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Crítica

Marnie Stern

: "The Comeback Kid"

Ano: 2023

Selo: Joyful Noise

Gênero: Indie Rock, Math Rock

Para quem gosta de: Deerhoof e Hella

Ouça: Plain Speak e Believing Is Seeing

8.0
8.0

Marnie Stern: “The Comeback Kid”

Ano: 2023

Selo: Joyful Noise

Gênero: Indie Rock, Math Rock

Para quem gosta de: Deerhoof e Hella

Ouça: Plain Speak e Believing Is Seeing

/ Por: Cleber Facchi 04/12/2023

Às vezes, o melhor que podemos fazer é tirar um tempo longe de tudo. E foi exatamente isso que Marnie Stern fez quando, há dez anos, logo após o lançamento de The Chronicles of Marnia (2013), a guitarrista, cantora e compositora norte-americana decidiu encerrar temporariamente a própria carreira. Claro que a musicista não esteve totalmente longe dos holofotes, afinal, pelos anos que se seguiram, Stern passou a integrar a banda do programa Late Night With Seth Meyers, tocando de segunda a sexta-feira no que ela mesma definiu como um “emprego normal”. Entretanto, quem ansiava por um novo álbum, teve de esperar.

De volta com o primeiro trabalho de inéditas em dez anos, Stern mostra que o tempo longe dos estúdios serviu para a formação de um repertório maduro e que concentra o que há de melhor no som explorado pela artista. Do momento em que tem início, em Plain Speak, até alcançar a canção de encerramento do álbum, One and the Same, movimentos imprevisíveis de guitarra, batidas e vozes altamente pegajosas se projetam de forma a evidenciar o domínio criativo da musicista. Composições que se resolvem em um intervalo de poucos minutos, reforçando a aceleração que há duas décadas orienta a obra da cantora.

Uma das primeiras faixas do disco a serem reveladas ao público, Believing Is Seeing funciona como uma boa representação desse resultado. São pouco menos de dois minutos em que a artista vai de encontro ao mesmo território criativo explorado em This Is It and I Am It and You Are It and So Is That and He Is It and She Is It and It Is It and That Is That (2008), efeito direto da soma de vozes e guitarras timbrísticas que soam como o inusitado encontro entre a euforia de um grupo de líderes de torcida com uma banda de math rock. Décadas de referências diluídas dentro de uma composição que se encerra tão rapidamente quanto inicia.

Mesmo quando rompe com essa lógica e passa a investir na entrega de canções um pouco mais extensas, Stern em nenhum momento perde o fôlego ou deixa de encantar o ouvinte. É o caso de Working Memory, música que se espalha em um intervalo de mais de três minutos, destacando a sobreposição das vozes e temas instrumentais que evidenciam o refinamento técnico da guitarrista. A própria Plain Speak, logo na abertura do disco, funciona como uma síntese criativa daquilo que a artista busca desenvolver ao longo do álbum. Uma insana combinação de vozes, diferentes ritmos e costuras instrumentais sempre imprevisíveis.

Embora marcado pela potência dos elementos, The Comeback Kid é um registro que pouco acrescenta ao trabalho de Stern, seguindo a trilha apontada pela artista desde o primeiro álbum de estúdio, In Advance of the Broken Arm (2007). Em geral, são canções que posicionam as guitarras em primeiro plano, brincam com a fluidez das batidas e alternam entre vozes cantadas e declamadas. De fato, são poucas as canções que rompem com essa estrutura, como Til It’s Over, composição que destaca a linha de baixo de Syd Butler e oferece novo tratamento aos arranjos e batidas, como a passagem para um ambiente denso e sombrio.

Ainda assim, essas pequenas repetições estruturais e diálogos com os antigos registros da guitarrista são insuficientes para diminuir o impacto do retorno de Stern. Diferente do material entregue no disco anterior, onde havia uma clara sensação de cansaço e parcial desgaste por parte da instrumentista, The Comeback Kid mantém a energia em alta até os últimos segundos. A própria imagem de capa, com a ilustração de uma guitarra em chamas sendo arremessada, funciona como uma boa representação dessa força criativa que orienta o desenvolvimento do trabalho e abre passagem para uma nova fase na carreira da artista.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.