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Crítica

Tomberlin

: "I Don’t Know Who Needs To Hear This..."

Ano: 2022

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie, Folk

Para quem gosta de: Sharon Van Etten e Julien Baker

Ouça: Happy Accident e IDKWNTHT

8.0
8.0

Tomberlin: “I Don’t Know Who Needs To Hear This…”

Ano: 2022

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie, Folk

Para quem gosta de: Sharon Van Etten e Julien Baker

Ouça: Happy Accident e IDKWNTHT

/ Por: Cleber Facchi 11/05/2022

Existe uma diferença enorme no som produzido por Sarah Beth Tomberlin no introdutório At Weddings (2018) e as canções apresentadas em I Don’t Know Who Needs To Hear This… (2022, Saddle Creek). Se há quatro anos a cantora e compositora norte-americana parecia em busca de um material cada vez mais atmosférico, mergulhando na construção de faixas enevoadas que pareciam se desfazer nos ouvidos do público, com a chegada do presente álbum, o resultado é outro. São composições marcadas pela força das vozes e sentimentos arrebatadores, produto da força e permanente entrega sentimental da musicista.

Qual é o sentido disso se eu sei como termina?“, questiona na melancólica Happy Accident, música que sintetiza esse doloroso e sempre intenso processo de transformação vivido por Tomberlin. Enquanto os versos evidenciam a vulnerabilidade expressa pela artista (“E eu quero morrer quando você diz ‘não chore’ / Eu não vou desistir“), camadas de guitarras, batidas e ruídos ocasionais potencializam a forte carga emocional e dramaticidade da composição, ampliando os limites da obra. Um misto de dor e fino toque de libertação emocional, conceito que embala a experiência do ouvinte até os minutos finais do registro.

Mesmo quando desacelera e investe na construção de um repertório musicalmente contido, a dor que consome os versos permanece a mesma. “Deixei você sozinho ou fiz o meu melhor / Não regar um jardim que não queria viver / Havia sinais de vida, mas não era minha terra“, detalha na já conhecida Sunstruck, composição que se espalha em meio a movimentos contidos de violão, porém, guiada pela potência dos versos. São fragmentos sentimentais que partem das experiências vividas pela artista, porém, trabalhadas de forma a estreitar a relação com o ouvinte, conceito também explícito nas canções de At Weddings.

Embora aporte em novos territórios criativos, Tomberlin em nenhum momento se distancia do uso de temas acústicos e ambientações etéreas testadas durante o lançamento do trabalho anterior. Enquanto músicas como Stoned atravessam o disco em meio a blocos de ruídos, respiros ocasionais surgem de forma estratégica, confortando o ouvinte. Exemplo disso acontece na própria faixa de encerramento do registro, a delicada IDKWNTHT. São pianos cristalinos, sopros, violões labirínticos e vozes sobrepostas que se revelam ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa, como um mantra totalmente inebriante.

Dessa costura de ritmos e busca por novas possibilidades vem o estímulo para o fortalecimento da obra. Instantes em que a artista segue de onde parou no último registro autoral, porém, de forma ainda complexa e exploratória, detalhando sentimentos que buscam abrigo em estruturas marcadas pelo refinamento dos arranjos. Claro que esse avanço em estúdio não exime Tomberlin de uma série de problemas bastante aparentes, como a completa ausência de ritmo que marca a porção inicial do trabalho e excessiva timidez no uso de componentes sintéticos, como se a cantora não soubesse exatamente que direção seguir.

Ainda que oscile entre momentos de maior instabilidade e músicas bem resolvidas, I Don’t Know Who Needs To Hear This… mostra o esforço de Tomberlin em não apenas testar os próprios limites dentro de estúdio, efeito direto da co-produção de Philip Weinrobe (Big Thief, Damien Rice), como em mergulhar em questões sentimentais de forma ainda mais apurada. Tão logo tem início, em Easy, cada mínimo fragmento do disco parece pensado de forma a valorizar as narrativas intimistas propostas pela compositora. Um delicado exercício de exposição sentimental que amarra e conduz com sutileza a experiência do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.