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Crítica

The Smile

: "Wall Of Eyes"

Ano: 2024

Selo: XL

Gênero: Art Rock, Pós-Rock

Para quem gosta de: Radiohead e Atoms For Peace

Ouça: Bending Hectic e Friend of a Friend

8.5
8.5

The Smile: “Wall Of Eyes”

Ano: 2024

Selo: XL

Gênero: Art Rock, Pós-Rock

Para quem gosta de: Radiohead e Atoms For Peace

Ouça: Bending Hectic e Friend of a Friend

/ Por: Cleber Facchi 29/01/2024

A Light For Attracting Attention (2022) ainda nem havia esfriado quando Thom Yorke e Jonny Greenwood, também membros do Radiohead, e o baterista Tom Skinner, ex-integrante do Sons of Kemet, começaram a trabalhar no segundo álbum de estúdio do paralelo The Smile. Mesmo as apresentações da banda, como a intensa passagem pelo festival de jazz de Montreux, que resultou em um excelente registro ao vivo, davam a entender que um novo material de inéditas estava por vir. Entretanto, contra toda essa aparente euforia, o que se percebe em Wall Of Eyes (2024, XL) é uma obra que segue em uma medida particular de tempo.

Não por acaso, em junho do último ano, quando a banda começou a preparar o terreno para um provável retorno, foi a extensa Bending Hectic, com mais de oito minutos de duração, a composição escolhida para inaugurar essa nova fase do trio. Mais do que uma escolha aleatória, a faixa, completa pela produção de Sam Petts-Davies e as cordas da London Contemporary Orchestra, com quem os membros do Radiohead têm colaborado desde A Moon Shaped Pool (2016), sintetiza parte dos temas que orientam a formação do disco. São versos que tratam sobre a relação com a morte e as experiências humanas, porém, partindo de uma abordagem próxima do onírico. Um misto de realidade e ilusão que vai da poesia aos instrumentos.

Dessa forma, difícil não pensar em Wall Of Eyes como o trabalho mais psicodélico de Yorke e Greenwood desde os experimentos que culminaram nos vanguardistas Kid A (2000) e Amnesiac (2001). São criações que encolhem e crescem a todo instante, tratam da voz como um instrumento complementar e estabelecem no uso de texturas flutuantes a passagem para um cenário em pleno processo de desconstrução. A própria faixa-título do registro, posicionada na abertura do material, funciona como uma boa representação desse resultado. Instantes em que o trio parte de uma abordagem regular, flerta com o minimalismo da bossa nova, porém, aos poucos se perde em um labirinto de sons, diferentes frequências e sensações inebriantes.

É como se cada faixa servisse de passagem para um território completamente imprevisível. Em Read the Room, são as guitarras delirantes de Greenwood que se completam pelas vozes ecoadas de Yorke. Já em I Quit, um violão fragmentado se projeta como um inquietante componente percussivo, abrindo passagem para os versos que mais uma vez destacam o lirismo existencialista do registro. “Essa é minha parada / Esse é o fim da viagem“, canta o vocalista. Mesmo a já conhecida Bending Hectic ganha novo significado quando observada como um elemento de transição para o material entregue na derradeira You Know Me.

Claro que todas essas flutuações e diferentes mudanças de percurso em nenhum momento prejudicam a entrega de faixas que vão direto ao ponto, como uma extensão da urgência que move o repertório de A Light For Attracting Attention. É o caso de Under Our Pillows, música que replica a mesma estrutura de guitarra explícita em Thin Thing, porém, partindo de uma abordagem ainda mais complexa e detalhista, vide a relação com o krautrock nos minutos finais da canção. Vinda logo em sequência, Friend of a Friend é outra que, mesmo lenta, se projeta de forma bastante decidida, direcionamento que se completa pela letra puramente descritiva que trata sobre as experiências vividas por Yorke durante a pandemia de Covid-19.

Partindo desse esforço em preservar e sutilmente ampliar tudo aquilo que foi apresentado em A Light For Attracting Attention, Wall Of Eyes segue de onde o trio parou no trabalho anterior sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra repetitiva. Mesmo que traços do disco entregue há dois anos sejam notados durante toda a execução da obra, vide as guitarras excessivamente similares de Greenwood, o que se percebe é a passagem para um território criativo ainda mais fascinante e desafiador. Composições que seguem em um ritmo próprio, alternando entre momentos de contemplação, doce delírio e libertação que mais uma vez destacam a sensibilidade de cada integrante da banda durante toda a formação do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.