Disco: “New”, Paul McCartney

/ Por: Cleber Facchi 18/10/2013

Paul McCartney
British/Rock/Singer-Songwriter
http://www.paulmccartney.com/

Por: Cleber Facchi

Paul McCartney

Falar sobre Paul McCartney, ou qualquer outro artista que tenha alcançado o mesmo patamar do músico inglês, é como discutir religião. Há sempre alguém que se exalta, outros que se ofendem e sempre existe um indivíduo que tenta defender a própria crença. Entretanto, fugir de debates sobre o semi-deus da música pop/rock está longe de ser algo possível. Entre erros – vide o fraquíssimo Kisses on the Bottom (2012) – e acertos – da discografia na década de 1970 ao sombrio Chaos and Creation in the Backyard (2005) -, o ex-baixista dos Beatles está longe de se acomodar ou privar o público de possíveis discussões, algo que o recém-lançado New (2013, Hear Music) sustenta com um catálogo de novidades para além do próprio título.

Exemplar típico da mutabilidade que há décadas acompanha a obra do britânico, o presente disco naturalmente distancia o cantor da essência jazzística exposta no último ano, aproximando de forma clara McCartney das pistas. De fluidez propositalmente jovial, o álbum vai da entusiasmada faixa de abertura, Save Us, aos versos finais em um exercício atento de soar pop, sem parecer descartável. Ora íntimo dos mesmos sintetizadores que acompanharam David Bowie nos anos 1980, ora próximo do novo rock tramado nos anos 2000, o músico e o time de produtores que o observam parecem dançar pelas referências.

Diferente do que Nigel Godrich, velho parceiro do Radiohead, testou no álbum de 2005, puxando McCartney para um terreno sombrio e “experimental”, New está longe de parecer uma típica obra de produtor. Trata-se do bom e velho músico inglês, mais uma vez atento ao uso de melodias plásticas e letras essencialmente harmônicas, mas que agora se permite provar de pequenas experiências musicais. Dos sintetizadores caricatos de Mark Ronson, aos típicos condensados pop de Paul Epworth, os produtores convidados temperam com atenção a obra do veterano. Nada de interferências exageradas ou mudanças bruscas, apenas uma nova peça de roupa, um pouco mais colorida e menos séria.

Sem parecer um aproveitador, McCartney caminha pelo disco com uma postura de quem sabe exatamente o que está fazendo, afinal, nada é encarado de forma musicalmente gratuita. Basta observar o cruzamento entre o velho (nos versos) e novo (nos instrumentos) cantor em Looking At Her, uma das canções mais atentas da obra, para entender quais os rumos da presente fase. É como se toda a essência do músico se mantivesse, apenas desenvolvida em um jogo de experiências (quase) inéditas, indo dos teclados em Queenie Eye ao uso de uma bateria eletrônica em Appreciate. É preciso observar que todas essas preferências instrumentais já foram testadas antes – vide a passagem do músico pelo The Fireman -, entretanto, nunca de forma tão coesa e natural quanto agora.

Claro que a busca por um cenário de novas possibilidades não exclui o britânico de resgatar diversas referências particulares. Enquanto Early Days, ainda na metade inicial do trabalho, reforça o detalhamento dos violões – um efeito típico dos trabalhos lançados na década de 1970 -, outras como On My Way To Work e Everybody Out There flutuam entre o passado e o presente. Mesmo I Can Bet, típica canção arquitetada para o novo disco, não consegue se esquivar de uma série de conceitos que há tempos acompanham o cantor, principalmente a forma como os vocais e o refrão são harmonicamente aproveitados. Novos ou velhos ouvintes, de fato, ninguém tem do que reclamar.

O que talvez se manifesta como um ponto “desmotivador” em New é saber que pouco do recente álbum será aproveitado em um futuro lançamento do músico. Basta observar os últimos trabalhos de McCartney para perceber o quanto o intencional dinamismo do britânico por vezes o distancia de uma nova identidade, tropeçando vez ou outra, como os ainda “recentes” Memory Almost Full (2007) e Kisses on the Bottom (2012) revelam. Por ora, há apenas um sentimento de aviso, como se longe de viver do passado, o cantor ainda tivesse muito a oferecer. E como tem.

 

Paul McCartney

New (2013, Hear Music)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: David Bowie, Mark Ronson e Kaiser Chiefs
Ouça: Save Us, New e Looking At Her

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.