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Crítica

Moreno Veloso

: "Mundo Paralelo"

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: MPB, Samba

Para quem gosta de: Domenico Lancellotti e Kassin

Ouça: A Donzela Se Casou e Um Dois e Já

7.8
7.8

Moreno Veloso: “Mundo Paralelo”

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: MPB, Samba

Para quem gosta de: Domenico Lancellotti e Kassin

Ouça: A Donzela Se Casou e Um Dois e Já

/ Por: Cleber Facchi 06/06/2024

Mesmo bastante ativo em uma série de exemplares recentes da música brasileira, Moreno Veloso costuma atravessar longos intervalos de tempo entre um trabalho e outro em carreira solo. Foi assim com Máquina de Escrever Música (2000), disco que levou 14 anos até ser substituído pelo ensolarado Coisa Boa (2014), e mais uma década até a chegada do recém-lançado Mundo Paralelo (2024, Independente). Entretanto, toda essa espera costuma valer a pena quando nos deparamos com o repertório ofertado pelo músico baiano.

A exemplo do registro que o antecede, Mundo Paralelo serve de passagem para um universo particular de Veloso. São composições gestadas durante o período pandêmico, como uma fuga temporária da realidade sombria a que fomos submetidos, porém, não necessariamente escapistas. Fragmentos de memórias que aproximam o ouvinte desse ambiente tão imaginativo quanto profundamente real. “Eu me transporto a um mundo paralelo / Aquilo ali é um elo com o transcendental“, canta na introdutória faixa-título do trabalho.

Uma vez ambientado a esse cenário marcado por diferentes personagens, cenas e acontecimentos, Veloso faz de cada canção um precioso objeto de estudo. Algumas, como Vista da Janela, que levou quase duas décadas até ser finalizada, tratam com delicadeza a complexidade das coisas simples da vida. Já outras, como Unga Dorme Nesse Frio, complexificam de forma hipnótica elementos do dia a dia, nesse caso, uma canção de ninar dedicada ao filho que se completa com os músicos Jaques Morelenbaum e Marcelo Costa.

São ideias sempre contrastantes. Composições que, mesmo ambientadas em um cenário restritivo, a todo momento trilham percursos improváveis, tornando impossível prever qualquer movimento do artista. A própria base instrumental do registro, trabalhada em camadas, torna isso ainda mais fascinante. Um fino repertório que combina de maneira simplificada diferentes elementos de samba e afoxé, porém, oculta um universo de pequenos detalhes, ruídos e entalhes percussivos que sutilmente ampliam os limites do álbum.

Tamanho esmero no processo de criação não se dá por acaso. Com sessões divididas entre Lisboa e Rio de Janeiro, Veloso abre passagem para que nomes como Ricardo Dias Gomes, Pedro Sá, Kassin, Bruno Di Lullo e Alberto Continentino deixem sua marca. Mesmo membros da própria família, Maria Bethânia, Caetano, Tom e Zeca Veloso, surgem com evidente destaque em A Donzela Se Casou, um samba de roda que nasceu durante a turnê Ofertório, mas que se encaixa perfeitamente no repertório montado para Mundo Paralelo.

Completo pela presença de Nina Becker, na atmosférica Um Dois e Já, e Tiganá Santana, na já citada faixa de abertura, além de regravar Marina Lima, na derradeira Deixe Estar, Mundo Paralelo é um trabalho que avança aos poucos, sem pressa, porém, cresce a cada nova audição. São canções que, vez ou outra tendem à maciez do conforto, como uma extensão de tudo aquilo que tem sido incorporado desde a estreia com Máquina de Escrever Música, mas que invariavelmente encontram um meticuloso componente de ruptura.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.