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Crítica

The Smile

: "Cutouts"

Ano: 2024

Selo: XL Recordings

Gênero: Art Rock

Para quem gosta de: Radiohead e Atoms For Peace

Ouça: Zero Sum, Don't Get Me Started e The Slip

8.0
8.0

The Smile: “Cutouts”

Ano: 2024

Selo: XL Recordings

Gênero: Art Rock

Para quem gosta de: Radiohead e Atoms For Peace

Ouça: Zero Sum, Don't Get Me Started e The Slip

/ Por: Cleber Facchi 14/10/2024

Impossibilitados de excursionar por conta de uma infecção de Jonny Greenwood, os músicos Thom Yorke e Tom Skinner, em colaboração com o produtor Sam Petts-Davies, decidiram vasculhar os arquivos gerados durante as sessões de Wall Of Eyes (2024) para dar vida a mais um novo trabalho de estúdio do The Smile. O resultado desse processo está na apresentação de Cutouts (2024, XL Recordings), material que preserva a essência da banda inglesa, porém, funciona como um mergulho profundo na obra de Greenwood e Yorke.

Embora derivado do material apresentado em janeiro deste ano, Cutouts, como o próprio nome aponta, vai ainda mais longe, estabelecendo pequenos recortes na obra da dupla inglesa ao longo das últimas décadas. Exemplo disso é o que acontece com Eyes & Mouth, música que teve parte de suas guitarras originalmente reveladas há oito anos, durante a turnê do Radiohead para promover o álbum A Moon Shaped Pool (2016).

São antigos fragmentos instrumentais e ideias empoeiradas que surgem agora totalmente formatadas. Mais do que isso, Cutouts acena a todo momento para o material acumulado por Yorke e Greenwood em quase quatro décadas de carreira. Oitava faixa do disco, The Slip talvez seja a criação mais representativa disso. Perceba como, em um intervalo de poucos minutos, a banda atravessa a mesma atmosfera opressiva de Kid A (2000) para, logo em seguida, mergulhar nas guitarras altamente ruidosas que movem The Bends (1995).

É como um misto constante de passado e presente, abordagem que talvez peca pela ausência de novidade, mas em nenhum momento deixa de capturar a atenção do ouvinte. Na verdade, é praticamente impossível passear pelo repertório de Cutouts e não ser atraído pelo movimento sinuoso das guitarras de Zero Sum, música que resgata a aceleração explícita no introdutório A Light For Attracting Attention (2022). Mesmo composições mais lentas, como Don’t Get Me Started e Foreign Spies, encantam pela riqueza dos detalhes.

E não poderia ser diferente. Donos de um extenso repertório, tanto em carreira solo como em seus vários projetos, Yorke e Greenwood, sempre acompanhados pela bateria versátil de Skinner, sabem exatamente onde querem chegar. São canções que, vez ou outra, tendem ao conforto, efeito da forte similaridade com algumas das criações compiladas pelos dois artistas ao longo dos anos, mas que a todo momento criam meticulosas rupturas estéticas ou mesmo trilham percursos difíceis de serem antecipados pelo ouvinte.

A própria Instant Psalm, posicionada nos minutos iniciais do disco, funciona como uma boa representação desse resultado. São pouco mais de quatro minutos em que a banda deixa de lado o que havia testado nos últimos trabalhos para mergulhar em um pop psicodélico que parece saído de algum registro cósmico do Spiritualized. Mesmo o uso de temas egípcios e ambientações enevoadas de Colours Fly levam o material para outras direções, prova do contínuo esforço do grupo em brincar com as possibilidades em estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.