Disco: “After the Disco”, Broken Bells

/ Por: Cleber Facchi 06/02/2014

Broken Bells
Indie/Alternative/Space Rock
http://www.brokenbells.com/

Por: Cleber Facchi

Broken Bells

Quatro anos depois de transformar o  Broken Bells em uma morada para experimentos controlados e doces melodias pop, James Mercer (The Shines) e Brian Burton (Danger Mouse) voltam a se encontrar no mesmo terreno cósmico-musical. Com os ouvidos mais uma vez apontados para a década de 1970, a dupla exclui qualquer traço de complexidade para fazer de After the Disco (2014, Columbia), segundo trabalho em parceria, uma verdadeira coleção de harmonias íntimas do ouvinte.

Muito mais pop que o disco que o antecede, o novo trabalho dança pelas harmonias de forma a fazer o público flutuar. Ainda que a soul music seja a fagulha para o crescimento do registro, é na coleção de temas vintage/futurísticos que o álbum realmente se projeta. Vocalizações atmosféricas, arranjos típicos de clássicos da Ficção Científica e um olhar para o espaço. Dentro desse conjunto de temas ora místicos, ora tecnológicos, toda a arquitetura do registro parece lançada, deixando para os versos de Mercer o esforço restante da obra.

Ainda que a estrutura Sci-Fi da obra – evidente no curta homônimo – sirva como mecanismo de transformação para o álbum, é na plena imposição do pop que o disco realmente se organiza e cresce. Logo de cara, as três primeiras composições do álbum potencializam todo o envolvimento de Mercer com o uso de tramas puramente comerciais. São versos pegajosos e sempre embalados pela homogeneidade instrumental do parceiro. Dessa forma, ao ecoar da última nota de Holding On For Life, terceira música do disco, a sensação de ter atravessado todo um disco inteiro é mais do que natural.

Por mais óbvio que isso possa parecer, After the Disco é uma perfeita divisão de todas as experiências anteriores de Mercer e Burton. Enquanto as melodias de vozes e letras facilmente encaixáveis reforçam a recente fase do The Shins, no disco Port Of Morrow (2012), a carga de referências nostálgicas espalhadas pela obra ecoa como uma típica assinatura de Danger Mouse. São aparelhos analógicos, instrumentos empoeirados da década 1970, além de um frescor típico da Soul music incorporada pelo produtor a cada álbum assinado.

Se por um lado o eixo inicial do disco se mantém entusiasmado e força a atenção do ouvinte, a partir de Lazy Wonderland, sétima canção do álbum, uma série de conceitos já executados voltam a se repetir. São as mesmas texturas espaciais, vozes letárgicas e conduções dançantes testadas na abertura do trabalho. Sobra até para que diversos elementos testados nos projetos paralelos sejam exaltados, caso de Medicine, uma típica canção do Gnarls Barkley, ou mesmo The Angel And The Fool, o tipo de faixa que poderia ser encontrada no lado B de um disco do The Shins.

Mais do que uma extensão do álbum lançado em 2010, After the Disco é um mecanismo fundamental para a construção de um universo próprio da dupla. Por mais explícita que seja a divisão de referências exaltadas por cada metade do projeto, o cruzamento de essências no meio do disco aos poucos revela um caminho particular e coeso. Assim, mesmo sem grandes transformações, o segundo álbum do Broken Bells garante ao ouvinte o necessário: canções simples, deliciosamente melódicas e com versos que colam sem qualquer dificuldade. E ninguém precisa mais do que isso.

 

Broken Bells

After the Disco (2014, Columbia)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: The Shins, Grouplove e Miike Snow
Ouça: Holding On For Life, Leave It Alone e Lazy Wonderland

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.