mas que acaba se refletindo até os minutos finais da obra.

Não por acaso, Kehlani fez de Altar a primeira música do disco a ser entregue ao público. Originalmente lançada em setembro do último ano, a faixa chama a atenção pela arquitetura orgânica e uso destacado dos instrumentos, como uma fuga do R&B sintético que marca os primeiros registros autorais da artista. A própria canção de encerramento de Blue Water Road, Wondering/Wandering, é outra que reforça esse direcionamento. Parte desse resultado vem da escolha da artista em colaborar em estúdio com uma série de novos parceiros, caso de Ambré e Thundercat, ampliando consideravelmente os limites do álbum.

Mesmo aberto às possibilidades, Blue Water Road em nenhum momento se distancia da produção de músicas inclinadas ao pop, ainda íntimas dos antigos trabalhos de Kehlani. O próprio encontro com Justin Bieber, em Up At Night, representa bem isso. Da construção das batidas ao uso destacado das vozes, tudo parece pensado para grudar na cabeça do ouvinte. Nada que diminua o impacto de outras canções marcadas pelo reducionismo dos elementos, caso de Get Me Started, bem-sucedido encontro com Syd, e More Than I Should, faixa em que estreia a relação com a cantora e compositora canadense Jessie Reyez.

Dessa forma, ao mergulhar no repertório de Blue Water Road, prevalece a sensação de um exercício criativo equilibrado. São composições ancoradas em temas e conceitos há pouco consolidados dentro do R&B norte-americano, o que diminui a sensação de ineditismo ao passear pelo disco, porém, trabalhadas dentro de uma estrutura transformadora quando voltamos os ouvidos para os álbuns anteriores de Kehlani. Canções que abrem passagem para uma nova fase na carreira da artista e estreitam a relação com diferentes colaboradores sem necessariamente romper com a essência incorporada aos antigos registros.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.