Image
Crítica

King Krule

: "Space Heavy"

Ano: 2023

Selo: XL / Matador

Gênero: Rock, Jazz, Pós-Punk

Para quem gosta de: Mac DeMarco e Deerhunter

Ouça: Seaforth, Pink Shell e Seagirl

7.8
7.8

King Krule: “Space Heavy”

Ano: 2023

Selo: XL / Matador

Gênero: Rock, Jazz, Pós-Punk

Para quem gosta de: Mac DeMarco e Deerhunter

Ouça: Seaforth, Pink Shell e Seagirl

/ Por: Cleber Facchi 15/06/2023

Archy Marshall é um desses artistas que utilizam de uma proposta criativa bastante característica, mas que conseguem surpreender a cada nova criação. Quarto e mais recente trabalho de estúdio do compositor britânico como King Krule, Space Heavy (2023, XL / Matador) é um bom exemplo disso. Concebido em um intervalo de dois anos, com sessões divididas entre Londres e Liverpool, onde passou a morar desde que teve a primeira filha com a fotógrafa e colaboradora Charlotte Patmore, o registro segue a abordagem contemplativa explorada no antecessor Man Alive! (2020), porém, garante ao ouvinte algumas surpresas.

Segundo Marshall, o trabalho busca inspiração no conceito de “espaço entre” e as pequenas angústias geradas pelos desencontros, lento afastamento entre os indivíduos e a inevitabilidade da passagem do tempo. São oscilações poéticas que funcionam como um mergulho na mente do próprio compositor, mas que em nenhum momento deixam de se relacionar com o ouvinte, efeito do lirismo inquietante do artista inglês. “Ele está segurando o peso do mundo“, repete na introdutória Flimsier, indicando parte da forte carga emocional e tormentos que orientam a experiência do público durante toda a execução da obra.

Conceitualmente organizado em espaços negativos e positivos que variam de acordo com a intensidade dos temas explorados pelo artista, Space Heavy é uma obra que encolhe e cresce a todo momento. São criações marcadas por curvas sutis que concedem ao disco um caráter labiríntico. Instantes em que o músico vai da calmaria ao caos em um intervalo de poucos segundos, jogando com a experiência do ouvinte. Exemplo disso fica evidente na sequência formada por Our Vacuum e a faixa-título, com Marshall utilizando de bases enevoadas para mergulhar em um território marcado pelo uso berrado das vozes.

Vem justamente dessa parcial ausência de linearidade a força de Space Heavy. Mesmo incapaz de replicar a potência e sensação de imprevisibilidade explícita nas canções de Feet Beneath the Moon (2013) e The Ooz (2017), duas das principais obras do artista inglês, o sucessor de Man Alive! em nenhum momento tende ao conforto. Enquanto a já citada Flimsier segue em uma medida própria de tempo, Pink Shell, vinda logo em sequência, perverte completamente essa lógica, reforçando o uso das guitarras e temas ruidosos que vão do movimento no wave ao jazz, lembrando as criações de Arto Lindsay no The Lounge Lizards.

É como um espaço aberto à experimentação, direcionamento que parte das experiências compartilhadas pelo artista, mas que se completa pela participação de um time seleto de instrumentistas. Assim como nos discos anteriores, Marshall desenvolveu tudo sozinho, posteriormente organizou suas ideias com o produtor Dilip Harris e então contou com o suporte dos músicos lIgnacio Salvadores (saxofone), George Bass (bateria), James Wilson (baixo) e Jack Towell (guitarra). O resultado desse processo está na entrega de uma obra viva. Canções sempre minuciosas, mas que possibilitam momentos de maior libertação, vide a delirante combinação de elementos que se reflete em Empty Stomach Space Cadet e a hipnótica Seaforth.

Ainda assim, Space Heavy continua a orbitar um universo criativo bastante particular de King Krule, como uma progressão natural de tudo aquilo que foi apresentado há uma década, durante o lançamento de Feet Beneath the Moon. Não por acaso, quando abre passagem para a chegada de Raveena, em Seagirl, Marshall garante ao ouvinte um espaço de inusitada transformação, contrastando a ambientação soturna da canção com as vozes etéreas e suavidade da artista norte-americana. Uma curva breve em uma obra que convence pelo inquestionável esmero e domínio de seu realizador, mas que começa a apresentar traços de desgaste.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.