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Crítica

: "Motordrome"

Ano: 2022

Selo: Columbia

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Tove Lo e Banks

Ouça: Kindness e Goosebumps

5.0
5.0

MØ: “Motordrome”

Ano: 2022

Selo: Columbia

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Tove Lo e Banks

Ouça: Kindness e Goosebumps

/ Por: Cleber Facchi 04/02/2022

Ainda que o título do novo álbum de indique velocidade e tensão, o resultado proposto pela cantora e compositora dinamarquesa é bem diferente do esperado. Em Motordrome (2022, Columbia), do português, “autódromo”, a artista que ganhou o mundo com o sucesso de Lean On, bem-sucedida parceria com Major Lazer e DJ Snake, não apenas desacelera em relação ao material entregue nos dois primeiros trabalhos de estúdio, No Mythologies to Follow (2014) e Forever Neverland (2018), como se perde em meio a criações tão mornas que é difícil manter a atenção e o interesse durante toda a execução do repertório de dez faixas.

Triste pensar que um trabalho tão esquecível seja inaugurado de forma bastante convincente por Kindness. Enquanto os versos refletem sobre o acolhimento do público durante os períodos de maior melancolia vividos pela cantora – “Eu estou apaixonada pela sua bondade / Apaixonada pelo mistério / Você e eu, fomos feitos para ser / É algoritmo” –, batidas inexatas e arranjos de cordas transportam o som produzido por MØ para um novo território criativo. Parte desse resultado vem da combinação de ideias entre Ariel Rechtshaid (Haim, Carly Rae Jepsen), Jam City (Olivia Rodrigo, Kelela) e Jim-E Stack (Charli XCX, Empresa Of), trinca de produtores que tem buscado por novas possibilidades para a música pop.

Pena que isso não passa de algo momentâneo. Logo na canção seguinte, Live To Survive, MØ demonstra entusiasmo, porém, o material apresentado soa como uma interpretação barata do som explorado por Dua Lipa em Future Nostalgia (2020). São batidas e sintetizadores que apontam para as pistas, como tudo aquilo que o produtor SG Lewis, responsável pela faixa, tem revelado em suas criações, mas que pouco avançam quando próximas de outras músicas do gênero. É como se a cantora corresse atrás do prejuízo, emulando uma série de conceitos explorados por outros artistas desde que lançou Forever Neverland.

Nesse sentido, Motordrome perde traços significativos do que talvez seja uma das principais marcas do som produzido nos antigos trabalhos da cantora: a construção das batidas e uso de elementos rítmicos. Enquanto os registros anteriores encantavam pela percussão versátil explícita em músicas como Don’t Wanna Dance e Red Wine, além, claro, de faixas avulsas, caso de Kamikaze, com o presente álbum, tudo soa como uma massa de sintetizadores e guitarras empoeiradas que garantem maior homogeneidade ao material, mas que tornam a audição bastante arrastada, principalmente na segunda metade do registro.

Uma vez imerso nesse ambiente moroso, permanece na construção dos versos o grande destaque do trabalho. São canções como Brad Pitt e Goosebumps em que a artista dinamarquesa resgata memórias de um passado distante, desaba emocionalmente e estabelece na força dos próprios sentimentos o principal componente criativo para a construção das letras. “Me dê arrepios“, clama MØ. O problema é que mesmo esses momentos de maior vulnerabilidade acabam se perdendo por conta do acabamento dado ao disco. Salve exceções, como na pegajosa New Moon, tudo gira em torno de um conjunto de ideias muito similar.

Entregue ao público após um ano repleto de grandes lançamentos para a música pop, como Happier Than Ever (2021), de Billie Eilish, e Sour (2021), de Olivia Rodrigo, Motordrome, assim como o registro que o antecede, nasce como uma obra fadada ao esquecimento. São fragmentos de ideias e fagulhas criativas que surgem em momentos específicos, mas que parecem incapazes de sustentar o trabalho. É como se todo o processo de preparação e depoimentos da artista sobre o álbum, com MØ tratando do disco como “uma grande mudança” na própria vida e carreira, fossem mais interessante do que o material apresentado.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.