Ano: 2024
Selo: Independente
Gênero: Pop, MPB
Para quem gosta de: Gaby Amarantos e Aíla
Ouça: Calejei, Deusa e Enluarada
Ano: 2024
Selo: Independente
Gênero: Pop, MPB
Para quem gosta de: Gaby Amarantos e Aíla
Ouça: Calejei, Deusa e Enluarada
Luê está certa: “ninguém resiste ao charme da mulher do Norte”. E isso fica ainda mais evidente à medida que avançamos pelo terceiro e mais recente trabalho de estúdio da cantora paraense, Brasileira do Norte (2024, Independente). Sequência ao material entregue em Ponto de Mira (2017), o registro gerado ao longo do último ano é tanto uma celebração aos ritmos, à cultura e aos artistas de diferentes gerações do Norte do país, como um diálogo com o presente que transcende limites territoriais e estreita laços com o pop.
Acompanhada por algumas das figuras mais importantes da música paraense, Luê potencializa tudo aquilo que vem sendo incorporado desde a estreia com A Fim de Onda (2012), porém, revelando uma segurança e domínio criativo poucas vezes antes percebido no trabalho da cantora. Afinal de contas, não é qualquer uma que pode dividir uma composição com Fafá de Belém, como em Calejei, sem ser engolida pela artista.
Em Brasileira do Norte, quem dita as regras é Luê. A própria imagem de capa do trabalho, com a cantora surgindo do meio das águas, como uma deusa, funciona como uma ótima representação desse resultado. Claro que isso não diminui a sensação de acolhimento e esforço da artista em valorizar cada convidado ao longo do material. Exemplo disso fica mais do que evidente no encontro com Dona Onete, na faixa-título do disco, ou mesmo na dançante Deusa, composição em que atravessa as pistas ao lado de Gaby Amarantos.
É como se a artista transitasse por diferentes décadas, movimentos e núcleos criativos da música paraense, proposta que vai da guitarrada de Felipe Cordeiro e Felix Robatto, com quem divide as ótimas Ajuruteua e Verão No Pará, aos temas ancestrais de Enluarada, parceria com Yasmin Olí e Izy Mistura. Mesmo quando dialoga com outros estilos, como o rap, em Sorvete, delicioso encontro com Victor Xamã, a cantora busca sempre preservar um mesmo universo conceitual que vai da escolha dos temas à construção dos arranjos.
Não por acaso, sobrevive nos momentos em que mais se distancia desse resultado o estímulo para algumas das canções menos interessantes do disco. É o caso da parceria com Johnny Hooker, em Saudade, um misto genérico de pop, brega e R&B que mais parece uma curva desconfortável dentro do álbum. Outra que tem seus tropeços é Baile da Saudade, composição que encanta pela fluidez das batidas e guitarras abrasivas, mas que diminui drasticamente o volume das vozes de Zaynara, quase apagando a presença da convidada.
Mesmo com esses momentos de maior desequilíbrio, Brasileira do Norte em nenhum momento perde seu brilho. E isso acaba se refletindo até os momentos finais do trabalho, quando músicas como Dançadeira do Arrozal e a derradeira Onça concedem novo fôlego à obra. São tambores ancestrais que se completam pela produção eletrônica de Mateo Piracés-Ugarte, proposta que preserva e celebra a música paraense em seus múltiplos aspectos, porém, atualiza velhos conceitos e a todo momento deixa explícita a identidade de Luê.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.